CSP DE BARBEITA, MONÇÃO

Clínica geriátrica é o passo seguinte

Na secular casa paroquial de Barbeita, uma obra mandada fazer em 1691 pelo Abade Manoel Maciel, começou a funcionar a 7 de Setembro de 1998 o Centro Paroquial e Social, depois de uma remodelação iniciada seis anos antes e que incidiu, essencialmente, sobre a cozinha, o refeitório, a lavandaria, o salão, o átrio e ainda nove quartos para o lar e que permitiu a uma das raras instituições de Monção que não está instalada na sede de concelho, iniciar actividade com as valências de Centro de Dia, Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) e Estrutura Residencial para Idosos.
“Sonhava fazer uma coisa boa, mas não tão grande, porque não tínhamos terreno”, começa por recordar o grande mentor e impulsionador e desde sempre presidente do Centro Paroquial e Social de Barbeita, padre Américo Alves, explicando: “Tivemos muitas dificuldades em adquirir o terreno, houve muitas oposições e as pessoas dos terrenos queriam vendê-los a peso de ouro. Gastámos um balúrdio ainda em moeda antiga e o primeiro terreno custou-nos cerca de 12 mil contos [60 mil euros]”.
A instituição cresceu ao longo do tempo, não apenas em termos físicos mas também nas respostas à comunidade, dedicando-se igualmente, desde 2006, à área da primeira infância. Hoje, o Centro Paroquial de Barbeita acolhe em Centro de Dia uma média de 20 utentes, em Lar Residencial 48 idosos, no Centro de Noite, instalado em Bela, seis utentes, no Centro de Convívio Augusto Esteves, em Troviscoso, 12 seniores e através do SAD apoia 35 idosos, sendo que tem apenas 29 contratualizados com a Segurança Social.
No ano de 2006, a instituição inaugurou a Creche Arco-Íris, onde acolhe 33 bebés, dos quatro aos 36 meses.
“Sempre pensei que a melhor coisinha é juntar crianças e velhos… E era uma necessidade, porque havia muita gente a trabalhar, tinham emprego, tinham crianças e não as podiam deixar com os velhotes, pelo que isso fez-nos avançar. E quando surgiu era a segunda creche do concelho”, sublinha o padre Américo, que relembra algumas dificuldades iniciais: “Naquele tempo tivemos grande dificuldade, porque a creche não era conhecida, mas com o tempo foi-se dando a conhecer pelo bom trabalho prestado e vem gente de Melgaço e Valença deixar aqui os filhos. A creche teve sempre crianças e está no limite da lotação”.
Olhando para os 15 anos de vida da instituição, o pároco de Barbeita está satisfeito e considera que há um ciclo de crescimento a fechar-se.
“A pouco e pouco fomos crescendo, fizemos um projecto pelo PIDDAC para nove quartos em Lar, mas não dava rendimento e, então, fizemos mais 10 quartos e depois ainda mais quatro e por fim este alargamento maior, que nos coloca com 48 quartos. Isto ao longo de 15 anos, mas agora acabou. Curiosamente, agora temos terreno, mas parámos”, afirma, relembrando ainda o alargamento em termos de respostas que a instituição também tem realizado.
Para além de dois equipamentos fora de Barbeita, o Centro Paroquial fornece 40 refeições por dia na Cantina Social, uma necessidade emergente a que a instituição dá resposta.
“Era mesmo uma necessidade… Na altura não via isso, mas agora é-me evidente, porque há muitos pobres envergonhados. Ainda há gente que não se alimenta como deve de ser e que eu já abordei, mas que não querem ajuda, porque pensam que isto é só para gente pobre… Isto é para toda a gente, é para quem precisa! E os que pensam assim, muitas vezes são os que mais precisam. Pensam que vir ao Centro ou à Cantina Social é ser miserável e não querem mostrar-se. E isto é um problema grave”, alerta o padre Américo Alves, enfatizando: “Por exemplo, tem crescido muito o fenómeno da solidão entre os mais velhos na nossa região, sobretudo com esta crise… Os filhos de novo partiram e deixaram os velhotes”.
Esta preocupação esteve sempre presente no crescimento da instituição, pois é dessa forma que surge o Centro de Noite de Bela e o Centro de Convívio Augusto Esteves, em Troviscoso, freguesias vizinhas, para além do aumento das demais valências para a terceira idade.
Mesmo assim, e findas as obras de ampliação, a instituição tem as contas equilibradas e de saúde.
“A obra acabou há um ano e está tudo pago. Temos ainda uns compromissos com uma quinta que adquirirmos, mas pensamos que dentro de seis, sete meses conseguimos liquidá-la. São cerca de 120 mil euros que se deve, mas vamos liquidar esse valor o mais breve possível”, afiança o padre Américo, que acusa o Estado de não cumprir o seu papel de forma eficiente, acabando por condicionar as receitas das instituições: “Esta casa tem um lema: quem tem paga, quem não tem não paga. Embora a Segurança Social seja muito limitada, porque há gente que pode pagar e não paga, porque foge ao Fisco. E competia à Segurança Social ver isso, mas ela só vê aquilo que está no caminho e que é o que outros fazem e trabalham e eles não se importam… Há muita gente que está aqui por uma bagatela quando podiam e deviam pagar três, quatro e cinco vezes mais. Segundo as normas da Segurança Social deviam pagar isso, mas os dados que temos na mão são falsos e não podemos aumentá-los. Competia às entidades superiores averiguar… Por isso é que o nosso País está nesta crise toda”.
Por outro lado, e importante para a saúde financeira da instituição e para o seu crescimento são as doações que ainda vão acontecendo pelo Alto Minho raiano, como conta o padre Américo Alves: “Temos aqui bastantes pessoas que doaram ao Centro Paroquial, ou porque não tinham família ou até alguns com família e foram os próprios familiares que fizeram as doações à instituição. Temos o caso do Centro de Noite da Bela que foi uma senhora e o irmão, que está em França, que deixou a casa e todos os restantes bens, quer dela quer dele, ao Centro Paroquial. Tivemos uma senhora que deixou uns campos e ainda uma mãe e um filho de Valença que também deixaram tudo o que tinham à instituição, como o apartamento no centro da cidade e dinheiro”.
Já em Troviscoso, o benemérito Augusto Esteves dá nome ao Centro de Convívio que a instituição foi desafiada a dinamizar, como relata o director-técnico João Oliveira: “Esse benemérito deixou à Junta de Freguesia de Troviscoso um grande património, uma ou outra casa e essencialmente dinheiro, mas com a condição de que esse dinheiro fosse investido na área social e cultural da freguesia. A Junta requalificou a escola primária e atribuiu um espaço dos três existentes a outras tantas instituições. Duas de Troviscoso e convidou-nos para dinamizar a área social. Após uma avaliação das necessidades concluímos que o Centro de Convívio era o ideal, porque o horário de funcionamento era mais ajustado e ia ao encontro do que era necessário na freguesia”.
Apesar de afirmar que as obras pararam, o padre Américo continua a olhar para o futuro com determinação.
“Temos um projecto para uma residência geriátrica que vai ser implantada na quinta, mas que será privada. Será à parte do Centro, porque a Segurança Social não colabora e os acordos são cortados, pelo que vamos fazer uma coisa à parte. Não será do Centro Paroquial, mas será uma entidade ligada à paróquia, ou seja, a Comissão de Fábrica da Igreja… E pensamos que a residência privada poderá indirectamente ajudar o Centro Paroquial”, defende o padre Américo, que pretende rentabilizar ao máximo a quinta de 14 mil metros quadrados, entretanto, adquirida e de onde já provém muita riqueza para a instituição.
“Neste momento temos lá uma plantação de Alvarinho, que está à razão de oito mil quilos/ano. Estamos a pensar vender três lotes, porque a quinta está muito bem situada, e dessa venda arranjar dinheiro para pagar as obras da residência”, revela, pormenorizando as mais-valias da exploração agro-pecuária: “Na Quinta temos a plantação de Alvarinho, mas temos ainda 18 ovelhas e muitas galinhas, tudo para a cozinha do Centro Paroquial. E temos ainda campos que cultivamos, alguns nossos e outros de que nos são cedidos, onde plantamos batatas. Tiramos cerca de 25 toneladas por ano e não chega para as necessidades que temos na cozinha. Plantamos hortaliça, tomate e feijão e mesmo assim não chega, porque são muitas refeições por dia que esta casa serve”.
O investimento na quinta está a dar frutos, poupando recursos à instituição pelos produtos agro-pecuários que produz e pecuniários que rende, mas também abrindo novas perspectivas tendo em vista a sustentabilidade da mesma e ainda a resposta a necessidades da comunidade.

