As últimas notícias referentes ao drama de todos aqueles que fogem dos seus países para a Europa, em busca de uma vida melhor, atingiram, durante o mês de Agosto, um dramatismo impossível de suportar. Em primeiro lugar, pelo número de vítimas provocadas pelas tentativas de fuga, por mar ou por terra, mas sobretudo por mar. O Mar Mediterrâneo transformou-se num grande cemitério onde jazem sepultados milhares de homens, mulheres e crianças que não chegaram a conhecer o “paraíso” que exploradores sem escrúpulos lhes prometeram, muitos deles oriundos de países distantes e obrigados a atravessar regiões tão perigosas como inóspitas. Em segundo lugar, pelas terríveis condições em que decorre essa fuga, mesmo quando esta se faz por terra. O que aconteceu há poucos dias na Áustria, num camião de carga, diz bem dos riscos a que se sujeitam esses fugitivos, mesmo por terra.
As notícias e as imagens dessas tragédias abalaram ainda mais os responsáveis políticos e a opinião pública internacional. Que isto não pode continuar, pensaram quase todos, e muitos deles o afirmaram, sobretudo na Europa. Mas como travar este processo, ao mesmo tempo irracional e desumano? Com mais uma Cimeira que se arrisca a ser tão ineficaz como a anterior? Afinal, a proposta de distribuição matemática dos refugiados pelos vários países europeus não saiu praticamente do papel. Com, o recurso a muros de arame ou de cimento a dificultar ou a impedir o salto para território europeu? Com a utilização de forças militares com se os refugiados fossem inimigos?
Nenhuma destas perguntas tem resposta fácil, sendo que as duas últimas são completamente impensáveis. A construção de muros e a utilização de forças militares para impedir a chegada de refugiados são incompatíveis com a imagem de uma Europa que se pretende fiel às suas origens e valores. Nesses aspecto, a resposta da chanceler alemã, Angela Merkel, aos movimentos extremistas que se têm vindo a fazer ouvir no seu país contra o acolhimento dos refugiados bem merece ser apontada como exemplo, mesmo que isso custe a quantos dela fizeram, mesmo em Portugal, o bode expiatório da crise por que passaram alguns países do sul da Europa.
É certo, no entanto, que a reacção da chanceler alemã não é suficiente, como não é suficiente, para responder ao desafio, o número de mais de oitocentos mil refugiados que a Alemanha se disponibiliza para receber.
É por estas e outras razões, que não falta quem pense que estamos perante um problema insolúvel
António José da Silva
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