“Isto é muito bom, é um divertimento bom para a gente passar um bocado de tempo”, diz ao SOLIDARIEDADE, António dos Santos, 88 anos, utente do Centro Social Arco-Íris, Paradela (Águeda), um dos 750 idosos que, no pavilhão gimnodesportivo do Grupo Desportivo de Telhadela (Albergaria-a-Velha), participaram nas VI Olimpíadas Seniores, organizadas pela Cediara, IPSS sedeada na vizinha Ribeira de Fráguas.
De facto, o convívio é o grande motivo de entusiasmo para os idosos, pois, apesar de nem todos disputarem as provas, todos convivem, apoiam, incentivam e participam. A verdade é que a avaliar pelo som da música, pelo ruído das claques, pela energia e entusiasmo que se sentiam não parecia que dentro do pavilhão estavam pessoas com idades entre os 60 e muitos anos e os 90 e poucos.
“É um privilégio ter a casa cheia e perceber que as instituições estão, cada vez mais, conscientes da necessidade de promover o envelhecimento ativo, de estimular os seus utentes e de potenciar estes momentos de partilha e de convívio tão saudável entre instituições, onde todos crescemos e todos aprendemos”, refere Susana Henriques, diretora-técnica da Cediara, mentora e grande impulsionadora da iniciativa, sublinhando: “Os nossos utentes saem, sem dúvida, muito mais fortificados e motivados a dar continuidade a este seu percurso de vida”.
Depois de uma primeira edição apenas a nível concelhio, as Olimpíadas Seniores abriram-se, na segunda, ao distrito de Aveiro e à quarta edição acolhem IPSS de seis distritos (Aveiro, Coimbra, Viseu, Porto, Santarém e Leiria), reunindo um total de 750 idosos, em representação de 45 instituições, quando em 2015 foram 20 as IPSS participantes.
Para além de todo o convívio, as Olimpíadas Seniores consistem em seis jogos baseados em modalidades olímpicas e adaptados à condição dos idosos, como é o caso do boccia, bowling, curling adaptado, arcos nos pinos, percurso de obstáculos e bola ao cesto.
Estimular a mobilidade, o exercício físico e as capacidades cognitivas são alguns dos objetivos, mas a competição, tanto para os organizadores, como para os promotores, como ainda para os participantes é a parte menos importante, pois o que conta é a participação e o convívio.
“Estes jogos são a prova de que o facto de ser idoso não impede as pessoas de fazer nada”, sustenta Susana Henriques, que acrescenta: “Nós técnicos é que temos que ser criativos para conseguir adaptar as situações para que eles possam participar, mas nunca lhes limitar a participação. Infelizmente, ainda continua a haver muitas instituições que se dedicam ao sedentarismo, o que é muito violento para os seus utentes e não dignifica o ser idoso. Muitas vezes é mais cómodo ficarem na sua área de conforto e não participarem, mas essa mentalidade tem que acabar”.
Entre provas, almoço, animação pelo Rancho da Cerciag (Águeda) e pelo cançonetista Nel Monteiro, as Olimpíadas Seniores tornaram o dia 28 de Abril num dia muito especial para 750 idosos.
Os vencedores tiveram a honra de receber as distinções das mãos de Armando Aldegalega (atleta do Sporting) e Cristiano Roland (capitão da equipa de futebol do Beira-Mar), mas, como sublinha Susana Henriques, “não houve vencidos, pois os 750 seniores participantes foram todos campeões em diversão e interação”.
A verdade é que nem andarilhos, nem cadeiras de rodas, nem bengalas, nem artroses, nem outras maleitas que afetam quem já cá anda há muitos anos impediram estes seniores de mostrarem rapidez, flexibilidade, concentração, precisão e, acima de tudo, boa disposição e muita alegria. Aliás, houve um participante no Percurso de Obstáculos que é invisual, mas, com a ajuda de um técnico, nem esse handicap o impediu de realizar a prova, numa demonstração de que os limites não estão na idade ou na condição física.
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