IDOSOS 24

Um dos projectos mais recentes do Centro Paroquial e Social de Barbeita é o Idosos 24, um programa de tele-assistência, desenvolvido há três anos em parceria com mais três instituições sociais.
“Somos quatro instituições que fizemos uma candidatura à SIC Esperança que foi aprovada e agora estamos a implementar esse projecto. Abrange o concelho de Monção todo e, neste momento, serve cerca de 30 utilizadores. O projecto tem três anos e a gestão do programa vai rodando pelas quatro instituições, sendo que este ano é aqui o Centro a fazê-lo”, conta João Oliveira, director-técnico do Centro de Barbeita, acrescentando: “E agora estamos a tentar dinamizá-lo e alargá-lo. O projecto surge para combater a realidade de cada vez mais idosos ficarem sozinhos em casa, porque a geração seguinte vê-se obrigada a emigrar. E há situações em que não é possível as pessoas ficarem sozinhas em casa”.
Na visão de João Oliveira esta realidade acarreta mais necessidades a que a instituição deve dar resposta, mas nem sempre é fácil.
“Isto é uma pescadinha de rabo na boca, porque não pode ficar em casa e tem que ir para o Lar, mas no Lar não há vaga e, por isso, tem que ficar em casa e é necessário arranjar condições para a pessoa ficar em casa… E o que vamos fazendo é tentar suavizar esse problema”, defende o técnico da instituição, que sublinha as diferentes maneiras de pais e filhos olharem para as respostas sociais da instituição: “Os idosos preferem o SAD, mas os filhos preferem o Lar. A geração idosa do momento olha para o Lar como o local onde se vai morrer e tem uma visão muito negativa dos lares, que já não são simples depósitos de velhos como antigamente”.
João Oliveira sustenta que “esta visão está a alterar-se”, deixando um alerta suavizado com algum humor: “E digo mais, como a pirâmide etária está, dentro de anos temos que fechar a creche e fazer quartos para lar”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2014-05-20



















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