«A Importância do Social na Economia» esteve em debate no III Fórum Economia Social, uma iniciativa da Unitate, IPSS de Vila Viçosa, que depois de Évora e Lisboa levou o evento à cidade do Porto.
Com o propósito de estimular o debate e a reflexão em torno dos grandes desafios da Economia Social do momento, o arranque da terceira edição do Fórum Economia Social não podia deixar de versar o tema do momento.
De facto, tem sido intenso e profícuo o debate em torno da Economia Social e da possível criação de uma Confederação Nacional, cujas recentes manifestações é para que se concretize mesmo já nos próximos dias 14 e 15 de Novembro, aquando da Sessão Final do Congresso Nacional da Economia Social.
E como esta é uma questão ainda em aberto e que não reúne consenso, também na Universidade Católica do Porto, onde decorreu o Fórum, o tema marcou presença.
“A questão da Economia Social tem sido muito debatida, inclusive de, eventualmente, criarmos uma organização que represente o setor”, começou por dizer João Dias, presidente-adjunto da CNIS, lembrando, de seguida, que “a Economia Social é uma família, mas tem membros diferentes, cada com as suas idiossincrasias”.
É conhecida a posição da CNIS no sentido de se continuar a aprofundar o debate e não no da apressada criação de uma organização que congregue todos os diferentes agentes da Economia Social.
“O percurso do Congresso, com as diversas sessões temáticas, tem vindo a esbater diferenças, mas convém não nos iludirmos, porque não somos todos iguais”, defendeu o responsável da CNIS, sublinhando: “Nestes anos temos vivido de costas voltadas. Temos feito caminho nos últimos tempos, mas será esta a altura para dar este passo? O setor que coopera com o Estado é um universo que quer estar de corpo inteiro na Economia Social, mas sem perder os princípios fundacionais da proximidade e da solidariedade”.
João Dias terminou referindo que apesar de estarem “em pontos diferentes, estes são complementares” e deixou um desafio a todos: “Vamos agarrar nas características próprias e fazer uma Economia Social que não seja igual a todas as outras só porque tem que ser. E espero que possamos fazer um percurso que ajude as pessoas”.
Antes, já Eduardo Graça, em representação do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, havia suscitado a questão.
“O setor da Economia Social tem um défice de consagração e reconhecimento público e esta é uma questão que deve ser encarada para se dar um passo em frente: na representação, que é preciso reforçar e é nesse sentido que surge o Congresso Nacional e a Confederação que ali se quer apresentar; na mediação, pois é preciso mais entidades e mais ativistas em ação para que haja menos dispersão na diversidade; e na concertação, porque este setor tem que ter um lugar na Concertação Social”.
A falta de reconhecimento público da importância da Economia Social é, segundo o também presidente da CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social, um dos principais obstáculos a ultrapassar.
“Estas iniciativas têm vindo a crescer em quantidade e em qualidade, mas apesar desse crescimento ainda estamos longe de um efetivo reconhecimento público e político da Economia Social. Esta é uma realidade pouco conhecida e reconhecida. É como se fosse um setor invisível”, afirmou, acrescentando: “O reconhecimento é importante para que o Estado possa olhar para o setor de forma mais vibrante”.
É também na busca de um maior reconhecimento da Economia Social que o Fórum leva o debate a diferentes cidades, porque, como sustentou Tiago Abalroado, presidente da Unitate, na abertura, a intenção é “percorrer o País para que estas ideias cheguem mais longe”.
Por seu turno, Humberto Carneiro, da União das Misericórdias Portuguesas, recordou aos presentes que “a Economia Social é o setor mais capacitado para dar uma resposta integral e integrada aos novos desafios sociais do nosso tempo”, enquanto Ana Maria Silva, da União das Mutualidades Portuguesas, sublinhou a importância de “reforçar o papel da Economia Social”.
De seguida passou-se aos painéis de debate, com o primeiro a versar «A importância do Social a nível Macroeconómico», com Nuno Ornelas Martins, da Católica Porto Business School, a partilhar ideias muito interessantes sobre «A crise em Portugal e na União Europeia do ponto de vista do Desenvolvimento Humano».
Segundo o académico, a opção tomada para atacar a crise incidiu primeiramente no setor financeiro, origem da crise, prosseguiu pelo económico e só por fim se estendeu ao social.
“Segundo a abordagem do Desenvolvimento Humano a causalidade é inversa, devendo começar pelo setor social, depois pelo económico e só então chegar ao setor financeiro”, sustentou, acrescentando: “Para a reativação da economia a abordagem do Desenvolvimento Humano defende que as metas sociais são também os meios para as alcançar. E para o setor social ser o ponto de partida da resolução das crises é preciso debate público, para se identificarem as necessidades das pessoas, e mercado, essencialmente, de pequenas e médias empresas”.
Por fim, Nuno Ornelas Martins defendeu que “no circuito macroeconómico o investimento, em primeiro lugar, no social pode resolver as crises”.
Por seu lado, José António Pereirinha, do ISEG, sobre «As políticas sociais em contexto de austeridade», lembrou que “a austeridade não é dissociável da crise, porque a crise antecedeu a austeridade que, por sua vez, aprofundou a crise”.
“A austeridade reduz as políticas sociais”, disse, e como em Portugal representam ¼ do PIB, “é sempre uma área apetecível ao corte, por ser tão grande”.
Por fim, José Pereirinha considerou que “Estado Social deve ser mais care e menos cash, que talvez se deva rever o papel redistributivo do Estado e que este talvez deva ser menos um Estado provisão e mais um Estado regulador”.
A fechar o painel, André Azevedo, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, partilhou com a plateia os três problemas que, segundo ele, enfermam a Economia Social.
“Temos a teoria da escolha pública, ou seja, como se controla a má gestão de institutos que estão fora do mercado, e o problema da equidade da provisão, isto é, o Estado é igual para todos, mas no Terceiro Setor pode haver desigualdade no acesso. No entanto, não considero que estes sejam os problemas mais gravosos”, sustentou, acrescentando aquele que considera ser o “principal problema e que urge ser resolvido” e que é a “muito acentuada dependência do setor face ao Estado”.
A este propósito, da plateia alguém lembrou que “a subsidiodependência não é verdade em Portugal”, avançando que mesmo no setor das IPSS, “onde é maior a dependência do Estado”, esta “está abaixo dos 50%”.
Outros temas estiveram em debate no III Fórum Economia Social, promovido pela Unitate, em especial «A importância do social a nível local e das organizações».
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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