Nasceu no início dos anos 60 do século passado, mas foi em 1983 que assumiu a missão social que hoje desenvolve, acreditando os seus responsáveis que foi a “primeira IPSS a ter Serviço de Apoio Domiciliário no País”.
Aliás, de momento, essa ainda é a única resposta social que a Associação de Melhoramentos Pró-Outeiro (AMPO) tem, mas isso estás prestes a ser alterado. Mas já lá vamos…
Quando surgiu nos anos 60 do século XX, e como o próprio nome indica, a instituição do Outeiro, lugar da freguesia de Santiago de Riba-Ul, concelho de Oliveira de Azeméis, tinha outro propósito que não ainda a área social. Na altura era mais uma questão de infraestruturas.
“Um grupo de pessoas do Outeiro reuniu-se para conseguir uma série de infraestruturas que não existiam no lugar, nomeadamente, tanques e fontanários. Esse era o tipo de melhoramentos que a Associação, encabeçada por algumas individualidades da terra, fazia”, começa por contar Diamantino Nunes, presidente da instituição desde Dezembro de 2014, explicando: “O Outeiro é um lugar cuja população se orgulhava muito de estar sempre bem arranjado, as ruas estavam sempre limpas, as casas eram as melhores, tinha mais tanques e mais fontes e a Associação trabalhou sempre muito neste sentido”.
Mas com o advento da Democracia, em 1974, e do desenvolvimento do país e das autarquias locais, segue-se um período em que a Associação “parou no tempo”, porque, “a seguir ao 25 de Abril, deixou de fazer sentido este tipo de atividades”.
Então, em 1983, os dirigentes da AMPO decidem “que é preciso começar a tomar conta das pessoas de mais idade”.
É nessa altura que a instituição assume a resposta de SAD, hoje com cerca de 95 utentes, espalhados por todo o concelho de Oliveira de Azeméis e ainda de alguns lugares do concelho-vizinho de São João da Madeira.
Até há pouco tempo a instituição funcionava nuns pré-fabricados, espaço onde hoje, numas renovadas instalações propriedade da AMPO, funciona o ATL da Junta de Freguesia.
Logo em 1990 a instituição decide avançar para a construção de umas novas instalações, abraçando o sonho de criar um Centro de Dia. Mais tarde o projeto foi alterado e passou a integrar também um Lar de Idosos. Só que ao longo do tempo o projeto foi sendo remodelado e sofrendo grandes alterações.
O efetivo arranque das obras aconteceu apenas em 2007, tendo ainda estado paradas durante seis anos e diversos problemas de permeio.
“Esta obra foi tendo comparticipações de vários programas. Esta obra teve como primeiro orçamento 354 mil euros, o segundo de 517 mil euros e quando recebemos a obra em Dezembro já estavam aqui gastos um milhão e 317 mil euros”, revela Diamantino Nunes, que recusa comentar a gestão anterior: “Gostaria muito mais de falar do futuro do que do passado, porque posso estar a incriminar alguém e não quero. O passado não é bom de lembrar”.
O momento mais complicado na vida recente da instituição aconteceu em 2013 quando as carrinhas da instituição, elemento fundamental para a prestação do apoio domiciliário, foram penhoradas por dívidas ao construtor do novo edifício.
“Isto foi andando nas mãos de algumas Direções que foram fazendo o que podiam, até que começou a ficar numa situação muito degradante, tendo inclusive ficado com as viaturas bloqueadas em 2013. A Câmara Municipal, juntamente com mais algumas pessoas de cá, arranjou dinheiro para pagar, mas nada mudou. Ficou tudo na mesma, não se avaliou por que é que aquilo acontecera e ficou tudo na mesma”, lamenta o dirigente.
Insatisfeita com a situação, a comunidade movimentou-se no sentido de encontrar uma nova Direção, “que fosse mais proactiva, que olhasse e gerisse a instituição mais como uma empresa e não tanto como uma associação”.
Escolhida a nova equipa diretiva, em Dezembro de 2014, Diamantino Nunes assume os destinos da AMPO e, “desde então, as coisas mudaram”.
