São conhecidas na região as tradicionais festas em Albergaria dos Doze em honra de S. Pedro. “Festas centenárias, segundo dizem os mais antigos”, mas o que se calhar poucos sabem é que o Centro Social local nasceu precisamente desses festejos, como conta Fernando Neves, presidente da Associação Centro Social do S. Pedro: “As festas eram realizadas anualmente por um grupo de mordomos escolhidos entre a população. Fiz a festa como mordomo em 1988/89, mas a partir daí houve muita dificuldade em arranjar mordomos. Então, em 1991, um grupo de pessoas começou a pensar em dar um caminho aos lucros da festa, para que não se fizesse a festa apenas por fazer, mas com um objetivo”.
É assim que nasce a única instituição de solidariedade social de Albergaria dos Doze, que tem “nas atribuições estatutárias fazer anualmente as Festas de S. Pedro e os proveitos financeiros gerados serem aplicados no Centro Social”, relata Fernando Neves e revela: “A Festa durante muitos anos foi uma grande fonte de receita. Hoje continua a ser, mas em menor escala”.
Então, esse grupo de albergarienses estudou em que é que uma futura instituição poderia ser mais útil à população.
“Verificámos que a terra era carenciada em termos de apoios sociais, nomeadamente para a população idosa. Já várias tentativas tinham sido feitas para constituir uma instituição deste género, mas foi a partir das Festas de S. Pedro que foi fundado o Centro Social de S. Pedro, em 9 de março de 1992”.
Assinale-se que durante 90 anos (1923-2013) Albergaria dos Doze foi freguesia. Hoje já não é, estando em processo de agregação com S. Simão de Litém (outrora a sede de freguesia) e Santiago de Litém, o que conferia à localidade uma identidade autárquica, sendo que, antes deste processo, contava com 1.765 habitantes, pelo Censos de 2011.
Mãos à obra e “o objetivo primeiro era construir um Centro de Dia, que arrancou em 1996”. Ainda nesse ano começou a funcionar apoio domiciliário “às pessoas mais carenciadas da freguesia” em instalações que cedidas por dois conterrâneos.
“Fazíamos a comida num lado e o tratamento da roupa noutro. Numa primeira fase beneficiámos do apoio do Centro de Dia João Costa da Fonseca, de Santiago de Litém, que confecionava, numa primeira fase, as refeições e nós tínhamos uma casa para tratamento de roupa. Depois passámos para a cozinha da nossa cozinheira”, recorda o presidente, explicando a ampliação com a área residencial: “Quando o Centro de Dia começou a funcionar, construído com o apoio do PIDDAC, candidatámo-nos à construção do Lar de Idosos. O objetivo era também beneficiar das infra-estruturas existentes, como a lavandaria, a cozinha, a sala de atividades… Estávamos em 1998 e conseguimos ser contemplados pelo Programa PILAR. Iniciámos a construção e inaugurámos o Lar e o Centro de Dia no mesmo dia, 22 de setembro de 2002”.
Só que aí surgiu o primeiro grande obstáculo: “Aconteceu uma coisa engraçada, é que nesse mesmo dia soubemos que o Lar não iria funcionar porque não tinha Acordo de Cooperação. Tivemos o Lar equipado e pronto a funcionar desde setembro de 2002 até julho de 2003, quando finalmente entrou em funcionamento. E começou logo a funcionar lotado, mas com as camas protocoladas”.
Mais tarde, e perante as limitações físicas e a vasta lista de espera, a instituição candidatou-se ao Programa PARES, com o objetivo de ampliar o Lar e construir uma Creche.
“Percebemos claramente que as 25 camas não satisfaziam as necessidades da população idosa, pois o SAD já não era suficiente e há pessoas que necessitam do nosso apoio à noite”, explica Fernando Neves, contando: “Fomos contemplados com a Creche, mas não com a ampliação do Lar. Já estávamos a construir a creche e voltámos a candidatar o Lar, desta feita ao POPH, mas não fomos novamente contemplados”.
Apesar dos desaires sofridos com as anteriores candidaturas, os dirigentes do Centro Social do S. Pedro não esmorecem na vontade de ampliarem o Lar.
“O projeto está aí, está aprovado pela Câmara Municipal e pela Segurança Social e está à espera de uma próxima oportunidade. É um projeto pendente”, afirma o presidente da Direção, argumentando: “O alargamento do Lar seria para mais 15 camas. O projeto está feito, o terreno está aqui... A Creche quando foi construída já foi de forma a deixar espaço para o alargamento do Lar, que é uma necessidade urgente e premente… para ontem. Temos uma lista de espera de cerca de 60 pessoas. Todos os nossos utentes de Centro de Dia e do SAD são potenciais candidatos a uma vaga no Lar. Temos aí pessoas há cinco e seis anos à espera de vaga”.
Nos dias que correm, o Centro Social do S. Pedro acolhe em Lar 25 idosos, mais 15 em Centro de Dia e 33 no SAD, enquanto a «Creche Pedrinho» alberga 16 petizes, empregando a instituição no total 34 colaboradores e ainda um médico, dois enfermeiros e um terapeuta em tempo parcial.
Sem poder avançar para a ampliação do Lar, a instituição investiu no melhoramento e alargamento do equipamento existente, unindo com áreas cobertas o edifício do Centro de Dia ao do Lar.
