A queda do Muro de Berlim foi, certamente, um dos acontecimentos mais importantes da segunda metade do século vinte. Basta lembrar que abriu o caminho para o desmantelamento da “Cortina de Ferro”, para o fim da União Soviética, para uma nova Europa e para mudanças significativas no mapa político do mundo. Não admira pois que a passagem dos trinta anos da revolução pacífica que aconteceu na noite de 9 de Novembro de 1989 tenha merecido grande relevo na Comunicação Social.
A abordagem mediática ao que aconteceu na Alemanha há trinta anos, não fugiu de todo ao entusiasmo com que a notícia dos acontecimentos desse dia foi dada e recebida em quase todo o mundo, particularmente na Europa Ocidental. Mesmo assim, os trinta anos que nos separam da queda do Muro chegam para nos darmos conta de que nem todas as expectativas criadas por esse acontecimento tiveram concretização, o que serviu de pretexto para comentários menos triunfalistas, para não dizer mesmo negativos. Na verdade, o peso da ideologia continua a ser suficiente para impedir que alguns se regozijem pelos acontecimentos que tiveram lugar na Alemanha, em Novembro de 1989.
Mesmo sem condicionamentos ideológicos, não faltaram comentários que, a propósito desta efeméride, insistem em lembrar a existência de outros muros em muitos lugares do mundo. São comentários justificados e oportunos, já que a tentação de construir muros é cada vez maior nos tempos que correm. Na própria Alemanha, os muros não despareceram de todo, uma vez tem ainda as marcas de uma divisão social e económica que resistiu à queda do Muro. Hoje, não se pode falar em rigor da existência de dois países, mas apesar de todos os esforços e do dinheiro aplicado nas políticas de aproximação, o ocidente e o leste da Alemanha não estão ainda verdadeiramente unificados. Muitos dos habitantes da antiga Alemanha oriental acham que são mesmo cidadãos de segunda.
A queda do Muro de Berlim foi um marco importantíssimo na história da Europa e da Humanidade, mas estamos a assistir hoje à construção de novos muros e, sobretudo à tentação de os erguer, sendo que a mais emblemática dessas construções está a ser levada a cabo na longa fronteira entre os Estados Unidos e o México. Ao contrário do que aconteceu com o Muro de Berlim, este muro americano não tem como objectivo impedir um povo de sair para conquistar a liberdade, mas impedir muita gente de entrar noutro território para conquistar uma vida melhor. É um muro diferente, mas há sempre um muro de vergonha.
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