Nasceu no papel em 1995, com a aprovação dos estatutos, mas foi apenas 11 anos depois que a Cediara – Associação Centro de Dia de Ribeira de Fráguas, no concelho de Albergaria-a-Velha, iniciou atividade, com a abertura de um Centro de Convívio em instalações provisórias cedidas no Centro Pastoral de Santa Ana.
Dois anos volvidos, em outubro de 2008, a instituição mudou-se para instalações próprias onde à resposta inicial de Centro de Convívio se juntaram todas as outras, à exceção da Saúde Mental para a qual só estabeleceu acordo de cooperação em 2014.
No momento presente, a instituição oferece resposta de Creche (24 crianças), de Centro de Dia (45 utentes), de Centro de Convívio (26), de SAD (26) e de Saúde Mental (10), para além de nas férias escolares promover campos de férias para as crianças em idade escolar da freguesia de Ribeira de Fráguas.
Prémio Instituição de Referência na Promoção do Envelhecimento Ativo, em 2012, e Prémio Socialgest para Melhor Instituição, em 2013, a Cediara realiza um trabalho inovador junto dos idosos que acolhe, sempre com o enfoque no envelhecimento ativo e na intergeracionalidade.
“Desde o primeiro momento que a nossa preocupação é a promoção do envelhecimento ativo e nesse sentido temos desenvolvido várias atividades que o facilitam e promovem”, refere Susana Henriques, diretora-técnica da instituição.
Para melhor alcançar os objetivos traçados, a equipa técnica da Cediara deu asas à imaginação e, perante a falta de instrumentos que facilitassem a sua prossecução, deitaram mãos à obra e criaram-nos de raiz. É assim que nascem os jogos e materiais de reabilitação geriátrica, como as Roletas da Memória ou os Bingos Seniores.
Mas comecemos pelo princípio… “Desde há muito que vamos promovendo convívios interinstitucionais, todas as semanas recebemos instituições que nos vêm visitar e com as quais promovemos diversas atividades, mas como notávamos que os utentes do Centro de Dia apresentavam já alguns níveis de dependência, essencialmente do foro cognitivo, percebemos que as atividades que tínhamos não eram suficientes para capacitar os utentes e que precisávamos de investir mais na parte da reabilitação”, começa por contar Susana Henriques, prosseguindo: “Em 2011 fizemos uma candidatura ao PRODER, intitulada «Caminhar pela sua saúde», com a qual conseguimos equipar um espaço de fisioterapia para facilitar a estimulação motora dos nossos utentes. Esta questão estava resolvida, mas mantinha-se a da estimulação intelectual e cognitiva. Decidimos, então, desenvolver um trabalho interno, a nível da equipa técnica, e começámos a construir materiais inovadores de acordo com as necessidades de cada utente. Como não existia nada no mercado, ou muito pouca coisa, para a estimulação cognitiva, começámos nós a construí-las. Fizemos vários trabalhos com o intuito da estimulação cognitiva e começámos pela orientação espácio-temporal. Criámos alguns quadros de orientação, não apenas para os utentes do Centro de Dia, mas também para os do SAD, e depois alguns jogos. Começámos por fazer umas roletas, inicialmente em cartolina, mas apercebemo-nos que eram um pouco viciantes e sedentárias, na medida em que não davam para mudar os números nem as equações, e pensámos em avançar para umas que fossem mais dinâmicas. Criámos, então, as Roletas da Memória, que através da empresa Replicar Social também estamos a comercializar, e a partir daí temos feito um conjunto de materiais até para o treino das AIVD (Atividades Instrumentais da Vida Diária) e das AVD (Atividades da Vida Diária)”.
Para Susana Henriques, a mentora dos jogos, estes são fundamentais para a reabilitação dos idosos, porque estes “quando são institucionalizados perdem muita capacidade de gestão, pelo que estes materiais são ótimos para fazer o treino das Atividades Instrumentais da Vida Diária”.
