Parece que, desta vez, é verdade: aos noventa e três anos de idade, Robert Mugabe deixou de ser o chefe de estado mais velho do continente africano e um dos mais velhos do mundo. Depois de muitas pressões e algumas reviravoltas, o líder histórico do ZANU-PF anunciou que não vai concorrer às próximas eleições presidenciais, pondo de lado a hipótese de continuar no cargo que vinha ocupando desde 1980, como era seu desejo. O facto de o seu partido lhe retirar o apoio, ameaçando-o mesmo de que ou se demitia ou seria demitido, acabou por ter o efeito desejado pela grande maioria dos cidadãos do país e pela comunidade internacional.
A imagem de Mugabe foi-se degradando, ao longo do tempo. Era a imagem de um homem cujo apego ao poder parecia superar todas as suas deficiências, físicas e não só, e ainda os fracassos da sua governação. Totalmente dependente da sua segunda mulher, Grace, Mugabe acabou por pagar os efeitos da antipatia que esta foi gerando entre os cidadãos do país em geral, e mesmo junto dos próprios militantes da ZANU e dos antigos combatentes que ele liderou.
O mais espantoso na história de Mugabe foi a sua capacidade de resistir tanto tempo às críticas internas e externas que se faziam à sua liderança e à governação do país. Isto porque, quando chegou ao poder, a antiga Rodésia tinha todas as condições para continuar a ser, como foi no tempo da colonização inglesa, uma das regiões mais ricas do continente africano, mas que ele conseguiu transformar num estado incapaz de produzir o suficiente para alimentar o seu povo. A principal razão para esta mudança foi uma reforma agrária concebida prioritariamente para benefício dos antigos companheiros da luta armada, e que resultou num verdadeiro desastre. Sobretudo porque obrigou ao êxodo forçado da grande maioria dos antigos colonos que garantiam os excedentes da produção agrícola do país e, com isso, as suas indispensáveis reservas monetárias.
Os novos senhores pouco fizeram ao longo dos anos, para além de gozar o seu novo estatuto de proprietários, e de garantir a fidelidade política ao seu generoso benfeitor, cujo poder absoluto eles foram sustentando ao longo do tempo. Pelo menos até há poucas semanas, quando deixaram claro que já estavam fartos dele e da sua segunda mulher. Triste fim para o herói da independência de um país que tinha todas as condições para ser um dos mais prósperos do continente africano, mas que hoje está no fundo da lista dos mais pobres. Resta saber se o seu sucessor e ex-companheiro de governação e ideologia será capaz de fazer a diferença…
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