A desnutrição ou risco de desnutrição entre os idosos portugueses é o dobro entre os que estão em lares quando se compara com os que vivem em casa.
Esta é uma conclusão do estudo «PEN-3S: Estado nutricional dos idosos portugueses», cujos resultados preliminares foram apresentados no 12.º Congresso Internacional da Sociedade de Medicina Geriátrica da União Europeia, a decorrer em Lisboa.
O estudo visou caracterizar os hábitos alimentares e o estado nutricional dos mais velhos a viver em comunidade e em lares de todo País.
O facto de os idosos nos lares serem mais velhos, mais dependentes e mostrarem mais sinais de depressão são os factos apontados para justificar tão acentuada diferença.
Coordenado pelo geriatra Gorjão Clara, do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, o estudo é uma ferramenta para conhecer melhor a dimensão do problema entre os idosos, para além de facilitar a identificação dos fatores determinantes de malnutrição e ainda, a nível dos cuidados de saúde primários e dos lares, implementar um rastreio de pessoas em risco nutricional.
Em 2015 viviam em Portugal 2,1 milhões de idosos, segundo o Instituto Nacional de Estatística, sendo que o estudo, financiado por fundos EEA Grants, da Noruega, Islândia e Lichtenstein, teve uma amostra de 2.296 idosos (com e mais de 65 anos), cerca de metade a residir em lares e os restantes em casa, representativa da população idosa em Portugal. Foram excluídos do inquérito idosos acamados e com demência grave.
Os resultados do estudo entre os portugueses revela que 4,8% dos idosos em lares estão em situação de desnutrição e 38,7% em risco de desnutrição (43,5% no total), valores que descem para os 0,6% e 16,9%, respetivamente quando avaliados os idosos a viver em casa (17,5% somando as duas variáveis).
As taxas de depressão também são mais elevadas nos idosos que estão em lares – 47% quando na comunidade são 25% –, tal como as situações de dependência, 87% contra 30% na comunidade.
Estes resultados acompanham a tendência internacional, mas com valores ligeiramente mais baixos. Os estudos internacionais mostram que nos lares a percentagem de idosos desnutridos é de 21% e 52% estão em risco de desnutrição. Já entre os que vivem em casa, 4,2% estão desnutridos e 27% em risco de desnutrição.
“A prevalência de malnutrição aumenta com a idade e nos lares, em média, os idosos são mais velhos dos que estão na comunidade. Também nos lares a prevalência de depressão e dependência – os dois indicadores aumentam de forma significativa a malnutrição, influência válida para lares e para a comunidade – é superior. Isso pode explicar porque nos lares há mais casos de desnutrição e risco de desnutrição”, disse, ao Diário de Notícias, Teresa Madeira, investigadora da Faculdade de Medicina de Lisboa, sublinhando que “não é por estar no lar que o idoso está pior”.
“Não sabemos como é que estas pessoas estariam se vivessem em casa, mas podemos colocar a hipótese de que estariam piores se não tivessem cuidadores para preparar as refeições, fazer as compras, cozinhar, suporte que o lar oferece”, concluiu.
O estudo testou ainda um sistema informático que permite detetar idosos em risco de malnutrição e assim encaminhá-los para consultas especializadas para avaliação das causas e evitar uma situação grave de doença.
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