Portugal é o país da União Europeia onde há mais desigualdade entre ricos e pobres, uma situação que é característica dos estados em vias de desenvolvimento, segundo dados revelados pela associação Oikos.
Para assinalar o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, na segunda-feira, várias organizações portuguesas vão lançar um apelo para que o país coloque a pobreza e a desigualdade no debate público, deixando de se concentrar apenas na discussão sobre crescimento económico e redução do défice do Estado.
"Portugal é de longe o país da União Europeia (UE) onde os ricos são os mais ricos e os mais pobres são os mais pobres", declarou à Lusa João José Fernandes, responsável do conselho directivo da Oikos - Cooperação e Desenvolvimento.
As 100 maiores fortunas portuguesas representam 17 por cento do Produto Interno Bruto e 20 por cento dos mais ricos controlam 45,9 por cento do rendimento nacional. Para João José Fernandes, estes dados mostram que Portugal necessita de uma política redistributiva e de "encarar de frente o problema da desigualdade".
O manifesto que será apresentado esta segunda-feira em Lisboa surgiu pela necessidade de denunciar a "apatia da sociedade portuguesa face ao problema da pobreza". "Todo o discurso político, da comunicação social e da sociedade civil é em relação ao crescimento económico e à redução do défice público. Desta forma só se abrange 80 por cento dos mais ricos, esquecendo dos 20 por cento dos mais pobres", comentou João José Fernandes.
As estatísticas indicam que um em cada cinco portugueses vive no limiar da pobreza. "Mas a realidade da pobreza é pior. Porque pobreza não é meramente falta de dinheiro, é também falta de acesso às necessidades que conferem dignidade na vida portuguesa", alertou o responsável da Oikos.
Num inquérito recente, 40 por cento das mulheres disse não terem satisfeitas as necessidades básicas, o que demonstra, no entender da Oikos, que "a percepção da pobreza pelos pobres é diferente das estatísticas oficiais". As organizações que promoveram o manifesto propõem a realização de um grande debate público sobre a pobreza em Portugal.
"Temos tantos debates sobre o Estado da Nação e nunca se refere o problema da pobreza e da desigualdade. A Assembleia da República, aberta à participação dos cidadãos, é um bom fórum para se realizar este debate", sugeriu João José Fernandes.
Data de introdução: 2005-11-05