ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Maria de Belém Roseira: Combate à pobreza infantil é prioridade

No encontro matinal de Fátima com os dirigentes da CNIS e de algumas IPSS de vários pontos do País, a candidata presidencial Maria de Belém Roseira revelou que tem como prioridade o combate à pobreza infantil e às assimetrias regionais, “duas causas com que o Setor Social Solidário muito se identifica”, como sublinhou o presidente da CNIS, padre Lino Maia.
“Quero dizer-vos que elegi como área prioritária da minha ação, se for eleita, o combate à pobreza infantil”, começou por dizer Maria de Belém Roseira, justificando: “Esta é uma realidade e hoje há ainda uma nova categoria de pobres que são os trabalhadores pobres. Estudos comprovam que as crianças que vão para a escola com fome têm a sua capacidade cognitiva comprometida. E se temos 23% das nossas crianças pobres, o que já ultrapassa a percentagem de idosos pobres, significa que não teremos um futuro risonho se não retirarmos estas crianças desta condição atrofiante e atrofiadora das suas capacidades. E, por isso, elegi esta área como aquela em que o Presidente da República tem que mobilizar vontades, tem que sensibilizar consciências e tem, sobretudo, que atrair pessoas para a nobreza de uma causa como esta, que não é uma causa individual, mas de envolvimento coletivo”.
Para a candidata, “estes são desafios importantes, porque são um bem comum e coletivo para termos pessoas que não são dependentes, mas pessoas autónomas e que contribuem para o desenvolvimento do País”.
Revelando ter escolhido para mandatário social da sua candidatura Castanheira Pinto, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros, a candidata afirmou ainda que, por força da importância que atribui ao Setor Social Solidário, pretende “dedicar muita atenção à correção das assimetrias regionais, porque temos muitas situações no País de desequilíbrio trágico e o Interior, de norte a sul, tem marcas específicas que é preciso combater”.
Sobre a importância do Setor Social Solidário, Maria de Belém Roseira lembrou que, “ao contrário de outros países, em Portugal a Economia Social tem reconhecimento constitucional, mas, apesar desse reconhecimento, muitas vezes é considerada uma área de terceira ou quarta categoria ou até, pura e simplesmente, ignorada”.
Para a candidata, que na primeira sondagem divulgada surgiu em segundo lugar nas intenções de voto, o Setor tem pouca visibilidade, porque “as pessoas, neste setor, dedicam-se aos mais frágeis e estes, na maior parte das vezes, estão longe das atenções dos meios de comunicação social”.

DAR VOZ A QUEM NÃO TEM VOZ

“Este é um setor onde muita gente dá o seu tempo benevolamente, ou seja, uma zona de grande integração de voluntários, e estes também não interessam porque não criam problemas e depois não fazem grandes ajuntamentos e grandes manifestações, isto é, não se dão a conhecer como hoje o mundo mediático aprecia para dar relevo às questões. Tudo isto conjugado é meio caminho andado para que me interesse por esta área”, sustentou, afirmando de seguida: “Acho que um dos papéis principais de um Presidente da República é dar visibilidade às coisas boas que não a têm, é dar voz a quem não tem voz e é chamar a atenção para o papel que estas instituições, mas também as outras que não integram a CNIS, têm desempenhado ao serviço da coesão social, sobretudo em épocas de crise e de forte fustigação dos mais fracos e em épocas em que se não tivesse sido a vossa atuação a vida de muitos milhares de portugueses teria sido bem mais difícil”.
Considerando que “esta é apenas uma pequena parte da importância deste Setor”, a candidata, recorrendo à sua experiência na área da Saúde, referiu “que há um momento para acudir, que é a emergência, e depois há uma segunda fase que é a de curar, ou seja, reconstruir a vida das pessoas”.
Neste sentido, Maria de Belém Roseira considera essencial o papel das instituições sociais.
“Há um papel específico para este Setor que é, simultaneamente, indispensável, por aquilo que faz, por aquilo que permite e por aquilo que atenua nas nossas vivências, pela mensagem que transmite de intergeracionalidade, porque vivemos numa época em que os velhos são considerados um desperdício e um peso social, o que é inadmissível, e também porque é uma forma de estar, em que a cooperação feita no respeito pelo outro e pela nossa casa comum, como lhe chamou o Papa Francisco, é absolutamente essencial”, defendeu, prosseguindo: “Portanto, esta é uma economia que não vive para enfraquecer outros, mas para os robustecer, sobretudo para robustecer aqueles que de outra maneira seriam completamente largados aos desfavores da vida. E é uma economia que sublinha toda a nossa dimensão enquanto pessoas e seres gregários que devem ajudar-se mutuamente, porque essa é uma forma de estar essencial para nós sobrevivermos àquilo que são os riscos de hoje”.

FORTALECER O SETOR SOCIAL

E por isso, para a candidata, é necessário agir e fortalecer o Setor Social Solidário.
“Muitas pessoas limitam-se a pensar bem e isso é muito confortável, mas não chega. O mais importante é fazer bem e isso é o que este Setor faz, principalmente, junto de pessoas que, para muita gente da nossa sociedade, são pessoas subalternas, são aqueles que não interessam”, critica, lembrando que a sua postura na política é bem clara: “Sempre fiz questão de estar na política com verdade, sem facciosismos e sem distorções da verdade. Esta é a melhor maneira de se estar e eu não sei estar de outra maneira”.
Sublinhando os seus 40 anos de vida pública e 20 de política, com diversas passagens por instituições do Setor Social, Maria de Belém Roseira considera-se preparada para os desafios que a Presidência da República lhe colocará.
“Se for eleita sei o que é preciso para o reforço, para o sublinhado e para a visibilidade da atuação destas pessoas e destas instituições”, garantiu, sustentando: “Sou uma grande defensora do Estado Social, que atenua e tem que atenuar e colmatar muitas das desigualdades que há à partida na sociedade”.
Lembrando que “a pobreza transforma as pessoas em escravas”, a candidata sustentou que é preciso ser “uma voz de denúncia dos abusos que têm sido cometidos pelas economias pública e privada”, sublinhando o papel fundamental das IPSS na reconstrução da vida das pessoas: “Este movimento enorme faz muito, faz muito bem o que faz, pode fazer de uma forma mais personalizada do que faria o Estado, independentemente de ter que contar com a subvenção do Estado, mas pode ainda fazer mais, sobretudo avaliando as boas práticas de muitas instituições e tentando replicá-las no sentido de investir numa época em que as competências de muita gente já não servem para o aparelho produtivo privado, e poder agarrar todas essas pessoas e fazer delas pessoas não dependentes de subsídios, mas pessoas que conseguem reconstruir um projeto de vida”.
Na próxima edição impressa do SOLIDARIEDADE daremos conta das questões colocadas pelas IPSS à candidata.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2015-11-23



















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