Há já algum tempo que o Iraque é palco de uma nova guerra. Quando as últimas tropas norte- americanas deixaram oficialmente este país, já lá vão tês anos, ninguém acreditou que os iraquianos iriam começar a viver um novo tempo de paz. As operações militares tinham acabado, mas o espírito de violência que tão profundamente marcara a sociedade durante os anos de guerra permanecia vivo, à espera de qualquer pretexto para explodir. E esse espírito explodiu mesmo, protagonizado embora por novos actores. A luta contra o estrangeiro, invasor e infiel, deu lugar a uma guerra civil feroz, despoletada por um grupo fanático de sunitas comprometidos com a destruição do actual governo xiita do país e com a fundação de um novo estado que já tem nome, e cujo território se estende até dentro da Síria. É o Estado Islâmico do Iraque e Levante, designado pela sigla EIIL, ou ISIS no acrónimo inglês.
Apegados ao grande princípio da democracia, segundo o qual o poder só tem uma fonte - as de eleições - os americanos tiveram de permitir que os seus grandes inimigos no Iraque, os xiitas, assumissem a governação do país, porque, sendo a etnia maioritária, venceram as eleições: as legislativas e as presidenciais. No período que mediou até à retirada definitiva das suas tropas, tudo fizeram para que os novos governantes do Iraque pudessem usufruir de condições suficientes para garantir a ordem e a estabilidade social do país. Era claro, no entanto, que isso não iria acontecer. O presidente xiita, Al Malik, não soube ou não foi capaz de dividir o poder entre as diversas comunidades com a prudência e a diplomacia indispensáveis. A comunidade sunita, habituada a usufruir e a controlar esse poder durante o consulado ditatorial de Sadam, sentia-se injustiçada, e não escondia o seu sentimento de revolta contra os novos senhores de Bagdad.
Foi relativamente fácil à Al Qaeda, mesmo numa situação de fragilidade decorrente do desaparecimento do seu fundador, aprofundar a sua intervenção no Iraque. Isto, até ao momento em que o seu braço armado no país, a Frente Al Nusra, decidiu pôr em causa a liderança do sucessor de Bin Laden, o egípcio Al Zawari. Aquele grupo reivindicou para si a responsabilidade de dirigir uma verdadeira djihad, cujo grau de militância e de violência ultrapassaria os níveis de qualquer “guerra santa”. Os seus comandantes fazem questão de publicitar os êxitos que vão alcançando, a um ritmo que surpreende e põe em causa as alianças tradicionalmente em vigor no Médio Oriente. Assim, os sinais de aproximação entre os Estados Unidos e o Irão começam a gerar sentimentos de desconfiança na Arábia Saudita e podem ter efeitos inesperados.
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