De repente, o mundo parece ter respirado de alívio. É que a ameaça de um conflito militar na península da Coreia, se não foi completamente afastada, diminuiu claramente de intensidade. Isto, graças à anunciada participação da Coreia do Norte nos próximos jogos Olímpicos de Inverno que terão lugar em Pyeong Chan, na Coreia do Sul, já neste mês de Fevereiro. Essa anunciada participação mereceu, de imediato, a compreensão do Comité Olímpico e das autoridades de Seul, bem como o aplauso generalizado da comunidade internacional.
O entusiasmo provocado por esta notícia inesperada só não terá sido maior, porque ainda está fresca a memória do fracasso das últimas “tréguas” que marcaram as relações entre as duas Coreias na década de noventa do século passado. A melhoria das relações entre os dois estados da península foi-se deteriorando, sobretudo a partir do momento em que Kim Jong Un deu um impulso verdadeiramente notável ao processo de nuclearização do país e à produção e lançamento de mísseis intercontinentais. Foi uma estratégia que contribuiu enormemente para fomentar o orgulho e a unidade dos norte-coreanos face aos seus inimigos externos, nomeadamente os Estados Unidos.
Apesar de todas as ameaças de Donald Trump, e não obstante as graves consequências decorrentes da aplicação das sanções impostas pela comunidade internacional, Kim Jong Un não cedeu um milímetro, nem no tom nem no ritmo das provocações contra os seus vizinhos do sul da península e, sobretudo, contra os americanos, seus protectores. Agora, confirmado que está o seu estatuto de potência nuclear, o Governo de Pyongyang pode dar-se ao luxo de exibir um novo estilo de poder e de respeitabilidade que facilitará a sua integração no conjunto das nações. A sua participação nos próximos Jogos Olímpicos virá a dar um grande contributo a essa promoção.
Desde os seus primórdios na Grécia antiga, as Olimpíadas sempre estiveram ligadas ao ideal da Paz, com o estabelecimento de períodos de tréguas que, apesar do seu carácter local e temporal, ficaram para a História como símbolo e expressão de um desejo universal. O facto de os Jogos nunca terem ultrapassado completamente um carácter simbólico não chega para desvalorizar o ideal que representam.
Com a iniciativa de enviar representantes do seu país aos próximos Jogos Olímpicos de Inverno, o presidente norte-coreano demonstrou uma habilidade política que não lhe era geralmente reconhecida, e colocou Donald Trump numa situação embaraçosa. Como é que a opinião pública irá entender as ameaças norte-americanas à Coreia do Norte numa altura em que os líderes deste país dão sinais de pretenderem aproximar-se, não só dos seus vizinhos do sul, mas de toda comunidade internacional?
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