XVII FESTA DA SOLIDARIEDADE – BRAGANÇA 2024

O que move toda esta gente é ver os outros sorrir

Por entre montes e vales, numa paisagem pintada de verde, onde sobressaem as oliveiras e os castanheiros, e sob um céu por vezes carregado de negras e densas nuvens ou debaixo de um sol intenso e brilhante, a Chama da Solidariedade percorreu os 12 concelhos que formam o distrito de Bragança. Foi uma jornada intensa, com o símbolo da solidariedade social protagonizado pelas IPSS a ser recebido sempre com grande entusiasmo, registando-se em todas as sedes de concelho uma enorme participação das instituições locais, mas também da população em geral.
Em Bragança, na praça que antigamente era o talho municipal, no quinto e derradeiro dia, aconteceu a XVII Festa da Solidariedade, iniciativa da CNIS, que este ano concretizou em parceria com a União das IPSS do Distrito de Bragança (UIPSSDB).
Diversos e inúmeros grupos de IPSS de todo o distrito animaram a vasta plateia que, desde as 10h00, assistiu aos muitos espetáculos que decorreram até às 17h00, na última sexta-feira de setembro.
No momento institucional, para além das palavras bonitas sobre mais uma iniciativa e os justos agradecimentos a quem concretizou mais uma edição da Chama e da Festa, os intervenientes deixaram algumas palavras de alerta, para o sector que precisa do apoio de todos.
“A solidariedade não pode morrer e temos de gritar bem alto às autoridades deste país que é preciso que compreendam este sector, para que haja menos gente pobre e mais gente feliz”, sustentou o presidente da CNIS, lembrando que, “em muitas aldeias, o único serviço que as pessoas têm é das IPSS e é aí que se sente mais a solidariedade”.
Depois, o padre Lino Maia recordou que “750 mil pessoas sentem-se mais incluídas e têm mais atividade apoiadas por mais de cinco mil IPSS”, 3110 das quais são associadas da CNIS.
“Para além deste número, há pelo menos 50 mil dirigentes que servem com o gosto de ver sorrir as pessoas que servem e não pelo interesse financeiro. E há ainda 350 mil trabalhadores, que ganham pouco, mas que, mesmo assim, se dedicam com coração”, defendeu o presidente da CNIS, sublinhando que “O que move toda esta gente é ver sorrir as pessoas e fazer com que tenham atividade e mais esperança”.
“A Chama andou por todo o distrito não para convocar as pessoas, por que aqui estão mais do que sensibilizadas, mas para solidariedade não seja infestada por ervas daninhas. Só temos uma sociedade mais humana quando se fizer um caminho mais humanizante”, asseverou o padre Lino Maia, rematando: “Há locais onde parece que há mais silvas do que flores”.
Antes, Paula Pimentel, presidente da UIPSSDB, já deixara alguns alertas para que mais flores possam surgir em vez de silvas.
“Trazer este evento a Bragança é também um ato de solidariedade para com o distrito, uma forma de mostrarmos como, o trabalho do sector social e outros sectores, é mais difícil nestes concelhos, mais honroso, às vezes quase desesperante, porque não temos recursos para dar à nossa gente o cuidado que merece e precisa”, afirmou, acrescentando: “A dignidade do ser humano é igual aqui ou em qualquer outra parte do país, as necessidades dos doentes, das crianças, dos idosos são iguais, a resposta que lhes damos é que é diferente. E não é porque quem trabalha na área social não queira fazer mais, dar sempre o melhor, é porque quem trabalha nestas áreas se vê, muitas vezes, impotente para dar respostas, porque elas não existem no nosso distrito”.
A líder da União lembrou, depois, “os custos de funcionamento que são superiores e as distâncias e os custos com combustíveis, as distâncias para recorrer a unidades hospitalares, para fazer tratamentos e tantos outros fatores”, deixando um apelo: “A solidariedade que hoje reclamamos, não da nossa gente, mas das entidades que nos governam, é que olhem para nós com justiça, com dignidade e respeito”.
Antes, Paula Pimentel já agradecera a todos os envolvidos no percurso da Chama pelo distrito e na concretização da Festa em Bragança e resumiu o que foi essa viagem pelos 12 concelhos: “Chama da Solidariedade pretende promover a reflexão sobre o comportamento individual e coletivo da nossa sociedade, alertar e consciencializar a população e as entidades para a necessidade de cuidar dos mais vulneráveis, mas nesta caminhada o que nós vimos, o que nós sentimos, é que essa consciência está bem desperta, diria mais, está enraizada na forma de ser e de estar da nossa gente”.
Por seu turno, D. Nuno Almeida, bispo de Bragança-Miranda, deixou “uma palavra de gratidão às IPSS” e lembrou aos presentes que “não é a política que divide a sociedade, nem o futebol, a fronteira que divide a sociedade está entre quem é solidário e quem não é, entre a gente que encontra sempre tempo para dar algo e os que nunca encontram tempo ou dinheiro para ajudar o outro”.
Já a vice-presidente da Câmara Municipal de Bragança sublinhou que a “Festa visa celebrar festivamente o ideal do serviço solidário aos que mais precisam, desenvolvido diariamente pelas IPSS e organizações do tecido social do território”, “uma Festa símbolo na diversidade, polo aglutinador de projetos, de sonhos, de olhares e de alegrias partilhadas porque alimentadas na esperança de um mundo mais solidário, equitativo e inclusivo”.
Fernanda Silva terminou “com o compromisso de continuarmos a valorizar o papel e função de cada instituição, segundo uma visão integrada e num contexto de um plano estratégico participativo e colaborativo”.
Findo o momento institucional, a Festa prosseguiu com as atuações de grupos de seniores, pessoas com deficiência e crianças que animaram as hostes com as suas músicas, danças e poesia, entre outros.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2024-09-28



















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