Na sua génese está uma opção política deliberada da autarquia de Castelo de Paiva em dotar a Sardoura de uma instituição de cariz social. Corria o ano de 1997 quando tudo começou, dois anos volvidos era constituída a Comissão Instaladora, liderada por José António Rocha, atual presidente da instituição, e no ano 2000 inicia atividade, ainda apenas com a valência de Prolongamento Escolar. Contudo, foi quando a desgraça assolou a freguesia que a instituição ganhou ímpeto, não mais parando de crescer. Ano de 2001 dá-se a queda da ponte de Entre-os-Rios, que liga este concelho ao de Castelo de Paiva, com muitas das vítimas mortais a serem da freguesia de Santa Maria de Sardoura.
Sem relação direta, na verdade foi a partir deste trágico acidente que o Centro Social de Santa Maria de Sardoura.
“Houve um primeiro ano muito difícil, em que queríamos avançar com as valências, mas apenas conseguimos arrancar com o Prolongamento Escolar, que é uma resposta de apoio às famílias e que funcionou nas antigas instalações de uma escola primária”, começa por recordar José António Rocha, continuando: “O grande arranque dá-se com a queda da ponte, altura em que conseguimos o registo da associação e passámos a poder estabelecer os primeiros acordos de cooperação para as diversas valências, como ATL, Centro de Dia, SAD e outras”.
Ainda na fase de instalação, a Câmara adquiriu um terreno e um edifício, onde agora está edificado o Centro Social e funciona grande parte da ação social da instituição, tendo, posteriormente, já constituída a associação, sido cedida em regime de comodato por 50 anos. Depois disso, já foi convertido em direito de superfície.
Mas as particularidades do território e da comunidade que a atividade do Centro Social abrange levou os seus responsáveis a apostar na vertente da Formação Profissional como forma de promover a inclusão social.
“Paralelamente a toda essa área mais tipificada de respostas sociais, fizemos uma grande aposta na formação profissional, numa matriz muito virada para a inclusão de grupos desfavorecidos. A partir daí, a instituição foi crescendo e ganhando dimensão”, sublinha o presidente, recordando algum do trabalho já desenvolvido: “De facto, para além das áreas da infância e da terceira idade, houve aqui uma aposta muito grande na formação profissional, com um trabalho muito forte na área da inclusão. O nosso primeiro projeto, em 2001, já na sequência da queda da ponte, era iminentemente voltado para combater a exclusão. Nesse ano tínhamos formação sobre o euro voltada para a população idosa e que foi um princípio para outras valências… Diagnóstico social, gabinete de psicologia, formação profissional, o Centro de Recursos para a escolas do 1º Ciclo. Foi um projeto atípico, mas foi o princípio de muitas outras coisas. Entretanto, já fizemos centenas de projetos, mas este foi o primeiro que nos deu embalagem para os demais”.
No seguimento desta aposta formativa e o facto de as ações de formação terem dimensão concelhia conduziu a instituição até um público que em Castelo de Paiva estava muito necessitado, o dos portadores de deficiência.
“A questão da deficiência surge nesta aposta da inclusão e, quando falamos de inclusão de grupos desfavorecidos, falamos de população idosa, pessoas que recebem o RSI e portadores de deficiência. Em 2005, realizámos o projeto Incluir, em que tivemos atipicamente valências para a deficiência. Foi mesmo criado um CODI (Centro Ocupacional para Deficientes Incluir) e, apesar de estarmos situados em Sardoura, rapidamente tivemos uma abrangência concelhia. Estes projetos alargaram-se facilmente ao concelho”, destaca José António Rocha, referindo que o CODI foi o projeto com que o Centro Social iniciou o seu trabalho direto com pessoas com deficiência/incapacidade, ainda numa escola que a instituição reabilitou.
Mas foi a conclusão que os dirigentes retiraram desse primeiro projeto que os fez avançar ainda mais determinados: “Constatámos que, ao nível das pessoas com deficiência, havia muitas necessidades e muitas insuficiências. A primeira coisa que constatámos é que havia apenas um CAO em Castelo de Paiva, percebendo-se, logo aí, que havia muito a fazer nessa área”.
“O grande boom”, como lhe chama José António Rocha, na resposta à área da deficiência deu-se com a formação da Tipologia 6.2 e 6.4 do POPH, em 2008, e a realização do “primeiro projeto de formação profissional, em áreas como agricultura, jardinagem e outras”.
A isto, o tesoureiro António Rocha acrescenta: “Hoje temos 100 formandos com deficiência nas nossas ações de formação. O que representa 10 vezes mais do que o número que a Segurança Social tem protocolado para Castelo de Paiva”.
Para além desta centena nesta vertente, há ainda a Formação Inicial (com cerca de 20 formandos), Formação Contínua (150/200), Grupos Desfavorecidos (30), para Técnicos de Reabilitação Profissional (200/300), que ministramos mesmo fora do concelho, e ainda a Formação EFA. Aliás, a formação é ministrada no edifício sede da instituição, mas igualmente descentralizada por outros locais do concelho.
“Ainda temos margens escassas de integração profissional, mas o que verificamos é que ultrapassadas as fases da formação e de acesso aos serviços há indivíduos com grande potencial”, afirma o presidente, ao que o tesoureiro acrescenta dizendo que a taxa de inclusão, comparativamente às do Centro de Emprego de Penafiel, a quem reportam, “é muito boa”. Para além disso, a própria instituição já acolheu alguns formandos no seu quadro de pessoal.
Uma outra vertente a que o Centro Social está atento passa pelo desenvolvimento da economia local e nesse capítulo também a instituição tem sido um pilar.