“Fizemos uma cozinha com o triplo da área, um refeitório em que duplicámos a área, uma nova sala de atividades, arrumações, criámos uma ligação fechada entre os dois edifícios e instalámos um elevador. Todas estas obras foram suportadas na íntegra pela instituição, com o apoio da Câmara Municipal de Pombal”, descreve Fernando Neves, explicando que para tal foi necessário recorrer ao crédito bancário. Mesmo assim, as finanças da instituição mantêm-se equilibradas.
“A saúde financeira da instituição foi sempre positiva. Financeiramente a instituição nunca teve problemas. Assumimos sempre os nossos compromissos a tempo e horas, as nossas contas foram sempre aprovadas pelas entidades que nos tutelam e nunca tivemos fortes problemas de dinheiro, a não ser quando construímos o Lar e a verba não chegou… Aí andámos um ano e tal a patinar, mas depois lá conseguimos mais um subsídio da Segurança Social, equilibrámos as contas e temos andado bem. No final da construção da creche continuávamos com as contas equilibradas, porque a parte que nos coube suportar foi conseguida. Quando arriscámos fazer as obras de remodelação e ampliação do Centro de Dia, e dado que não houve cobertura de qualquer programa oficial, assumimos a expensas próprias e fizemos um crédito bancário”.
Isto levanta alguns problemas, pois há uma dívida para saldar, mas o presidente da instituição não perde o sono por isso, visto a situação estar a ser gerida “com mestria”.
“Neste momento, a saúde financeira da instituição está alterada apenas porque temos um crédito bancário para pagar. A Câmara Municipal deu uma ajuda para fazermos isto, mas se não têm sido estas obras, a saúde financeira da instituição era excelente e recomendava-se. Agora temos essa verba para pagar, porque pedimos 100 mil euros ao banco. Porém, tendo em conta o que vamos ouvindo que se passa por aí, até este crédito temos gerido com mestria”, assegura.
No entanto, o crescimento da instituição está, para já, limitado. No entanto a Direção mantém-se atenta e se surgir a oportunidade ela será agarrada.
“Relativamente a projetos ficamos por aqui, mas, mesmo com este crédito por pagar, se abrir um programa no âmbito da Segurança Social que apoie a construção do Lar, vamos lá, porque é necessário, temos um projeto aprovado, temos terreno e temos vontade”, sustenta Fernando Neves, frisando: “E, por outro lado, temos uma capacidade de risco que sempre deu resultados e avançaremos assim que abrir um programa. Agora a expensas próprias nem pensar, porque enquanto tivermos este crédito por saldar não podemos”.
Mesmo assim, a Direção tem um “sonho”, que passa pela construção de uma sala de fisioterapia e uma piscina.
“A piscina não lhe chamaria um objetivo, mas uma meta a longo prazo, pois seria pensar demasiado grande neste momento. Porém, a sala de fisioterapia tem que ser a médio-prazo, porque é uma necessidade. Os nossos utentes, principalmente os do Lar, são cada vez mais dependentes”.
Zona de forte emigração, o território vai envelhecendo e a pobreza vai surgindo.
“Temos aqui casos de pobreza extrema. Temos gente que viveu bem a vida toda, casos de gente com algumas reformas de França, muitas delas não declaradas e não há mecanismos de controlar isso, casos muito carenciados e outros em que as reformas já fazem falta aos filhos. Por exemplo, aqui na instituição temos dívidas de utentes. Começamos a ter um problema que nunca tínhamos tido que é o de gente que não paga a mensalidade a tempo e horas e até casos de gente que faleceu e deixou dívida”, contextualiza, recordando casos de grande indiferença para com os mais velhos: “Das camas protocoladas com a Segurança Social, temos aqui casos de abandono familiar completo e são pessoas do distrito. Já algumas vezes assistimos a pessoas enviadas pela Segurança Social que nem na hora da morte são procuradas pelos familiares”.
E como seria Albergaria dos Doze? Fernando Neves começa por dizer que já muitas vezes fez a pergunta a si mesmo e responde: “Durante muito tempo não houve e não se dava pela falta, mas atualmente não consigo ver Albergaria dos Doze sem o Centro Social. Não consigo imaginar esta população que cuidamos diariamente sem o Centro Social. Por outro lado, também não consigo entender o território sem uma instituição deste género. É tanta a envolvência… Por exemplo, somos a maior entidade empregadora da antiga freguesia. É muito mau sinal o Centro Social ser a maior entidade empregadora! Não consigo ver esta terra sem a instituição, porque faz falta e já não passava sem ela. Alguns dos nossos utentes já teriam falecido, por certo. Não tenho dúvida de que o lema que adotámos há uns anos «Dar mais vida aos anos e dar mais anos à vida» funciona na plenitude para muitos deles. Demos qualidade de vida a muitos idosos e prolongámos-lhes o tempo de vida precisamente em função dessa qualidade. Depois, esta instituição está hoje intrinsecamente ligada à terra e esta já não pode viver sem ela, até pela dinâmica que a instituição imprime à própria terra”.
Se tudo isto não bastasse, ou seja dar o pão (no sentido lato) a quem precisa, o Centro Social do S. Pedro também faz a festa… do seu patrono.
Em jeito de fecho histórico, de referir apenas que conta a estória que Albergaria dos Doze foi buscar o nome ao facto de ser uma terra de passagem, onde os viajantes procuravam albergue. E foi nos tempos de D. Afonso Henriques que ali foi criada uma albergaria, por ordem da rainha. A dúvida paira sobre se foi Dª Mafalda (a de Arouca) ou a sua avó Dª Mafalda, esposa do Conquistador. Estava-se qualquer coisa pelos anos 70, do século XII.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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