Emprestar os olhos para a leitura de um livro, fazer as compras no supermercado e ir à farmácia ou tão-só conversar e fazer um pouco de companhia. É este o espírito do programa "Mais Voluntariado, Menos Solidão", que visa atenuar o isolamento dos idosos que vivem sós em Lisboa - e que o Presidente da República, Jorge Sampaio, conheceu em detalhe na visita à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), no arranque das suas jornadas dedicadas ao "Envelhecimento e Autonomia".
Criado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em parceria com a Cruz Vermelha Portuguesa e a Associação Coração Amarelo, em 2003, o projecto iniciou-se em seis freguesias da capital, mas os resultados foram tão positivos que, em Janeiro deste de ano, o programa foi alargado às 53 freguesias da cidade.
Agora há cerca de cem voluntários de todas as idades (entre os 26 e os 60 anos) envolvidos no programa, que recebem formação e que "prestam este tipo de apoio a cerca de 60 idosos da capital", explica Odete Farrajota, uma das criadoras do programa na SCML e também sua responsável.
À semelhança do acontece no resto do País, Lisboa é hoje uma cidade muito envelhecida: 133 304 dos seus habitantes, ou seja, um quarto dos lisboetas, têm actualmente mais de 65 anos. E destes, 33 770 vivem totalmente sós, como mostram, na sua crueza, os números do Censos de 2001, do Instituto Nacional de Estatística.
Conforme noticia o DN, entre 1991 e 2001, o número de idosos cresceu 7 % em Lisboa, tendência a que não foi alheio o despovoamento imparável que na mesma década afectou a cidade. Nesse período, a capital perdeu algo como cem mil habitantes. Os jovens migraram para os subúrbios, onde a aquisição de habitação era menos onerosa, e os que ficaram foram envelhecendo. Hoje, Lisboa é uma das cidades mais envelhecidas da Europa, ocupando o 9.º lugar num ranking de 258 cidades europeias elaborado em 2004 pelo Eurostat (organismo que faz os estudos estatísticos da UE).
Esta realidade, de resto, tem tendência a agravar-se no futuro e vai exigir respostas adequadas da comunidade, já que esta é uma população potencialmente frágil e dependente.
Além de uma rede de centros de dia e de residências, que crescerão em 2006, a SCML tem um serviço de apoio domiciliário a esta população dependente, com cuidados especializados de saúde, higiene e outros, que abrange cerca de 1500 idosos - um terço dos que recebem este tipo de auxílio na cidade. Os outros dois terços são assegurados por instituições particulares sem fins lucrativos e por algumas entidades privadas. Mas, globalmente, a taxa de cobertura deste serviço domiciliário é de 3,7%. Com as necessidades a aumentarem nos próximos anos, todos estes apoios terão, forçosamente, de ser também reforçados.
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Data de introdução: 2005-11-28