PROF. MANUEL DOMINGOS, PRESIDENTE DA UDIPSS DE VIANA DO CASTELO:

Temos que saber descentralizar, responsabilizando

SOLIDARIEDADE - Quantas instituições se encontram filiadas na UDIPSS de Viana do Castelo?
Manuel Domingos -
Entre 40 a 45, para um total de 120 existentes no distrito.

SOLIDARIEDADE - Um número exíguo, se comparado com outras UDIPSS...
Manuel Domingos -
Há uma explicação para tal facto. Muitas estão ligadas a Centros Sociais Paroquiais, ainda não formalizaram de jure a sua inscrição, mas de facto é como se o fossem. E, nas 120, incluímos as Misericórdias que, como se sabe, têm uma estrutura de representação própria.

SOLIDARIEDADE - Podendo também inscrever-se numa UDIPSS...
Manuel Domingos
- Sem dúvida. Temos 2 ou três filiadas na nossa União. Posso dizer-lhe que a convivência com as Misericórdias é a mais salutar possível.

SOLIDARIEDADE - Materializada em quê, por exemplo?
Manuel Domingos
- Desde logo, nas reuniões com o Centro Distrital de Segurança Social. É costume concertarmos posições previamente a esses encontros.

SOLIDARIEDADE - Voltando às IPSS não filiadas. Não é injusto para as que optaram pela filiação verificarem que há outras, não filiadas, mas com o mesmo tratamento?
Manuel Domingos
- É verdade que as não filiadas participam nas reuniões, nas nossas acções de formação. Não é nossa forma de estar pressionar ninguém a aderir ao que quer que seja. Terão que ser os responsáveis dessas IPSS a perceberem que não devem aligeirar as suas responsabilidades, delegando noutros a representação dos seus interesses. O nosso discurso segue uma lógica muito precisa e muito firme: semear exigências para colher qualidade.

SOLIDARIEDADE - O distrito tem uma boa cobertura de IPSS?
Manuel Domingos
- Sem dúvida. Em todos os concelhos podemos encontrar respostas sociais, desde a infância à terceira idade. No campo da deficiência, a instituição a que presido, a APPACDM, responde às necessidades de 650 utentes, através de 38 centros espalhados pelo distrito. Os serviços que prestamos vão desde a mesa de parto do hospital até ao momento em que o sino de uma qualquer ermida anuncia o passamento de algum utente nosso. Estimulação precoce, jardim de infância, emprego protegido, lazer e tempos livres, cobrimos uma área de actividades bastante vasta.

SOLIDARIEDADE - Ao que sabemos, a APPACDM é já a quinta maior empregadora do distrito...
Manuel Domingos
- É verdade. Somos a quinta maior empresa do distrito em número de trabalhadores, rondando as 450 pessoas. A seguir ao Hospital, aos Estaleiros, à Câmara Municipal de Viana do Castelo e a uma fábrica de calçado, a francesa Mephisto, surgimos nós. À frente da Portucel, por exemplo. Respondemos às necessidades de 650 utentes. Se multiplicarmos o número de utentes e o de funcionários por três - para ficcionarmos o impacto junto dos agregados familiares -, diremos que, da nossa actividade dependerão à vontade umas cinco mil pessoas. E isto porque importa também atender aos postos de trabalho indirectos, à repercussão que a nossa actividade tem junto dos sectores comercial e industrial do distrito.

SOLIDARIEDADE - Notei que chamou "empresa" à instituição que dirige, assim, sem qualquer rebuço...
Manuel Domingos
- Os números que acabei de lhe referir a que é que nos obrigam? A vivermos no amadorismo? De maneira nenhuma. Temos que ser profissionais a cem por cento. O profissionalismo não põe de parte o voluntariado, mas não se pode confundir com amadorismo, porque o tempo do amadorismo já passou. Quem nos procura anseia e exige o melhor possível para os seus entes queridos, e compadece-se pouco com desculpas. Acompanhando o Padre José Maia, não retirando sequer a pintinha do "i" à palavra Solidariedade, temos que ser verdadeiramente profissionais no desempenho desta nobre missão. A tutela, a Segurança Social exige aos dirigentes, que são voluntários, metas verdadeiramente profissionais. Não nos exigem a apresentação de contas devidamente organizadas, assinadas por um TOC, por um Técnico Oficial de Contas?
O que é isto, se não uma lógica empresarial? Do que falamos, para onde queremos ir quando aceitamos o desafio da qualidade e da certificação? Queremos entrar na senda do profissionalismo, da exigência, do rigor.