Santa Maria de Sardoura tem pouco mais de 2500 habitantes, segundo o Censos de 2011, sendo que a freguesia tem vindo a perder população de uma forma acentuada nas últimas três décadas. E por isso ainda se torna mais importante o papel da IPSS.
“Estas instituições da Economia Social implantadas nestas zonas fixam gente e jovens na terra. Muitos destes 130 trabalhadores são jovens e fazem os seus projetos de vida aqui, para além de que dinamiza a economia local. Não fosse o Centro Social e esta freguesia seria muito mais desertificada e envelhecida e até o próprio concelho. A aposta na Economia Social é um dos fatores que fixa as pessoas pelo território. E, apesar de haver uma diminuição da população, a nossa creche, desde que abriu, nunca teve vagas por preencher”, revela José António Rocha, logo corroborado pelo tesoureiro: “Só em gasóleo a instituição gasta cerca de seis mil euros/mês, o que dinamiza também a economia local. E em agregados familiares onde não há nenhum rendimento, o pouco que seja de uma bolsa de formação acaba por ser também estímulo para a economia local, onde por ano a instituição, em entregas diretas aos formandos, coloca cerca de 500 mil euros”.
Apesar de nunca ter havido avaliações quantitativas do impacto que a formação tem na economia local, os dirigentes do CSSMS estão convictos “que o território tem beneficiado bastante das ações de formação”.
E se a região tem beneficiado da ação do Centro Social, este tem crescido e, apesar do investimento na construção do Lar de idosos e da Creche, as contas mantêm-se “equilibradas”.
“Com as nossas dificuldades, temos as contas em dia, apesar de termos um compromisso muito grande, que estamos a cumprir, que vem da construção do Lar. Tivemos que fazer um empréstimo de 750 mil euros, que estamos a pagar e do qual já abatemos 150 mil euros”, revela o presidente.
Por seu turno, António Rocha faz questão de sublinhar que, “desde que abriu portas, o Centro Social nunca apresentou resultados negativos e todo o lucro social que possa existir é reinvestido na melhoria dos equipamentos e dos serviços”.
Quanto ao futuro, projetos e ambição existem, até porque em meados de dezembro há eleições para os órgão sociais, sendo que a atual Direção é candidata.
“Uma das nossas apostas para o novo mandato é o alargamento do Lar, que claramente foi uma aposta de sucesso e temos uma lista de espera muito grande. Somos muito procurados por gente fora do concelho. A forma como foi conduzida a criação da resposta, a qualidade do equipamento e do serviço e o marketing que fizemos ajudaram bastante à adesão e procura desse serviço”, afirma o presidente recandidato, remetendo, de imediato, para um outro grande projeto, mas este “já de presente”: “Juntamente com o Centro Social de Couto Mineiro e outros cooperantes privados, formámos uma cooperativa, a Cooperatipaiva, em que cada um dos centros sociais tem 45% do capital social. Tem sede na Quinta de S. Pedro, no centro da vila de Castelo de Paiva, onde existe um hotel com sete hectares de terreno em volta. Conseguimos que o Hotel S. Pedro não encerrasse e, neste momento, o nosso Centro de Reabilitação Profissional, onde trabalhamos com os formandos da área da deficiência, funciona nessa quinta. É um projeto único no distrito de Aveiro”.
Para além do serviço de alojamento, o espaço alugado tem um parque aventura, um campo de paintball e ainda um vasto terreno para cultivo. O Hotel funciona no âmbito da Cooperatipaiva, mas a formação é apenas pertença do Centro Social de Santa Maria de Sardoura, funcionando nuns anexos entretanto requalificados especificamente para a formação.
“A vertente comercial do Hotel S. Pedro é complexa e estamos a tentar dinamizá-la, mas tem demorado algum tempo à sua consolidação, porque com apenas 12 quartos e sustentar-se apenas com o aluguer de quartos não é fácil”, argumenta o presidente, referindo que muito do terreno já está a ser cultivado, precisamente, no âmbito do Centro de Reabilitação Profissional.
“Pensamos no futuro reabilitar todo este edifício mais antigo aqui na sede para a área dos idosos. Nesses edifícios funcionam as respostas à infância, com exceção da creche, mas, no futuro, poderá haver a possibilidade de fazer a requalificação do edifício para ampliar o Lar. Gostaríamos ainda muito de construir um auditório, pois não temos um espaço para reunir cerca de 100 pessoas, mas necessitávamos de financiamento. Vamos apostar no Centro de Reabilitação Profissional e gostaríamos de reabilitar e ampliar a cozinha mãe da instituição”, acrescenta ainda José António Rocha, revelando que por dia a instituição confeciona cerca de 500 refeições.
A terminar, o presidente confessa: “E temos um sonho… que é comprar o Hotel”.
VALÊNCIAS
O Centro Social de Santa Maria de Sardoura (CSSMS), para além de toda a vertente de Formação Profissional, tem respostas sociais de Creche (34 utentes), ATL (50), Prolongamento Escolar (60), ERPI (28), SAD (72), Cantina Social (100 refeições/dia) e FEAC (10 famílias), dinamizando ainda um projeto de oficinas tradicionais. Labora com um quadro de 130 funcionários.
No seguimento de um trabalho já desenvolvido ao longo dos anos, o CSSMS apresentou no mês passado um estudo pioneiro no concelho de Castelo de Paiva, denominado «Integrar para Incluir», em que, no âmbito da Tipologia 6.2 do POPH, desenvolveu um estudo/diagnóstico com uma amostra de 400 indivíduos portadores de deficiências e/ou incapacidades.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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