EUGÉNIO FONSECA

A resposta das IPSS às alterações climáticas

No princípio do próximo mês de dezembro, no Dubai, realiza-se mais uma Conferência da Convenção-Quadro sobre as Alterações Climáticas, conhecida como COP28. Muito se espera desta Conferência, até porque as Nações Unidas já reconheceram que os objetivos definidos, em 2015, e os resultados, até agora, alcançados são dececionantes. A meta é o ano de 2030 e, ainda, só foram cumpridos 15% dos objetivos delineados. Este problema é muito grave, pois não se conseguem controlar as emissões que causam o aquecimento global e provocam as nefastas alterações climáticas, facto que está a comprometer a nossa existência à face da terra. Os sinais são já evidentes com a indefinição climática das estações do ano, a ocorrência de prejudiciais fenómenos naturais que têm posto em causa muitas vidas e patrimónios. Quando esses desastres, como tufões, cheias, ciclones, enxurradas… acontecem, são sempre os mais pobres altamente prejudicados.  

Preocupado com o futuro do Planeta, como sempre o tem demonstrado, mas fazendo-o de uma forma mais sistematizada com a publicação, em maio de 2015, com a célebre carta encíclica Laudato Si’, vem, agora, o Papa Francisco, antecipando-se à Conferência, atrás referida, oferecer-nos uma exortação apostólica a que deu o nome de Laudate Deum (Louvai a Deus) na qual expressa a sua opinião sobre a gravíssima crise climática. Apesar de se tratar de um documento escrito por um Papa, a sua mensagem é dirigida a todas as pessoas de boa vontade. Quer dizer, a quem já está consciente dos riscos que a humanidade corre e uma oportunidade para os que ainda não o estão, possam sentir o dever da não indiferença.

Assim, o primeiro convite que deixo a todos os dirigentes, diretores ou coordenadores técnicos e demais trabalhadores das nossas IPSS é que leiam este pequeno texto. Seria muito interessante que essa leitura fosse mesmo feita por grupos e comentada entre os seus elementos, assumindo compromissos concretos a nível pessoal e coletivo, a começar pela instituição. Não seria descabido, promover mesmo reuniões com os pais das crianças e jovens ou familiares de outros utentes dos diferentes equipamentos sociais para os consciencializarem de que o Planeta está em perigo e que, quem nele habita agora, tem responsabilidades quanto ao futuro das gerações futuras.

Francisco é muito claro e contundente na constatação do trágico fim que teremos, se nada fizermos, desde já, ao escrever o seguinte: «Por muito que se tente negá-los, escondê-los, dissimulá-los, ou relativizá-los, os sinais da mudança climática impõem-se-nos de forma cada vez mais evidente. Ninguém pode ignorar que nos últimos anos, temos assistido a fenómenos extremos, a períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da Terra que são apenas algumas expressões palpáveis duma doença silenciosa que nos afeta a todos. É verdade que nem todas as catástrofes se podem atribuir à alteração climática global. Mas é possível verificar que certas mudanças climáticas, induzidas pelo homem, aumentam significativamente a probabilidade de fenómenos extremos mais frequentes e mais intensos.»[1]. Mesmo antes de chamar a nossa atenção para «os gemidos da terra», o Papa refere o mal que este gravíssimo flagelo tem na vida dos, socioeconomicamente, mais vulneráveis, seja a nível habitacional, do trabalho, da saúde, sem esquecer os migrantes e refugiados.

Sei que já muitas IPSS investiram na criação de condições em ordem à rentabilização climática dentro das mesmas, bem como na instalação de aparelhos, lâmpadas, veículos que permitem uma maior poupança energética. Deveria ser um imperativo para cada instituição, devidamente apoiada com recursos financeiros do Estado e sem burocracias paralisantes, a imediata adaptação dos espaços em que possa haver mais desperdício energético ou ainda a utilização de equipamentos que emitem níveis de poluição dispensáveis. Já não é possível que em alguma das nossas IPSS não se tenha a preocupação básica pela separação dos resíduos, a opção pela reciclagem ou mesmo o incremento da economia circular. Estes são fatores que podem contribuir, com algum significado, para a sustentabilidade das nossas instituições. Todavia, já me parece mais difícil que, em determinados agregados familiares, estes costumes, pelo menos o da separação de resíduos, seja uma boa prática. Por isso, há uma responsabilidade acrescida das Educadoras de Infância, Sociais ou Familiares, das Assistentes Sociais, das Animadoras Socioculturais, em conjunto com as demais colaboradoras, de darem asas à sua criatividade, de modo a incentivarem à utilização destas boas práticas. 

Não tenhamos dúvidas de que este monstruoso problema só se resolve quando os responsáveis das Nações, os tais que se hão-de reunir no Dubai, assumirem os compromissos, que sabem já quais são, e os cumprirem na verdade. Todavia, nenhum cidadão do mundo está dispensado de dar a sua parte no local onde vive e de chamar a si as responsabilidades que lhe são acometidas e intransmissíveis.  É isso mesmo que nos aconselha o Papa Francisco: «Os esforços das famílias para poluir menos, reduzir os esbanjamentos, consumir de forma sensata estão a criar uma nova cultura. O simples facto de mudar os hábitos pessoais, familiares e comunitários alimenta a preocupação pelas responsabilidades não cumpridas pelos setores políticos e a indignação contra o desinteresse dos poderosos. Note-se, pois, que, mesmo se isto não produzir imediatamente um efeito muito relevante do ponto de vista quantitativo, contribui para realizar grandes processos de transformação que agem a partir do nível profundo da sociedade[2].

Então, que cada um faça a sua parte e, reitero o pedido inicial, não deixem de ler a Laudate Deum.


[1] Cf. FRANCISCO, Exortação Apostólica Laudate Deum (4 de outubro de 2023), Prior Velho: Editora Paulinas, 2023, 5.

 

 

Data de introdução: 2023-11-08



















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