SOLIDARIEDADE - É esse um dos grandes desafios das IPSS?
Manuel Domingos
- Sem dúvida alguma. O outro grande desafio passa pelo entrosamento com a comunidade envolvente. O mal de muitas IPSS reside no facto de se fecharem num casulo, de olharem apenas para os 40 ou 50 utentes que têm, e que tratam muitíssimo bem. Só que isso não chega, ou já não chega. Não podemos viver numa ilha, fazer da nossa instituição uma ilha. Uma instituição, ou é inclusiva ou não é instituição.

SOLIDARIEDADE - É essa a prática comum da maior parte das instituições?
Manuel Domingos
- Não. Acontece pouco. Infelizmente prevalece a lógica dos dirigentes voltados para o seu umbigo. Devia valer aqui a afirmação do saudoso Padre Américo: "se cada comunidade entendesse e enquadrasse os seus pobres não haveria pobreza em Portugal". Transpondo esta máxima para os nossos dias, diremos que hoje, o tempo é das parcerias, também de uma redefinição das territorialidades. Trabalhar em parceria não é fácil. Há uma dificuldade enorme em conseguir chamar as instituições, sentá-las à mesma mesa. E não me refiro apenas às IPSS mas a todos os parceiros institucionais, as juntas de freguesia, as autarquias, os órgãos da administração pública.
E sabe porquê? Porque, em Portugal, quando se pensa num projecto, pensa--se naquilo que lá podemos ir buscar. E isso não é lógica de parceria nenhuma! Trabalhar em parceria é ver o que é que podemos levar para o projecto, qual será o nosso valor acrescentado, o que podemos oferecer ao projecto para o enriquecer e mais tarde poder receber algo em troca. Nalguns casos daremos muito para ser usufruído por terceiros e pouco por nós; noutros, seremos nós os maiores beneficiados.

SOLIDARIEDADE - Olhando para a realidade portuguesa, não parece desafio fácil...
Manuel Domingos
- É um desafio muito grande, conseguirmos impor esta cultura. Desafio enorme por causa da mentalidade do povo português, isso é verdade. Muitos dos nossos dirigentes ainda não perceberam que isto é apenas um serviço! Não perceberam que a renovação é necessária, e renovação não apenas na idade. A renovação é uma batalha para ser vencida a vários níveis, desde logo no plano cultural, no plano das mentalidades, no plano da gestão das nossas IPSS. Temos que saber descentralizar, responsabilizando. Temos que conseguir motivar cada vez mais todos os que trabalham connosco. Só com gente devidamente motivada seremos capazes de vencer os desafios que temos pela frente. Temos que avaliar o desempenho, com regras bem claras, deixar de dar cobertura ao laissez faire, laissez passer. Aceitar e fomentar mesmo sermos auditados com regularidade, os contributos de um olhar crítico do exterior são bem vindos quando de boa fé.

SOLIDARIEDADE - Tentar a excelência para conseguir o bom...
Manuel Domingos
- Exacto. Para conseguir bons resultados tenho que nivelar sempre por cima, exigir sempre cada vez mais, porque é sempre possível fazermos mais, fazendo-o melhor. Importa perceber que as instituições já não servem, ou não devem servir para armazenar incapacidades, antes para desenvolver, para potenciar capacidades.

SOLIDARIEDADE - Temos um novo governo, um novo Ministro da Segurança Social. Conhece-o? Nutre boas expectativas em relação ao seu desempenho?
Manuel Domingos
- Conheço-o bem, privei várias vezes com ele, não apenas enquanto Secretário de Estado, mas também no exercício das funções de deputado da oposição.
As minhas expectativas são altíssimas. Acho que irá desempenhar as suas funções numa lógica de corresponsabilidade com a sociedade civil. Foi essa a lógica, a dinâmica das Novas Fronteiras. O Sr. Ministro sabe que, ao nível do social temos muito para dar, e o governo terá muito a lucrar se nos olhar com novos olhos. Estou convencido de que vai ser assim. Se tal não acontecer, cá estaremos também para defendermos as nossas posições com todo o vigor.

 

Data de introdução: 2005-04-27



















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