EUGÉNIO FONSECA

O VOLUNTARIADO, EM PORTUGAL, MERECE MAIOR RECONHECIMENTO

Com a finalidade de promover e valorizar o voluntariado em Portugal, através da seleção de um Município Português, como “Capital Portuguesa do Voluntariado”,  ocorreu  no passado dia 20 de janeiro, a cerimónia da abertura oficial do Município da Maia como a Capital Portuguesa do Voluntariado, com a presença do Senhor Primeiro Ministro, de outros membros do Governo, de deputados e eurodeputados, do Bispo do Porto, de autarcas de diferentes Câmaras Municipais e de Juntas de Freguesia, bem como de representantes de muitas instituições da sociedade civil.

 Por coincidência, ou melhor, por mérito próprio, em 2026, o mesmo município será, como Lisboa o foi em 2015, Capital Europeia do Voluntariado. Para 1.ª Capital Portuguesa do Voluntariado o júri, no ano passado, escolheu o Concelho de Cascais. Com o envolvimento do Executivo Camarário, e com uma equipa excelentíssima, impulsionada pelas colegas do dinâmico Departamento, mais envolvente, que é o da Participação e Cidadania, dão um relevo e apoio extraordinário às instituições que acolhem voluntários. Por isso, todos os anos têm programas interessantes para motivar e envolver pessoas para esta prática da cidadania, às quais deram maior relevo e acrescentaram muitas outras, enquanto foram a Capital. Realizou-se um vastíssimo e diversificado conjunto de atividades, com tanta qualidade que despertaram o interesse de muita gente. Pergunto: o país teve conhecimento de todos estes acontecimentos? Na Maia, estiveram representantes de quase toda a comunicação social. Ficámos felizes, pois tão significativa presença seria uma forma de fazer chegar a todo o Portugal uma maior sensibilização para doar o tempo em favor do bem comum. Bem sabemos, como o individualismo está a crescer; como se vai perdendo o sentido de que sem fazer os outros felizes, nunca se conseguirá a própria felicidade; como há gente que não se sente realizada com o seu trabalho remunerado; como são muitos os que se sentem sem rumo, quando se reformam. A prática do voluntariado tem um potencial de respostas para preencher o sentido da vida. Pode-se escolher, livre e responsavelmente, entre outras ocupações, agir de forma colaborativa de modo a que: haja quem procure um rumo mais próspero para a sua vida; tenha mais conforto nos hospitais, nos Centos de Dia, nas ERPIS que, por falta de tempo, nem sempre os funcionários conseguem fazê-lo; que exista quem, por algumas horas, seja a “luz” na obscuridade da solidão em que vivem tantas pessoas; que tenham gosto por defender e cuidar da Natureza e dos animais, sem se deixarem comprometer com uma cultura de animalização sobrepondo-a à da humanização;  que lute para que a prática do desporto esteja ao alcance de todos e seja para muitos uma forma eficaz de prevenção de males contra si próprios e/ou antissociais; que haja quem vá ajudar no progresso de países em vias de desenvolvimento. Nenhum desempenho de qualquer tarefa, com tempo doado, deverá substituir a criação de postos de trabalho. Se isso acontecer, é uma ilegalidade inqualificável. Esse controlo compete à ACT. Em situação de emergência, pessoalmente, não vejo mal algum. Foi o aconteceu, em alguns casos, durante a pandemia.

Na nossa Confederação Portuguesa do Voluntariado estão Confederadas 49 Organizações que integram cerca de 700.000 voluntários. Como ainda há muitas por se confederarem, calculamos que existam mais de 1.500.000, contabilizando, apenas, os que estão integrados em instituições e que em muitas o voluntariado se reduz aos membros dos Corpos Sociais. Se tivéssemos em conta os que realizam práticas voluntárias espontâneas e não regulares, os designados “voluntários informais” (a designação não me satisfaz), então, o número cresceria exponencialmente.

Era tudo isto, que estava à espera, com muita expetativa, que a comunicação social quisesse saber, no passado dia 20 de janeiro. Afinal, o evento serviu para mais uma oportunidade de se encontrarem com o Chefe do Governo e o questionarem sobre outros assuntos que nada tinham a ver com o voluntariado. Durante esse dia, contam-se pelos dedos de uma mão (e ainda devem sobrar alguns) os media que se referiram ao acontecimento que nos reuniu na Maia.

O voluntariado português precisa de ver devidamente reconhecida a dedicação que coloca no que faz. É que, entre nós, ainda há muita gente que paga para ser voluntária, utilizando o seu carro, os seus telefones ou telemóveis; os materiais que necessitam para as tarefas que desempenham, etc…. Espero que a remodelação da Lei de Bases sobre o Voluntariado (Lei 71/98 de 3 de novembro), em breve, apresentada à Assembleia da República, venha a ser aprovada por já não estar conforme os desafios que, presentemente, se colocam ao voluntariado. No caso de ser aprovada e para que não leve demasiado tempo a ser regulamentada, como nalguns casos é usual, a Confederação Portuguesa do Voluntariado, com outras entidades parceiras, nomeadamente a CASES, já está a preparar um conjunto de propostas a apresentar ao Governo para a criação do necessário Decreto-Lei.

Uma sociedade sem gente que não seja capaz de doar o seu tempo, não tem alma. Neste setor do voluntariado estamos na cauda da Europa. Sofremos de um problema: somos um povo de uma generosidade grandiosa, mas com muita dificuldade em assumir compromissos. Como se vence este paradoxo? Salvo outras opiniões, é vendo como se faz, ou seja, é o testemunho credível de quem já assume o estatuto de voluntário que poderá entusiasmar outros também sê-lo. Mas é imprescindível a cooperação dos meios de comunicação social locais regionais e nacionais. Não acredito que o público não se interesse por temas relacionadas com esta área da cidadania. Para além do mais, ao colocarem-se assuntos desta vertente na agenda dos media, poder-se-ia alimentar a esperança de constatarmos que o mundo não é tão mau como aparenta. O muito de bom que já se faz, são centelhas de confiança de que é possível fazer diferente, para melhor.

Termino com um alerta do Papa: «O mundo precisa de voluntários e de organizações que queiram comprometer-se com o bem comum. Sim, essa é a palavra que muitos hoje em dia querem apagar: 'compromisso'. E o mundo precisa de voluntários comprometidos com o bem comum[1] 

                                                                            

 

 

[1] Cf. in https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-12/papa-francisco-intencao-oracao-dezembro-voluntarios-organizacoes.html.

 

Data de introdução: 2025-02-05



















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