Foi no ano de 1998 que um grupo de, como se dizia antigamente, homens bons se juntou e decidiu criar a Liga dos Amigos da Aldeia de Santo António, concelho de Sabugal.
“Na altura não tínhamos nenhuma estrutura de apoio à população, que estava a ficar muito envelhecida. Depois, não havia, igualmente, nenhuma estrutura que empregasse a malta nova… e continua a não haver. Se não tivéssemos o lar aqui na freguesia, havia agricultura e pouco mais. A instituição é o polo dinamizador da freguesia da Aldeia de Santo António”, afirma Joaquim Ricardo, um dos homens fundadores e que, desde a primeira hora, preside à instituição sedeada às portas da cidade do Sabugal.
O passo em frente que aquele grupo de homens deu em prol da comunidade da Aldeia de Santo António implicou um grande compromisso de todos os membros dos órgãos sociais e ainda de algumas esposas destes, que avalizaram o empréstimo bancário para financiar a construção do equipamento social.
“A Segurança Social, na altura, não subsidiava a construção de lares na região e a única maneira de pedirmos um empréstimo foi ficarmos de fiadores do valor de mais de 600 mil euros. Já está tudo pago e já nos livrámos disso”, desabafa Joaquim Ricardo, que está no último mandato que pode cumprir, lamentando não haver quem se perfile para o cargo que exerce desde 1998.
Atualmente, a instituição acolhe 32 idosos em ERPI e apoia 25 em SAD, com uma equipa de 25 trabalhadores.
A celebrar 25 anos no próximo dia 2 de novembro, a Liga dos Amigos da Aldeia de Santo António é “uma referência” na região, prestando ainda um inestimável apoio à comunidade da aldeia.
No entanto, “sempre com muita dificuldade, porque o apoio do Estado é pouco”, lamenta o presidente da instituição e explica: “Repare, para 32 utentes em ERPI temos 20 acordos de cooperação e no SAD 21 acordos para 25 idosos. O problema é que as reformas são baixíssimas, pelo que a grande dificuldade é cobrir os custos com as mensalidades e as comparticipações e, ainda assim, proporcionar qualidade de vida às pessoas”.
E no sentido de ainda melhorar mais a qualidade, a instituição em 2019 conseguiu a certificação de qualidade pela ISO 9001 2015, tendo sido a primeira instituição do concelho e a terceira no distrito a consegui-lo.
Apostando em dar mais e melhor resposta a quem a procura, a instituição pretende alargar a capacidade da ERPI em mais seis camas. Contudo, há obstáculos que poderão tornar-se intransponíveis, uma vez que podem colocar a sustentabilidade da casa em causa.
“Temos um projeto já feito que alarga a ERPI para 38 camas, só que os projetos de investimento são um pau de dois bicos. Para nos candidatarmos a fundos europeus, temos de ter dinheiro, porque nunca é financiado a 100%. Depois, por exemplo, a candidatura é aprovada em 2023, vamos fazer os concursos públicos, mas, por causa da burocracia, só iniciamos, seguramente, a obra dentro de dois anos e, nessa altura, o custo da obra é muito mais elevado”, sustenta, revelando: “Sei de algumas instituições que desistiram de candidaturas já aprovadas! Para agravar a situação, as candidaturas são muito burocráticas e onerosas, sujeitas a não aprovação e com alteração das regras ao longo do tempo”.
Estas são dificuldades que tocam a esmagadora maioria das IPSS, que tem custos em termos de sustentabilidade financeira.
“Ainda hoje estivemos reunidos para fazer uma contabilidade analítica, no sentido de vermos onde podemos poupar e quanto nos custa cada utente para podermos racionalizar mais os custos”, afirma Joaquim Ricardo, acrescentando: “Agora, a gestão é feita com muita ginástica e dificuldade. O dinheiro que temos é para o dia a dia e sempre com muita dificuldade. Basta lembrar que, segundo o estudo feito pela CNIS, o custo por cada utente em ERPI é de 1.250 euros e a Segurança Social dá 314 euros”.
“A comparticipação é baixa e as mensalidades são baixas, porque é muito fácil dizer que a mensalidade pode ir até 90% da reforma do utente segundo o grau de dependência, mas isto é muito difícil de se aplicar na realidade. Os utentes têm reformas baixas, os familiares também não têm situação económica para cobrir a prestação familiar e, depois, para além da mensalidade, há fraldas, medicamentos, roupa, etc. E é aí que a instituição sente mais dificuldades”, corrobora Andreia Pinho, diretora-técnica da instituição, ao que o presidente acrescenta: “E não podemos chegar aos 90% porque há uma determinada concorrência em ERPI na região, porque são 29 instituições. E, apesar disto, continua a haver muita procura de lares, porque a população está muito envelhecida”.
E para melhor lhe dar resposta, a instituição pretende investir mais no Serviço de Apoio Domiciliário.
“O nosso SAD é uma espécie de lar em casa. Aliás, o nosso lema é «Apoio domiciliário, o lar em sua casa». Queremos melhorar ainda mais o SAD, integrá-lo no lar, trazendo os utentes a participar nas iniciativas, porque esses utentes, normalmente, vivem isolados e, assim, proporcionamos-lhes algum convívio”, revela Joaquim Ricardo.
Isto acaba por vir também no seguimento do fecho do Centro de Dia, em 2020, quando tinha sete utentes.
“Na altura tínhamos decidido alargar a capacidade do lar e a pretendíamos fechar assim que ficássemos sem utentes. Mas nessa altura, uns foram integrados no lar e outros no SAD e acabámos por já não reabrir após a pandemia”, conta Andreia Pinho.
E como seria a Aldeia de Santo António sem a Liga dos Amigos?
“Eu nem imagino… Seria uma aldeia deserta. Temos 25 funcionários, são 25 famílias que aqui têm o seu ganha pão, caso contrário, teriam que sair”, sustenta Joaquim Ricardo, que lembra ainda a importância da instituição no apoio à aldeia: “Para além desta componente social, ainda temos uma parceria com a Câmara Municipal do Sabugal e somos nós que, praticamente, mantemos a escola primária e à pré-primária a funcionar. Servimos 20 refeições por dia, prestamos apoio no pré-escolar e ainda fazemos o transporte e a receção de manhã e o lanche à tarde. E a escola também vai mantendo a aldeia viva. Por outro lado, durante a pandemia, fomos praticamente os bombeiros aqui da região, porque quando havia surtos em instituições, nós fornecíamos-lhes refeições. E, atualmente, apoiamos algumas instituições no fornecimento de refeições”.
Não há inqueritos válidos.