CENTRO PAROQUIAL DE PADERNE, ALBUFEIRA

Os idosos com demências são as novas crianças que temos que ajudar a andar

Fica situado no chamado Barrocal, região algarvia que situada entre o litoral e a serrania, e trabalha, também por isso, com uma comunidade muito particular. Falamos do Centro Paroquial de Paderne, concelho de Albufeira, tão conhecido pelas praias e, especialmente, apreciada pelos ingleses. No entanto, a realidade da instituição não mete turistas, mas sim comunidades com necessidades muito específicas.
Perante as necessidades da comunidade de Paderne, em 1996 o pároco César Chantre avança para a criação da IPSS.
No início, o Centro Paroquial arrancou só com a creche, que funcionava nas atuais instalações da banda de Paderne. Ao construir-se este Centro Comunitário é que surgiram as outras respostas”, conta o padre Pedro Manuel, presidente da instituição, lembrando que, “desde o início do projeto do Centro, há a vontade do povo de Paderne em ter resposta para a primeira infância e para a última infância. No sonho disto tudo que hoje temos essa perspetiva já está presente”.
Na vida de mais de duas décadas da instituição o crescimento e a abrangência da resposta têm sido progressivos, marcados por três momentos especiais: a criação do Centro Paroquial de Paderne (1996), a inauguração, em 2003, do Centro Comunitário de Paderne e a abertura da Creche S. José, em Ferreiras, e a gestão do Centro Social da Quinta da Palmeira (2008).
Depois da criação do Centro, segundo o padre Pedro Manuel, a necessidade que houve de ir às necessidades das populações e que levaram ao crescimento da instituição teve situações diversas.
“O ir ao encontro às necessidades da comunidade, estabelecido que estava o Centro Paroquial, aconteceu, sobretudo, no equipamento em Ferreiras, que é uma zona periférica de Albufeira, onde muitas famílias jovens escolhem viver e acabou por ser quase uma consequência do que se estava a experimentar em Paderne. Tinha-se criado a igreja, havia sido fundada, recentemente, a freguesia e, no ano 2000, a paróquia e no contexto da construção da igreja, então, construiu-se também a creche, tendo em conta esta visão demográfica, face ao aumento da população em Ferreiras e a proximidade com Albufeira”, explica o presidente da instituição, acrescentando: “Já o caso da Quinta da Palmeira, que é posterior, não surgiu de uma necessidade sentida pelo Centro Paroquial de Paderne, mas foi do reconhecimento da autarquia da necessidade de criar em Albufeira uma estrutura que pudesse ajudar crianças e idosos e de entregar esse equipamento a uma das instituições que no contexto do concelho já tinha manifestado a qualidade dos seus serviços. É assim que o Centro Paroquial de Paderne entra em ação”.
O padre Pedro Manuel aproveita a ocasião para frisar que o aceitar da gestão do Centro Social da Quinta da Palmeira “é também um reconhecimento da instituição à Câmara” e explica: “Em 1996, havia a vontade do povo padernense, do padre César Chantre, que era o pároco, e há um apoio muito generoso da Segurança Social e da Câmara Municipal de Albufeira. Se não houvesse a comunhão destas quatro vontades ou se fossem só as vontades do povo e do pároco padrenenses não teria sido possível fazer esta obra. E, já agora, fazer a justa e agradecida memória ao doador do terreno, o que foi muito importante”.
Nascido no coração da freguesia de Paderne, o Centro Paroquial tem três equipamentos sob sua gestão, todos no concelho de Albufeira, mas em diferentes freguesias.
Assim, o Centro Comunitário de Paderne, para além da sede, acolhe 62 crianças em creche e 39 utentes na Estrutura Residencial Para Idosos (ERPI), apoiando ainda 10 idosos em Centro de Dia e 30 em Serviço de Apoio Domiciliário (SAD).
A Creche S. José, em Ferreiras, é frequentada por 35 petizes, enquanto o Centro Social da Quinta da Palmeira acolhe 69 bebés em creche e 19 seniores em ERPI.
Para todas estas respostas a instituição tem um corpo de 100 funcionários.
Para além destas valências, o Centro Paroquial de Paderne apoia ainda 60 famílias no âmbito do Banco Alimentar Contra a Fome e do antigo FEAC (Fundo Europeu de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas).
A este propósito, o presidente da instituição, que é também o pároco local, reconhecendo que há miséria em Paderne, afirma que “muitas vezes é uma miséria envergonhada, disfarçada por detrás de um saco de comida que se vai buscar a algum sítio”.
Frontal, o padre Pedro Manuel deixa um alerta: “Costumo dizer que dar um saco de comida a alguém é a caridade mais fácil de fazer, porque não nos compromete, vamos todos contentes para casa e já achámos que fizemos muito. É muito mais difícil ajudar as pessoas a saírem do estado em que estão. Até nisso, e sem grandes floreados, acho que o Centro Paroquial tem tido um papel importante, sobretudo, na oferta de emprego a pessoas que estão em situação de risco aqui no nosso contexto”.
Para o líder da instituição, o facto de haver 60 famílias a serem apoiadas no âmbito do BA e do FEAC é significativo numa aldeia como esta e sintomático de alguma coisa”.