Uma dívida de 600 mil euros, os funcionários com dois subsídios em atraso, os fornecedores com atrasos de pagamento de mais de dois anos, “um ambiente social muito revoltado, sem haver ordem, nem controlo e sem haver uma avaliação do desempenho dos funcionários e dos serviços que prestavam” foi o que os novos dirigentes encontraram.
“Ao terceiro dia começámos a ver as contas e dissemos entre nós que nos tínhamos metido numa grande alhada”, lembra Diamantino Nunes, recordando as primeiras ações da nova Direção: “A primeira coisa que fizemos foi agradecer à Câmara por não ter deixado a instituição cair e às outras pessoas que emprestaram dinheiro à Associação e dizer-lhes que, apesar de no momento não termos dinheiro, iríamos ter. Depois, convocámos todos os fornecedores e renegociámos as dívidas, através de um plano de pagamentos ao longo de um ano. De seguida, começámos a estudar a forma de rentabilizar os serviços, atraindo mais clientes e fazendo com que os colaboradores fizessem mais e servissem melhor”. A este propósito, o presidente sublinha o facto de a instituição ter alargado os horários, passando a funcionar das 8h00 às 20h00, inclusive ao sábado e dentro em breve aos domingos também.
Para o novo presidente, a grande transformação que a AMPO sofreu foi no modo de gestão.
“Eu e a Direção somos uns gestores da casa, porque ela estava a precisar. O que quisemos transmitir foi que deixou de haver presidentes, entrou aqui uma equipa de gestão, cada um com o seu pelouro, que olha por esta instituição como por uma empresa. Esta instituição tem que dar lucro, tem dado lucro, e não pode dar prejuízo”, assegura, revelando: “Financeiramente, conseguimos resolver a situação em três meses. Depois disso começámos a fazer as obras para mudarmos isto. Chegámos à conclusão que não estávamos bem implantados”.
A chegada da nova Direção provocou uma verdadeira revolução na instituição, a começar, desde logo, pela organização do novo espaço físico.
“Todo o conceito do edifício foi invertido para o otimizar a sua utilização. Havia aqui grandes erros em termos de construção. Via-se, perfeitamente, que as pessoas que deram início à construção não tinham noção de gestão moderna, porque colocaram os escritórios em cima e todos os serviços em baixo”, sustenta Diamantino Nunes, justificando: “A ligação entre as funcionárias e a diretora-técnica estava a três pisos de distância. Isso não funciona. Precisámos de alterar toda esta organização e, assim, vamos instalar tudo o que são serviços no primeiro andar e aumentar o número de quartos para os andares de cima. Neste momento, estamos a mudar tudo o que são escritórios, receção, serviços (médico, cabeleireiro, lavandaria, etc.) para o andar de baixo e tudo o que são quartos serão nos dois andares de cima. Quando entrar em funcionamento a entrada será pelo andar de baixo, cujo acesso é por detrás do edifício, e não pela entrada que agora funciona cá em cima”.
O edifício inicialmente estava preparado para 16 camas, mas a nova Direção alterou para 25 camas, sendo que muito das obras que decorrem atualmente são precisamente para ampliar o equipamento para albergar as 25 camas.
Esta alteração é justificada pela necessidade de conseguir uma economia de escala, ou seja, “por uma questão de dar lucro ou dar prejuízo”.
“Com 16 camas iríamos, efetivamente, ter um prejuízo de cerca de 1.200 euros/mês e íamos cair onde estávamos antes e não estamos dispostos a isso”, assegura o presidente.
Avançar rapidamente com as obras para que algumas valências possam começar a funcionar e, assim, ajudar no financiamento da conclusão do projeto é agora o objetivo.
