Ano após ano, os homens vão construindo, com maior ou menor êxito, a história do mundo. Conscientes disso, e numa altura em que 2016 já passou, apetece perguntar se este terá sido um ano para esquecer ou para recordar. Referimo-nos, naturalmente, à história do mundo, independentemente da nossa história pessoal, embora uma não se possa separar totalmente da outra.
O ano de 2016 será para esquecer ou para recordar? A reposta a esta pergunta não será muito diferente das que demos noutras alturas, a propósito da chegada de um novo ano. Pensando em alguns dos anos que já passaram, parece que são fortes as razões para os recordar; pensando noutros, parecem em maior número os motivos para os esquecer, ou pelo menos para querer esquecer. O ano de 2016 pertencerá certamente a este grupo.
É verdade que, não obstante o agravamento das relações entre a Rússia e os Estados Unidos em 2016, não sofremos os horrores nem estivemos muito perto de uma terceira guerra mundial, que é sempre a mais temida das ameaças que pesam sobre a Humanidade. Mas no ano que terminou, muitos povos conheceram os efeitos de conflitos que, sendo embora locais ou regionais, tiveram consequências humanitárias e políticas que ultrapassaram largamente as fronteiras dos países em que tiveram lugar.
No final de 2016, vislumbravam-se já sinais do reacendimento dos conflitos tribais na República Democrática do Congo e noutras regiões africanas e parecem estar de regresso as tensões entre israelitas e palestinianos no Médio Oriente. É verdade que foi aprovado um cessar fogo na Síria, mas ninguém parece acreditar que seja para valer. E, sem um cessar fogo autêntico, a Síria continuará a fornecer as maiores vagas de refugiados na área do Mediterrâneo.
É verdade que a crise dos refugiados não teve início apenas em 2016, mas bem se pode dizer que ela marcou indelevelmente o ano que passou. Foi um ano que nos deixou um retrato fiel da Humanidade, no que esta tem do pior e do melhor. Do pior, se tivermos em conta que a maioria das desgraças que se abateram sobre a humanidade resultaram do fanatismo, da ambição, do orgulho, do ódio étnico e religioso, ou simplesmente da indiferença e da inconsciência dos homens, a começar pelos seus governantes. Do melhor, porque, apesar de tudo, no ano que passou, não faltaram exemplos e testemunhos de preocupação e de solidariedade para com as vítimas das tragédias provocadas pela loucura dos homens. Testemunhos protagonizados individualmente ou por associações de homens e mulheres, que lutam contra a indiferença, contra os preconceitos e contra os interesses imediatos de quantos se sentem ameaçados pelos novos “invasores”
Certamente que o melhor de 2016 será para recordar, mas o pior do ano que passou não é para esquecer. Até para que 2017 possa ser melhor.
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