Analisando socioeconomicamente as comunidades que a instituição serve, o padre Pedro Manuel é direto: “Isto é um centro social, logo a nossa primeira resposta tem que ser social”.
E acrescenta: “Estou a pensar nas valências que temos e um dos critérios que usamos é, precisamente, o da necessidade. Cerca de 86% da população consegue, mais ou menos, contribuir com alguma coisa para a sustentabilidade da sua presença na instituição. E seria impossível se não tivéssemos, depois, comparticipação da Segurança Social e os apoios da autarquia. Porém, creio que a grande tendência, não só aqui, mas também nas instituições congéneres, é para uma descida de meios, tendo em conta que, cada vez mais, um conjunto maior de utentes não pode contribuir e fazer expensas aos gastos inerentes”.
E apesar de a instituição laborar em três comunidades diferentes, o seu presidente não encontra diferenças substanciais entre a capacidade financeira das três comunidades.
“Do ponto de vista das creches pode haver alguma diferença entre o barrocal e o litoral, mas não é uma diferença relevante. É óbvio que haverá agregados familiares que no barrocal têm dificuldades, tal como há no litoral. Acontece, porém, que em Paderne e em Ferreiras não existem grandes alternativas a esta prestação de serviços, já em Albufeira existem. Contudo, não creio que exista uma disparidade socioeconómica que seja relevante na economia da instituição. E o mesmo digo relativamente à ERPI, pois, tanto Albufeira como em Paderne, creio que são igualmente sustentáveis, do ponto de vista da capacidade que a comunidade tem para pagar os seus serviços. Poderíamos notar alguma diferença, mas não temos termo de comparação era no SAD, uma vez que é um serviço que só temos aqui em Paderne”.
Sinais dos tempos e uma realidade cada vez mais presente em todas as IPSS que têm respostas na área dos idosos são as demências e as grandes dependências.
“Bem, estou aqui há quatro e quando cheguei encontrava um grau de dependência e de velhice maior aqui em Paderne, mas também tem mais utentes, do que no lar de Albufeira. Passado este tempo, não noto grandes diferenças nas dependências entre os utentes dos dois lares. Noto é duas comunidades muito dependentes. Felizmente, vive-se mais, com qualidade de vida até ao fim, mas no que diz respeito a doenças do foro psiquiátrico é uma realidade que está a acentuar-se cada vez mais. Nós estamos a caminhar de forma galopante para cada vez mais termos pessoas dependentes, principalmente do foro mental”, argumenta o padre Pedro Manuel, sustentando: “Estas são as novas crianças que temos de ajudar a andar e, principalmente, de ajudar a que não fujam de casa, a que não saiam do nosso horizonte visual”.
Se a comunidade de Paderne foi um elemento preponderante no nascimento da instituição e a relação continua a ser boa, o Centro gostaria que a população estivesse mais presente na sua vida.
“A instituição é aberta às famílias e à comunidade e até gostaríamos que a comunidade fosse mais presente. No entanto, ter um universo de 60 crianças numa freguesia como Paderne é um sinal de esperança, porque estamos a falar de um barrocal despovoado, e isto apesar de nem todas as crianças serem daqui, mas vêm para cá todos os dias. Isto enche-me de muito orgulho institucional, porque esta possibilidade de as pessoas contactarem com a nossa casa, onde é possível conviverem a beleza dos primeiros passos e a dureza dos últimos passos, é a melhor abertura à comunidade. E quando digo que gostava que a comunidade fosse mais presente é no sentido de que gostava que sentisse ainda mais que esta casa não é a casa da comunidade para o amanhã em que eu deixe de andar, mas a casa da comunidade para hoje. Isto porque quando olho para cada uma destas crianças penso no amanhã delas, mas penso no meu ontem. Porém, no caso dos idosos, penso no meu amanhã ou no dos meus mais ou revejo o atual amanhã da minha avó. E, às vezes, socialmente isto não é bonito de encaixar, até porque a sociedade em geral tem dificuldade em contactar com a limitação física”.
E porque se fala de futuro, em termos de projetos é “manter o que está e aumentar a qualidade do que temos, pois, para já, não há projetos de outra ordem”, frisa o presidente da instituição.
Vontade e sonhos há, mas…
“Há a possibilidade de aumentar a creche de Ferreiras, que implicaria o alargamento do equipamento e necessita de outras coisas, como, da parte dos nossos parceiros Segurança Social e Câmara Municipal, o interesse e a comparticipação financeira, mas , neste momento, está tudo parado”, revela o padre Pedro Manuel, acrescentando: “Se houvesse condições financeiras para avançar, aqui em Paderne a aposta teria que ser na terceira idade, mas em Ferreiras já seria na infância”.
Entre a praia e a serra, o Centro Paroquial de Paderne as crianças agora nascidas, mas também as «novas crianças» nascidas no século passado, dedicando a todas “o amor necessário a que se sintam felizes”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2019-07-03



















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