CENTRO SOCIAL PAROQUIAL DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, GUARDA

Instituição da Castanheira pondera seriamente desistir do projeto aprovado pelo PRR

O Centro Social Paroquial de Nossa Senhora da Conceição, em Castanheira, concelho da Guarda, foi fundado em 2001, depois da população pedir ao pároco local para criar uma estrutura de apoio à comunidade, tal como tinha feito numa paróquia vizinha.
“Esta casa surgiu por vontade de pessoas da terra. Na altura, o pároco era o padre Messias Coelho, que tinha fundado, numa terra vizinha, um centro paroquial. Então, as pessoas pediram-lhe para que criasse, inicialmente, um centro de dia e, futuramente, um lar de idosos”, começa por contar o padre Ângelo Martins, que pegou nos destinos da instituição em 2006.
“Quando vim para pároco da Castanheira em 2006 e já havia um projeto desenhado para criar a valência de ERPI. O tempo foi passando até que se agarrou no projeto e se deu início à construção, sem qualquer apoio financeiro de programas estatais, do equipamento onde agora estamos. Em 2011, abrimos a valência de lar, cujo financiamento da construção se fez com um empréstimo bancário, o qual ainda estamos a pagar, e com dádivas das pessoas da terra, que rendeu mais de 180 mil euros”, recorda, deixando um lamento: “Ainda carregamos o fardo do empréstimo e que ainda é pesado para as contas da instituição”.
Ainda assim, e olhando às necessidades da região, que não passa propriamente por mais vagas em lar, a instituição decidiu avançar com um projeto ambicioso.
“Desde que abrimos a ERPI, começámos a pensar em lançar-nos noutros projetos. O objetivo não era criar mais lugares em ERPI, mas avançarmos para um Lar Residencial e um CACI [Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão], para pessoas da área da deficiência. Então, há dois anos começámos a fazer um projeto”, conta, revelando: “Elaborámos o projeto, candidatámo-lo ao PARES 3.0, que, primeiro, veio recusado, porque faltava um papel. Depois, candidatámo-nos ao PRR, com o projeto a ser aprovado em setembro de 2022, mas apenas para o CACI. O Lar Residencial ficou de fora, porque não era candidatável. Entretanto, os valores de obra dispararam todos. Mesmo assim, lançámos o concurso público em março de 2023, já com um valor mais realista e este disparou em quase 500 mil euros”.
Perante um cenário difícil e muito mais oneroso do que inicialmente previsto, os responsáveis pela instituição ponderam seriamente desistir da candidatura.
“Neste momento, já temos algumas respostas ao concurso público, mas ainda não fechámos contrato, porque continuamos à espera e sempre na expectativa que o PRR possa dar uma ajuda, se bem que já foi anunciado um reforço de 20%. No entanto, os 742.500 euros que foram aprovados e com os 20% de majoração... ainda precisamos de milhão e meio”, sublinha, enumerando ainda outros problemas que o futuro pode trazer: “E o milhão e meio que falta, apesar de nos ser garantido em algumas entidades bancárias, tem um senão: é que podemos lançar-nos a isto e daqui a 20 meses temos a obra feita, mas não temos garantia de ninguém que temos acordos de cooperação para o Lar Residencial e para o CACI. Se agora, com o empréstimo bancário que temos, já é um encargo residual, um novo empréstimo quadruplica o encargo financeiro. Por isso, estamos com os pés muito bem assentes na terra, estamos à espera a ver o que dá, mas estamos inclinados para recusar o PRR e não avançar com a obra”.
Mas os obstáculos não se ficam por aqui e o caso específico da instituição da Castanheira volta a ser um espelho da realidade das IPSS em todos o país: falta de recursos humanos para contratar.
“E a nossa recusa tem ainda outra razão, que se prende com os recursos humanos. Se abrirmos as novas valências precisamos de mais 25 trabalhadores, no mínimo, e não há garantias que aqui no interior vamos conseguir encontrar esses 25 trabalhadores”.
Para além dos trabalhadores de ação direta e auxiliares, a instituição, para além da Direção-Técnica, tem ainda enfermeira, animadora sociocultural e fisioterapeuta a tempo inteiro, “o que é uma mais-valia”, refere o padre Ângelo Martins, que acrescenta: “E isto exige um esforço financeiro grande, mas nós estamos aqui à procura de dar qualidade de vida às pessoas e não de ficarmos ricos”.
