O padre Lino Maia acaba de ser eleito para o sexto mandato consecutivo à frente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade. Se cumprir o mandato até ao fim ultrapassará o período de 20 anos a liderar a CNIS, o maior de sempre desde que foi fundada esta antiga União (UDIPSS) e agora Confederação de IPSS.
A explicação que Lino Maia dá para tão alargada liderança parece simples. As pressões sistemáticas e oriundas de diferentes e importantes sectores com que a CNIS se relaciona, desde a Igreja ao Estado, passando pelos parceiros sociais e instituições, foram sempre decisivas mesmo quando a decisão pessoal ia no sentido contrário.
Em 2006, então com 58 anos, o padre Lino Maia era o presidente da União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social do Porto e membro do Conselho Diretivo Nacional da CNIS. Com uma diferença de 90 votos a lista liderada por ele, foi a vencedora do II Congresso da CNIS, ganhando à lista encabeçada pelo Cónego Francisco Crespo, que na altura presidia à Confederação.
“Em janeiro de 2006 por voto do Conselho Geral eu encabecei uma lista, e fui candidato pela primeira vez, com base em pessoas que pertenciam já aos órgãos sociais da Confederação. Houve duas listas, alguma disputa mas, contrariando as minhas previsões, a lista a que eu pertencia ganhou com uma diferença significativa. Eu pensei que seriam três anos e a minha missão estaria concluída. Quando esse mandato terminou, por culpa minha que não fiz a pressão que deveria ter feito para não continuar, aceitei ir a eleições. Admitia que o grupo que integrava deveria continuar a missão e esse grupo fazia questão que fosse eu a liderar.”
Em 2009 o IV Congresso voltou a ter duas listas. O padre Carlos Gonçalves era o primeiro subscritor e depois de ouvir os números da derrota (35,6 por cento dos votos) sentou-se à mesa do Congresso e abraçou o vencedor. “Em 2009 houve outra lista concorrente e voltamos a vencer para mais um mandato de três anos. Eram seis anos. Eu pensava que a missão estava concluída. Houve pressão para continuar, repetiu-se o que tinha acontecido e eu voltei a ceder.”
De facto, em 2012 voltou a repetir-se o cenário. A oposição, desta feita era liderada pelo padre Arsénio Isidoro. As eleições registaram a maior participação de sempre: a lista A recolheu 597, enquanto a Lista B 350, tendo ainda sido registados dois votos nulos e cinco em branco. "Se fosse uma derrota teria sido pessoal, mas esta é uma vitória das instituições", afirmou o reeleito presidente da CNIS, assim que os resultados foram conhecidos. “Houve mais uma vez duas listas a concorrer: a institucional e a concorrente. Voltamos a ganhar e fiz mais um mandato. Ao todo eram nove anos de presidência da CNIS. Houve alteração, entretanto, do decreto-lei que enquadra as IPSS e a duração dos mandatos foi alargada para quatro anos.”
Em 2015, pela primeira vez, Lino Maia não teve oposição. Dos 253 votos expressos, foram contabilizados 229 a favor, 17 votos contra, 6 abstenções e 1 voto nulo. “Em 2015, comigo a dizer que não me recandidatava, que deveria cessar funções, continuaram as pressões, continuei a aceitar como serviço e não como trono, digamos assim. E aceitava dizendo que era o último mandato. Houve uma só lista.”
Em 2019, do VII Congresso Eleitoral da CNIS saiu a recondução do padre Lino Maia na presidência da CNIS, numa eleição em que, mais uma vez, apenas uma lista foi a sufrágio tendo recolhido 210 votos, registando-se ainda 20 votos em branco e quatro votos nulos. “O mandato acabou em 2019 e repetiu-se o figurino. E voltei a aceitar dizendo que era mesmo para acabar. Aliás, até pensava não levar até ao fim o mandato, embora seja contra isso, pensava que não aguentaria. Aguentei-me os quatro anos. Eu não sou um mártir...eu gosto deste sector e acredito verdadeiramente nas virtudes e virtualidades do sector.”
Com a aproximação do fim do mandato, com as eleições à porta e sem movimentações de oposição voltou a erguer-se o coro de apoios para convencer Lino Maia a permanecer. “Em 2022 fiz saber que não queria continuar. Houve pressões, unanimidade no Conselho, unanimidade na direção e, com sacrifício da minha parte, mesmo gostando de servir aquilo em que acredito, voltei a aceitar.”
O ato eleitoral decorreu durante a manhã do dia 14 de janeiro de 2023 e a lista única candidata recolheu 108 votos, de um universo de 115 votantes, tendo-se ainda registado seis votos em branco e um nulo. “É o meu último mandato por várias razões: Desde logo os estatutos não permitem e a minha idade também não. É necessária a renovação. Eu nunca tive dificuldade nenhuma na constituição das equipas, mas compreendo que não haja muita gente disponível para liderar estes projetos. Todos os membros da direção são voluntários. Não há remunerações nos órgãos sociais da CNIS. As responsabilidades são muito grandes, as negociações são muito difíceis e as decisões não afetam apenas as mais de três mil associadas, mas todo o sector social solidário. É muito importante. A minha única coroa de glória é que todas as equipas que integrei sempre levaram os mandatos até ao fim e não houve nenhuma desistência, sempre houve uma união muito forte. Uma das razões porque este sector está pacificado é porque as equipas liderantes não entram em colapso nem em litígios. Há coesão, há serviço e essa é minha única coroa de glória. Eu tenho a sorte de ter para além dos dirigentes um grupo de assessores excecional, reconhecidamente bom, tem uma equipa técnica de uma dedicação e competência extraordinária e ter também serviços na CNIS espantosamente profissionais. Ninguém acredita que a CNIS tem uma estrutura tão pequena para um tão grande serviço.
Agora é mesmo o último mandato.”
Texto e fotos V.M. Pinto
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