Para as AVD, a instituição utiliza “alguns pufos e almofadas para fazer treino de motricidade fina, destreza manual e tonicidade, tudo coisas fundamentais para a autonomia dos utentes no dia-a-dia e para as quais não há materiais de suporte”, pelo que a instituição teve que os criar.
Ultrapassados estes dois obstáculos, os responsáveis pela instituição tinham o desafio da estimulação sensorial, “que é tão importante como a estimulação física e a cognitiva, pois é através dos cinco sentidos que as pessoas comunicam com o exterior”.
Então, começaram por estimular os utentes com alguns tapetes, texturas e outros materiais que criaram na instituição e, com apoio externo, adquiriram material snoezelen, tendo criado uma sala de reabilitação neurológica.
“Em termos de reabilitação os nossos objetivos estão concretizados, se bem que a Cediara é muito empreendedora e tem sempre novas ideias e muita coisa na forja, mas há outra coisa muito importante para nós que é a interação social”, destaca a diretora-técnica, revelando um vasto programa de atividades que a instituição gere e promove e que integra outras instituições de diversos pontos do País: “A Cediara é responsável por dinamizar muitos convívios interinstitucionais e ao longo do ano vamos fazendo vários. Começa em abril ou maio com as Olimpíadas Seniores, em que utentes de outras instituições são desafiados a disputar de uma forma saudável os jogos a concurso; no princípio de junho temos sempre o concurso Miss & Mister Sénior, um exercício de muita criatividade, com várias categorias a concurso como Simpatia, Atitude, Boa Forma e as 1ª e 2ª damas de honor. O júri é sempre composto por elementos das nossas entidades parceiras, um elemento da estética, outro da moda e uma figura pública, normalmente um cantor. Temos ainda o concurso «O Meu Ídolo», em que o objetivo é cada instituição representar um ídolo, e a Festa do Mundo, em que cada instituição representa um país e no final há sempre um lanche partilhado em que cada instituição traz um produto do país que está a representar. No final do ano temos ainda a Arca de Noé, dado que os nossos utentes têm fortes raízes religiosas e a Arca de Noé facilita a representação real da Bíblia”.
Apesar de a instituição estar, essencialmente, voltada para a terceira idade, também dá resposta de creche, “por necessidade da freguesia”, podendo assim melhor promover a intergeracionalidade, outro dos eixos da sua atividade.
“Apesar de a instituição ter um trabalho muito focado na terceira idade, todos acabam por comungar deste espírito. Em termos da instituição, há um forte convívio intergeracional. A Cediara, através de um prémio da Missão Sorriso, «Pequenos corações, grandes movimentos», lançou um projeto na área da infância, em que o objetivo é a construção de um parque infantil, não só para os nossos utentes da creche, mas também para a comunidade. Esta é uma freguesia bastante envelhecida e rural e muitas das crianças acabam por ter apoio dos avós. O que acontece é que quando entram no 1º Ciclo o nível de desenvolvimento não é comparável ao das crianças que frequentaram o jardim-de-infância. Compete-nos a nós sensibilizar os familiares da necessidade de, primeiro, criar algumas rotinas às crianças e, depois, de haver alguma estimulação intelectual e maior competitividade na interação com os seus pares, o que é muito importante”.
Mas este trabalho entre a instituição e o exterior não se fica por aqui, sendo que os projetos de intergeracionalidade não se restringem aos meninos de creche, que têm atividades semanais fixas, mas também com outras entidades escolares.
“Temos três projetos muito interessantes e ambiciosos com o Colégio de Albergaria: o «Gerações com Vida», em que cada idoso tem um aluno do 6º Ano com o qual se corresponde por carta; o «Young Volun Team», em parceira com o Colégio e a CGD, e que é um projeto de voluntariado com jovens do 11º ano, em que nós sinalizamos o sonhos dos nossos utentes e depois os jovens equacionam a forma de os realizar; e ainda o «Senhores Sabedoria», que já vem de 2007 e em que os nossos utentes vão às escolas dar aulas de história e de cidadania, muitas vezes contadas na primeira pessoa”.
