O Dr. Mário Nunes, 65 anos, é Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia de Penela.
No campo social é ainda Assessor para a Comunicação da Previdência Portuguesa.
Vereador responsável pelo pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra.
Foi o impulsionador da Feira da Solidariedade, realizada em Coimbra e com 2.ª edição já garantida.
Solidariedade - Porquê uma "Feira da Solidariedade"?
Mário Nunes - Por vários motivos. Pretendemos, fundamentalmente, dar visibilidade ao trabalho realizado nas IPSS pelos seus utentes, idosos, jovens, deficientes. Essa visibilidade acrescida gera estímulos importantes para as pessoas prosseguirem o seu trabalho.
Solidariedade - Um balanço positivo, então…
Mário Nunes - Muito positivo, tanto na frequência, com milhares de visitas, como nas vendas. As pessoas da região de Coimbra aderiram muito bem, comprando pinturas, encadernações, trapos, artesanato, um sem-
-número de artigos. Positivo também na adesão das IPSS, estiveram à volta de 70 representações.
Solidariedade - Experiência a repetir?
Mário Nunes - Sem dúvida. Já estamos a preparar uma segunda edição. É importante mostrarmos a quem não conhece a realidade das IPSS que os tempos são outros, que há evolução, que acompanhamos os novos tempos. As pessoas não são para colocar num armazém, à espera da morte, antes possibilitar-lhes formação permanente, mostrar que continuam a ser úteis à sociedade.
Hoje já não é o tempo dos mendigos irem de casa em casa pedindo esmola, ou de irem às misericórdias para estas lhes darem o caldo e alguma roupa. Isso deixou de existir com o 25 de Abril, a sociedade portuguesa evoluiu de tal forma que já não é possível uma regressão. Hoje as pessoas com dificuldades são vistas como seres humanos com direitos, e não pobrezinhos estendendo a mão à caridade.
Solidariedade - É assessor para a Comunicação da Previdência Portuguesa. O movimento mutualista tem-se ressentido com uma maior atenção e penetração das companhias de seguros na área da poupança/reforma e dos seguros de vida?
Mário Nunes - Há um confronto com as companhias de seguros, isso é verdade. Mas como nós não perseguimos o lucro, as vantagens dos nossos associados são maiores. Note que existem 120 associações mutualistas no país, abrangendo perto de 800.000 associados, a quem é oferecido um vasto leque de serviços: farmácias, hospitais, centros de dia, postos médicos, etc.
Solidariedade - Ou seja, o movimento mutualista tem força, está aí para durar…
Mário Nunes - Está em força. No período salazarista foi muito cerceado, porque se temia a concorrência com as Caixas de Previdência. Conquistadas que estão a Liberdade e a Igualdade, lutamos, no movimento mutualista como noutros sectores, pela Solidariedade. A tríade da Revolução Francesa…
Solidariedade - O mesmo princípio vale para as misericórdias…
Mário Nunes - Naturalmente. No entanto, estas têm um papel muito diferente do movimento mutualista. Nas misercórdias vamos ao encontro do Homem mas na sua abrangência, ajudando o outro nas suas necessidades imediatas. E respeitando-o sempre muito.
O conceito de caridade é hoje pejorativo, passou a Solidariedade. Que se pratica no apoio domiciliário, na parte assistencial hospitalar, em muitos campos. Na Misericórdia de Penela temos um Centro de Dia espectacular, servindo cerca de 70 pessoas. Temos o apoio domiciliário, a assistência hospitalar, vamos avançar com o ATL e também com um Jardim de Infância. E na parte cultural dispomos de uma biblioteca riquíssima, espaço aberto à fruição de todos, de todas as idades. É um espaço aberto à comunidade.
Solidariedade - O Dr. Mário Nunes é vereador da Câmara Municipal de Coimbra, eleito nas listas do PSD. Este partido esteve contra o Rendimento Mínimo Garantido, hoje Rendimento Social de Inserção…
Mário Nunes - É verdade o que refere, permita-me apenas que precise que integrei as listas na minha qualidade de independente. Para mim o Rendimento Mínimo Garantido foi uma medida boa, uma medida positiva. Notei isso sobretudo nas aldeias, com os mais necessitados dispondo agora de um pecúlio para administrarem e assim poderem viver com dignidade.
Data de introdução: 2004-12-01