À semelhança do que o Solidariedade tem feito noutros distritos, regressou a uma instituição onde já havia passado para conhecer as mudanças ocorridas, no caso da Fundação Betânia há sete anos.
Foi em 2017 que a nossa reportagem passou por Bragança, numa altura em que o grande desiderato da Fundação Betânia era criar duas zonas na ERPI, uma para pessoas com algum tipo de demência e outra para pessoas já com outro tipo de exigências, como computadores, internet, etc..
Sete anos volvidos, o projeto está concretizado, com a criação da Casa Monsenhor Adelino, o único fundador vivo, após a morte do cónego Folgado. Com esta nova estrutura, com capacidade para 30 utentes, a instituição acabou por aumentar apenas quatro lugares em resposta residencial, porque reduziu a capacidade do lar original de 68 para 42.
A distribuição dos utentes pelas duas áreas é feita criteriosamente.
“Os utentes quando chegam são avaliados para depois serem encaminhados para os serviços e atividades mais condizentes com a sua condição. Naturalmente, eles acabam por criar o seu grupo de pares e, neste momento, não sentimos essa dificuldade. Quando entra um utente novo, em que a situação não foi devidamente acautelada pela família, demora-nos algum tempo a criar harmonia no grupo, mas temos conseguido bons resultados”, explica Paula Pimentel, vice-presidente da instituição, que em 2017 dizia que “75% dos utentes tinham algum tipo de demência”.
“Penso que essas percentagens aumentaram. Há pessoas muito jovens que precisam do nosso apoio. Depois, temos a possibilidade de oferecer uma série de atividades e serviços que ajudam, por um lado, a estabilizar o estado da doença e, por outro, a ocupar o dia a dia, porque muitas vezes o problema é as pessoas passarem o dia em casa em frente a um ecrã de televisão. No entanto, a solidão acaba por se instalar e não ajudar em nada. Quando eles vêm, quanto mais não seja, a proximidade do grupo de utentes, a necessidade de ter que falar e interagir com a equipa é um estímulo muito importante”, sustenta.
Na altura, Paula Pimentel considerava que a resposta de Centro de Dia era “uma antecâmara do lar”.
“E continua a ser assim. Há pessoas que nos procuram porque acham que é a solução mais vantajosa, porque ainda há famílias que têm dificuldade em aceitar a integração dos familiares no lar. No entanto, como sentem que a pessoa se integrou bem, e muitas vezes é o próprio utente a pedir, isso acaba por ser facilitador no processo de transição para o lar. Isto, quando acontece, é uma mais-valia para a instituição, porque um utente em Centro de Dia dá-nos prejuízo, até porque não temos acordos de cooperação”, lamenta, sublinhando: “Porque para termos capacidade de resposta aos pedidos, temos de aplicar as mensalidades como se a resposta fosse protocolada. Temos à nossa volta pessoas que precisam de nós, mas têm pensões muito baixas. Então, tentamos calcular a mensalidade como se tivéssemos acordo e estamos sempre à espera que esses acordos cheguem! Depois é um serviço muito completo que, no fundo, só não tem a componente da dormida”.
Em 2017 surgia algo que é a menina dos olhos da Fundação Betânia, o Ginásio do Cérebro Sénior e que pretendia revolucionar a estimulação dos mais velhos.
“A avaliação que fazemos é extremamente positiva. Aliás, o espaço é ocupado para treino cognitivo diário, com grupos diferentes e com diferentes níveis de cognição, mas também é usado para a estimulação sensorial. E, pelo menos, uma a duas vezes por mês serve de espaço de relaxamento para os trabalhadores, que merecem e precisam de um momento de descontração”, revela Paula Pimentel, explicando: “Aquilo que nós vemos é que, em termos de evolução da própria demência, os utentes acabam por estabilizar, acabam por relembrar tarefas do quotidiano deles, por treinar competências como a audição, a visão ou o cálculo numérico e, depois, a importância da própria socialização. Isso ajuda-nos a fazer com que eles se sintam ocupados, a trabalhar determinadas competências e a ocupar o dia a dia”.
Há sete anos, era intenção dos responsáveis pela instituição criar a Casa Cultural Cónego Folgado, na aldeia natal do fundador, mas as dificuldades financeiras têm adiado o projeto.
“Continuamos com o projeto pendente. Neste momento, estamos a fazer uma reavaliação para ver se conseguimos com algumas parcerias executar esse projeto”, sustenta Paula Pimentel, acrescentando: “Apesar de querermos muito fazer memória do fundador, queremos muito reunir condições para podermos reforçar o reconhecimento aos trabalhadores. Devemos muito às nossas equipas e queríamos muito poder premiar os bons desempenhos, o que, neste momento, é impossível, porque estamos sempre muito limitados”.
Sobre o futuro, Paula Pimentel defende que a instituição, neste momento, quer “garantir a sustentabilidade e poder proporcionar as melhores condições a quem está connosco e a quem se dedica a esta causa”.
E lembra: “Nunca tivemos falta de candidatos, mas, hoje em dia, no caso da Fundação Betânia, começa a haver falta de candidatos com perfil adequado às exigências deste sector e da nossa atividade. Queria muito que pudéssemos premiar aquelas pessoas que merecem, precisamente para termos mão de obra assegurada no futuro. Os utentes têm cada vez maior dependência e não é fácil sermos completos. Para além de tecnicamente estarmos formados, há o aspeto da missão e isto implica um grande desgaste, por isso este sector merece ser mais reconhecido”.
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