Quanto ao futuro, o presidente da Cediara, Albino Silva, fala de “um projeto de intenções para a construção de um lar, que está a começar a mexer”, mas “as dificuldades económicas não o permitem e só através de uma qualquer candidatura será possível atingir esse objetivo”, sustenta, acrescentando: “Para uma parte dos idosos o lar é uma necessidade, até porque já há idosos desta comunidade que estão em lares fora do concelho, pelo que se justifica perfeitamente a construção de um lar para que possamos manter as pessoas no seu ambiente natural”.
O sonho e desejo é antigo e corresponde a uma necessidade real, mas, para já, esbarra nos constrangimentos financeiros.
“A nossa situação económico-financeira não é boa, mas vamos lutando e sobrevivendo dia-a-dia com dificuldades. Felizmente temos pessoas que colaboram connosco. A nível de donativos não somos muito bafejados na medida em que as pessoas da freguesia têm poucos recursos. Em termos financeiros é um bocado difícil, mas temos amigos e padrinhos que nos têm ajudado”.
Por outro lado, “para além do plano de atividades interno, temos também um plano de atividades comunitário, em que todos os anos definimos um conjunto de ações e eventos para a angariação de fundos e aí contamos com o esforço da nossa equipa, que é muito dedicada e que tem sido uma grande ajuda para conseguirmos alcançar os nossos objetivos sociais”, sublinha Susana Henriques, que revela ainda outros projetos que pretendem desenvolver na instituição: “Vamos avançar com um projeto da Wiiterapi, com a Nintendo, que nos concedeu o papel de instituição-piloto no País para desenvolvermos esta terapia. Depois, queremos alargar todos estes projetos de intergeracionalidade, pelo que estamos à espera da resposta a uma candidatura que fizemos à REN no âmbito do Prémio de Envelhecimento Ativo. Para além deste, temos ainda um outro projeto-piloto, ainda em fase embrionária, no âmbito da Neuróbica”.
E como seria Ribeira de Fráguas sem a Cediara? Albino Silva tem resposta pronta: “Seria mais pobre, porque, neste momento, para além do serviço necessário que presta à comunidade, é a entidade que mais emprega na freguesia. Depois, seria a falta de resposta às pessoas com necessidades, essencialmente, as mais idosas. Por outro lado, temos combatido a desertificação e a saída de casais jovens da freguesia, especialmente com a creche”.
Quando o SOLIDARIEDADE visitou a Cediara decorria na sala de convívio uma encenação do programa televisivo «O Preço Certo», onde uma colaboradora desempenhava o papel de Fernando Mendes, devidamente engordada para o efeito com almofadas, e os utentes, tal qual os concorrentes, se empenhavam em acertar o preço dos produtos e onde nem faltava uma recheada montra final, onde figurava, entre outros artigos, um automóvel (em segunda mão!) e uma viagem à Madeira… Tudo a fingir, mas que serve para os utentes se manterem despertos para a atualidade e para as mais diversas AVD.
ROLETAS E BINGOS
“As Roletas da Memória surgiram como um instrumento de estimulação cognitiva sobre três temáticas, através dos quais o utente reconhece determinadas funcionalidades e treina a parte linguística, o raciocínio, através do cálculo matemático, e depois a capacitação para autonomia e para as AVD”, explica a criadora Susana Henriques, prosseguindo: “Os Bingos Seniores são um instrumento de interação social, em que trabalhamos os sentidos e as reminiscências, através, por exemplo, do Bingo da Viagem ao Passado, onde é conduzida uma viagem à infância e mocidade do utente. Isto implica ainda alguma disputa saudável, através dos Bingos 1 e 2, em que os utentes têm que reconhecer alguns objetos através da identificação sonora”.
As Roletas da Memória são os preferidos dos utentes porque “eles notam que estão a adquirir capacidades que estavam perdidas e para eles é a valorização da autoestima e um reconhecimento de que lhes está a fazer bem”.
Os jogos já chegaram a diversas instituições nacionais e aos PALOP.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
Não há inqueritos válidos.