A cerimónia de entrega do Prémio Cooperação e Solidariedade António Sérgio 2018, que decorreu na Sociedade Portuguesa de Autores, em Lisboa, foi acima de tudo um tributo ao pensador português no dia que se assinalava 50 anos da sua morte.
Evocar o homem, a obra, o pensamento de António Sérgio que foi menino no Colégio Militar e se tornou num gigante do pensamento português. De professor a escritor, de ministro a preso político, de pensador a pedagogo ilustre de tudo se encontra na biografia daquele que é considerado o pai do cooperativismo em Portugal, seu grande pensador e impulsionador.
Guilherme d’Oliveira Martins recordou, neste 24 de janeiro de 2019, o dia de há 50 anos. A memória é a da incógnita do próprio, que se encontrava na faculdade bem perto da casa de António Sérgio, juntamente com José Jorge Letria, presidente da SPA ali presente, sobre a razão de toda a agitação e aglomeração de pessoas: “Era apenas gente que queria despedir-se do mestre!”.
Para o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, o homenageado “tinha como prioridade a educação” e, apesar de ter sido ministro da Educação apenas durante 73 dias, “deixou dois decretos-lei fundamentais”, o n.º 9932, que criou a Junta para o Estudo do Ensino, e o n.º 9933, que criou o Instituto Português do Estudo do Cancro, ambos em dezembro de 1923.
“Educação e mobilização cívica” eram os motores da sociedade na visão progressista de António Sérgio, para quem “o cooperativismo, ou seja, a solidariedade voluntária” é um instrumento essencial.
Opinista indomável, o pedagogo não se coibia de dizer o que pensava, porque para ele “não havia liberdade sem a liberdade da crítica”, lembrou Guilherme d’Oliveira Martins acrescentando: “Para António Sérgio liberdade e igualdade são faces de uma mesma moeda. Liberdade igual, igualdade livre”.
Contudo, “o tempo foi dando razão a António Sérgio, mas ele morreu muito angustiado”, lamentou, sublinhando que era “um homem extraordinário, um mestre”.
A cerimónia arrancara com as boas-vindas dos presidentes da SPA, José Jorge Letria, e da CASES (Cooperativa António Sérgio para a Economia Social), Eduardo Graça, com ambos também a enaltecerem a personalidade a que quem se prestava tributo.
A sala, repleta de convidados e premiados, exibia nas paredes a exposição «António Sérgio: o homem que pensou Portugal», retrato(s) biográfico(s) em variados quadros, uma história, como foi dito na sessão, que “deve ser mais conhecida” e, “em especial, a obra do mestre”.
“É preciso combater as armadilhas da memória e saber por que é que António Sérgio não tem hoje a visibilidade e a presença na memória coletiva que merece”, afirmou Vieira da Silva, ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, sublinhando: “Ele era alguém que sofreu aquilo que acontece a muitos, teve razão antes de tempo. António Sérgio sempre se soube colocar antes do tempo sobre essas correntes totalizantes, apesar de se dizer um radical, defensor de uma democracia radical”.
Para Vieira da Silva, “a melhor homenagem a António Sérgio é o facto de a Constituição reconhecer o sector cooperativo e social”, não negando que “não existam problemas no sector social” e destacando que “algo indesmentível é a capacidade da sociedade se organizar”.
A terminar, o ministro da Solidariedade deixou um desafio aos agentes do sector, recorrendo mesmo aos exemplos dos premiados para o justificar: “Devemos valorizar a nossa história do sector social, mas essa história está sempre à espera da próxima ideia e invenção que nos faça orgulhar da organização da sociedade”.
Depois de um momento musical interpretado pelo incomparável maestro Victorino d’Almeida, surpreendentemente (até para o próprio maestro), acompanhado ao clarinete por Eduardo Sérgio, sobrinho neto de António Sérgio, e da apresentação do livro «António Sérgio: Breve Percurso e Herança», por João Salazar Leite, foi tempo de entrega de prémios.
Dentre os galardoados, destaque para a Casa do Povo de Abrunheira, associada da CNIS, cujo projeto «ArteMemória - Cuidar da memória através da arte» foi distinguido com uma Menção Honrosa, na categoria «Inovação e Sustentabilidade», cujos vencedores «ex aequo» foram a Coolabora, com o projeto «Troca a Tod@s», e a U.DREAM, com a iniciativa «Expansão da U.DREAM para a cidade de Aveiro». Também a Solidaried'arte recebeu uma Menção Honrosa pelo projeto «Loja Eco Solidária Itinerante».
Na categoria «Estudos e Investigação», Vítor Manuel Figueiredo foi o vencedor, com a tese de doutoramento, em Gestão da Universidade da Beira Interior, «As Cooperativas como Alianças Estratégicas: Fatores de sucesso para a satisfação dos cooperadores vitivinícolas da região do Dão».
No capítulo dos «Trabalhos de Âmbito Escolar», o premiado foi o Agrupamento de Escolas Conde de Ourém, com o projeto «AGIR».
Já na novel categoria de «Trabalhos Jornalísticos» venceram «ex aequo» Marta Gonçalves e Nuno Botelho pela reportagem publicada no Expresso, «Gente bonita come fruta feia: as virtudes da imperfeição», e Isabel Osório pelo trabalho televisivo (na SIC) «Os 25 Anos da Associação Abraço».
Foi também atribuída uma Menção Honrosa a Pedro Vasco Oliveira, pela reportagem «Confederação Portuguesa de Economia Social: Nascimento de uma organização impensável há pouco mais de um ano», publicada aqui no SOLIDARIEDADE, e na qual é abordado o percurso feito pela Economia Social e os seus principais agentes até à criação da Confederação.
Francisco Silva, secretário-geral da Confagri e recém-eleito presidente da Confederação Portuguesa de Economia Social, foi distinguido com o Prémio de Honra à Carreira «Personalidade da Economia Social» 2018, enquanto Ivone Félix, coordenadora executiva da CERCIOEIRAS, recebeu o Prémio de Honra à Capacidade Empreendedora.
A homenagem a António Sérgio começara na véspera com a inauguração da exposição «Sérgio’19» na Assembleia da República e prosseguiu com a apresentação, no dia 6 de fevereiro, do «Código Cooperativo anotado», um trabalho de Deolinda Meira e Maria Elisabete Ramos.
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