Nasceu a 6 de maio de 1918 no coração do Parque Natural de Montesinho, concretamente na aldeia de Varge, freguesia de Aveleda, concelho de Bragança.
Violante Parreiras, aliás, dona Violante Parreiras, celebrou este ano 103 anos e, em conversa com o SOLIDARIEDADE, evidenciou uma frescura mental e uma lucidez de espírito impressionantes.
Há 18 anos a viver num dos lares da Santa Casa da Misericórdia de Bragança, dona Violante ainda realiza a generalidade das famosas AVD (Atividades da Vida Diária) e, apesar de ter alguns problemas de mobilidade, recusa sempre a cadeira de rodas, preferindo um par de canadianas.
“Prefiro ir com estas quatro”, costuma dizer, referindo-se às canadianas e às próprias pernas.
Sobre o seu dia-a-dia, dona Violante sente as limitações, mas sente-se abençoada.
“Dantes fazia tudo, mas até hoje, graças a Deus, ainda consigo fazer as minhas coisinhas. Deus é meu amigo, mas também lhe rezo todas as noites”, exclama, demonstrando toda a sua devoção.
Nasceu no ano em que a Primeira Grande Guerra terminou e a Gripe Pneumónica começava.
Dessa guerra, obviamente, não tem memória, mas já da Guerra Civil Espanhola (1936-1939)… a conversa é outra.
Foi por estes anos que casou com um guarda fiscal e foi por esta altura que sofreu o primeiro grande revés na sua vida. A filha, primogénita, morre aos sete meses de vida.
“Foi no tempo da guerra espanhola”, recorda de olhar entristecido, mas prossegue: “Foi uma guerra muito grande, os espanhóis vinham cheios de fome e escondiam-se cá. Os guardas ajudavam, porque era mesmo muita fome, coitados”.
Dona Violante lembra-se da fome dos espanhóis, mas não se esquece da miséria em que Portugal vivia.
“Aqui em Portugal não havia nada. Não havia luz, nem petróleo para os candeeiros e, por vezes, tínhamos que usar água rás. Mas, felizmente, eu nunca passei fome”, conta, sublinhando: “No tempo do Salazar isto era um terror. Havia muita fome…”.
Por isso é que “foi uma alegria” quando se deu o 25 de Abril, pois “a partir daí a vida melhorou”.
Em 1974, dona Violante já era viúva e também já tinha perdido os dois filhos rapazes que teve… “os dois de acidente”, recorda.
Apesar das memórias sofridas – uma vida tão longa tem que ter muitas lembranças de todo o tipo –, dona Violante gosta de estar onde está e sente-se bem tratada.
“Estou aqui há tanto tempo que já tenho uma parte disto”, afirma, com um sorriso matreiro, ressalvando que, apesar de uma ida ao hospital e a respetiva quarentena: “Eu não tive Covid!”.
Que a boa-disposição nunca lhe falte e, apesar de atrasados, muitos parabéns, dona Violante!
Pedro Vasco Oliveira
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