Com a resposta de lar suficientemente coberta, apesar das listas de espera, na região, a aposta na área da deficiência surge pelas necessidades reconhecidas por todos e bem evidentes mesmo dentro das portas da instituição da Castanheira.
“Neste momento, temos quatro pessoas em ERPI que poderiam estar em Lar Residencial, porque essa era a resposta adequada para elas”, revela o padre Ângelo Martins, ao que a diretora-técnica Liliana Saraiva acrescenta: “Nós temos utentes de SAD que são pais de utentes de ERPI, porque, apesar de ainda não serem idosos, são pessoas com deficiência”.
Por outro lado, segundo o pároco, “nunca se equacionou alargar a ERPI, porque aqui na zona são tantos os lares de idosos, que não seria uma boa opção”.
“O rácio de ERPI, não apenas no concelho da Guarda, é enorme. Há uma série de ERPI aqui à volta e estarmos a aumentar a capacidade não seria uma boa escolha, porque a médio prazo já não vamos ter velhinhos para colocar nos lares. De momento, temos uma lista de espera de 74 pessoas”, acrescenta.
O Centro Social Paroquial de Nossa Senhora da Conceição acolhe, de momento, 30 idosos em ERPI e cinco em Centro de Dia e ainda apoia em SAD 18 utentes, com uma equipa de 21 funcionários, a que se junta um médico.
“Temos mais de metade dos utentes em lar com uma situação financeira bastante boa, mas temos outros que já não é assim. As pessoas procuram esta instituição pelo número de serviços que tem e que elas sabem que têm de ser pagos. Mais de metade tem uma situação muito favorável, porque temos muitos emigrantes regressados da Alemanha”, afirma o pároco, ressalvando: “E não temos acordos de cooperação para todos os utentes, das 30 vagas só 19 estão protocolizadas. Já no SAD só quatro utentes têm acordos de cooperação a 100%, todos os outros são apenas a 50%”.
Uma vez mais, à semelhança do que se passa no universo das IPSS em Portugal, isto exige uma gestão muito criteriosa, até porque há encargos que é preciso cumprir.
“Neste momento, faltam-nos três anos para pagar o empréstimo e estamos a negociar alargar este prazo para cinco anos para conseguirmos reduzir a prestação para cerca de metade da atual, porque tudo aumentou. Só a conta do gás mais do que duplicou em apenas um ano e continua tudo a aumentar”, argumenta, ao que a diretora-técnica acrescenta: “Quem nos representa, o senhor padre Lino Maia, tem de ter uma voz muito forte nas negociações, mas tenho medo do que pode vir por aí. Se não for de encontro às nossas necessidades, temo que muita porta se vá fechar”.
“O padre Lino Maia revelou o teto máximo para a negociação, mas temo que tudo fique na mesma. As questões são as mesmas há anos, o pessoal que trabalha nas IPSS tem os salários mais baixos e não há maneira de as instituições poderem pagar mais, por mais que queiram” afirma o padre Ângelo Martins, lembrando ainda alguns absurdos que continuam a acontecer: “Depois, esta caça inspetiva que existe pelas razões mais absurdas. Até parece que as IPSS estão a prestar um melhor serviço que podem, mas mesmo assim não está bem para quem não comparticipa nem metade das despesas que elas têm. Estamos a fazer um trabalho social e o que pedimos é para nos darem mais alguma coisa para conseguirmos fazer o trabalho. Isto não gera riqueza, pelo contrário, mas é trabalho social”.
E como seria a Castanheira sem o Centro Social Paroquial de Nossa Senhora da Conceição?
“Neste momento, a terra decresceu muito em termos de população, mas o Centro Social continua a imprimir dinâmica à própria população. Primeiro, o lar está sempre ocupado, depois participamos nas festas e estamos plenamente inseridos na comunidade. E é sempre uma porta aberta para a população. Depois, ainda empregamos algumas pessoas da terra”, sublinha o presidente da instituição, que destaca ainda outra vantagem para a localidade: “Prestamos muitos serviços à comunidade. A instituição tem um carácter diferenciador de todas as que estão aqui à volta. Somos os únicos que temos enfermeira, animadora sociocultural e fisioterapeuta a tempo inteiro, o que para a comunidade é uma mais-valia, porque através destes profissionais damos também assistência à comunidade de Castanheira. E, desde que abrimos, é algo de que nunca abdicámos, apesar do esforço financeiro, porque ao final do mês, muitas vezes temos que engendrar esquemas para tapar buracos”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2023-07-12



















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