“Quando pegámos nisto houve um empréstimo de 101 mil euros do FRSS (Fundo de Restruturação do Setor Solidário), que a anterior Direção tinha solicitado, e que decidimos aplicar nas obras. Gastámos grande parte desse dinheiro, mas necessitamos de mais”, argumenta, explanando a intenção da Direção: “Temos duas possibilidades para concluir as obras, uma é através de algumas pessoas que já estão reformadas e que nos ajudam, mas isso demora e temos prazos a cumprir, ou concluímos o andar de baixo e pomo-lo a funcionar. Por isso, a Direção decidiu, com o voto favorável da Assembleia Geral, pedir um empréstimo de 250 mil euros para concluir as obras no andar de baixo. Se isso for conseguido, mais tardar a 15 de janeiro o piso de baixo fica pronto com uma nova receção com mais espaço, uma nova lavandaria – a atual está num edifício a 50 metros deste e não é funcional –, e o espaço já equipado com o mobiliário para o Centro de Dia, o Centro de Convívio e para o refeitório”.
Por outro lado, a instituição estabeleceu algumas parcerias, que estão também podem ajudar à concretização daquele objetivo.
“Entretanto, fizemos alguns negócios interessantes. Estabelecemos uma parceria com a Junta de Freguesia para dar refeição a todos os miúdos de Santiago de Riba-Ul, que são 260 por dia. Para além do ótimo serviço que estamos a prestar, conseguimos alguma margem, pelo que estamos convencidos que vamos pagar esse empréstimo ao fim de ano e meio de trabalho”, explica Diamantino Nunes.
Com o firme propósito de dentro de 10 anos a AMPO “ser uma das melhores instituições do País”, Diamantino Nunes revela alguns dos projetos que a instituição pretende materializar.
“Temos algumas ideias muito boas para apresentar uma candidatura ao Portugal 2020 para acabar as obras. Com esta candidatura o objetivo é terminar as obras com a construção, sobre a parte traseira do edifício, de oito T0, que teriam uma pequena copa e duas camas, onde pessoas ainda com autonomia poderiam ter mais alguma liberdade. No fundo seriam oito residências autónomas, um modelo que não existe por aqui. Pensamos, por cima do edifício onde hoje funciona a lavandaria, edificar um espaço para servir de sala de ginástica e de convívio, uma espécie de salão de festas, e pretendemos fazer uma outra coisa inovadora, aproveitando o espaço envolvente ao edifício, que é um jardim terapêutico. Estamos em negociação com a UTAD e Coimbra e a pedir apoio à Câmara Municipal”, adianta, fazendo uma ressalva: “Se não conseguirmos o financiamento do Portugal 2020 todo este projeto vai atrasar muito mais, mas o nosso objetivo é fazê-lo só que, provavelmente, sê-lo-á em seis ou sete anos. Mas não vamos deixar de ter iniciativas e de tentar juntar a população e os industriais a cooperarem connosco para conseguirmos concretizar o projeto”.
Para além disto, a nova Direção tem um outro projeto vanguardista e para o qual já solicitou a cooperação da Câmara Municipal.
“Dentro de alguns anos não haverá lares que cheguem para as necessidades e os governantes têm que criar condições para que as pessoas possam ficar cada vez mais tempo nas suas casas, mas para isso as pessoas têm que ter apoio e alguma companhia, que hoje não têm. Ora, é impossível arranjar uma companhia para cada idoso que está só em casa. Então, pensámos que se a Câmara, através do Portugal 2020, conseguir colocar wi-fi em todo o concelho, teremos internet em todo o concelho. Assim, o que pretendemos é instalar um sistema duplo, com uma central a funcionar 24 horas por dia, com pessoas qualificadas para o serviço e que vão falando com as pessoas e que estas vão vendo e, assim, não se sintam tão sozinhas”, explica Diamantino Nunes, que, face aos avanços tecnológicos, não vê dificuldades em encontrar-se os equipamentos que facilitem a utilização desta espécie de teleassistência dos tempos modernos por parte de idosos infoexcluídos.
“Penso que o futuro passará por aqui. É algo que vai demorar, mas penso que é uma ideia que tem pernas para andar”, afirma.
Com o processo de certificação da qualidade, pelo ISO 9000:2015, a decorrer e, de certa forma, já a refletir-se nas práticas da instituição, a Direção sustenta que no futuro também a valência de ATL deverá reverter para a instituição.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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