PRESIDENTE DA UDIPSS DE CASTELO BRANCO:

O futuro passa pelo trabalho em rede

O Solidariedade prossegue, nesta edição, a ronda pelas UDIPSS iniciada no passado mês de Julho. Convidado deste mês o Eng. Vítor Rechena, Presidente da UDIPSS de Castelo Branco. Engenheiro têxtil, com 61 anos, cumpriu o seu percurso profissional ao serviço da Administração Pública, primeiro no IEFP, depois no IAPMEI.
Percurso muito marcado pelas questões sociais, da recuperação de empresas à promoção de emprego. Já em 1975 trabalhava com deficientes. Considera gratificante o exercício da presidência da UDIPSS albicastrense, apesar de “muito trabalhosa”.


Solidariedade - Como têm decorrido os primeiros tempos da União?
Vítor Rechena
- Creio que podemos fazer um balanço bastante positivo, seja pelo número de instituições inscritas, seja pelas iniciativas já desencadeadas. Temos 85 instituições inscritas, cifra superior à existente aquando do funcionamento do Secretariado. Ao tempo eram 70. Para um total de 110 instituições existentes no distrito, quase atingimos o pleno, porque a maior parte das que não estão inscritas são instituições muito pequenas, constituídas no papel mas sem qualquer actividade. E outras há que, como é sabido, estão inscritas na União das Misericórdias, não tendo, por esse facto, sentido interesse numa duplicação de inscrições.

Solidariedade - Quanto a iniciativas levadas a cabo pela União…
Vítor Rechena
- A primeira delas teve a ver exactamente com a sensibilização das instituições para a sua inscrição na União. Seguimos o lema da CNIS, a União faz a força. Tivemos eleições para os corpos sociais em Novembro de 2002, com a tomada de posse alguns meses depois, em Março do ano seguinte. A nossa primeira medida consistiu na convocação de um encontro de todas as instituições do distrito, filiadas ou não. Esta reunião serviu para sensibilizar os dirigentes das IPSS para a inscrição na União, isto para além de também termos divulgado pormenores sobre o Acordo CNIS-IEFP. Tal sensibilização deu os seus frutos, daí as 85 instituições inscritas.

Solidariedade - Há poucos meses atrás organizaram também um seminário sobre violência doméstica…
Vítor Rechena
- Foi a nossa primeira acção concreta virada para o exterior, após a criação da CNIS. Um seminário muito importante, que nos satisfez bastante atendendo quer ao conteúdo das palestras, quer ao número de inscritos, para cima de 270 pessoas. Considero estes encontros de magna importância, tanto pela reflexão a que nos obriga como pela visibilidade que é dada às IPSS e à União.

Eng. Vítor Requena - Presidente da UDIPSS de Castelo BrancoSolidariedade - Vão prosseguir nessa senda, então…
Vítor Rechena
- Com base no Acordo CNIS-IEFP fizemos um inquérito às insitituições, tendente a apurar os seus problemas, as suas maiores dificuldades, as suas necessidades mais prementes. Verificámos que a área de formação deve ser prioritária, daí que, não pondo de parte a organização de outros seminários, a nossa aposta passará, nos próximos tempos, por incentivar a realização de acções de formação a dirigentes e técnicos. Acções sobre economia social, organização administrativa, contabilística, aproveitamento de recursos humanos. É esta a nossa intenção, assim haja resposta das instituições. Note-se que algumas das IPSS avançam elas próprias com acções de formação, e com muito bons resultados.

Solidariedade - Outra das vossas apostas é a comunicação…
Vítor Rechena
- Resolvemos avançar para a publicação de uma revista. Chama-se União Solidária, tem periodicidade trimestral, e é a cores. Trata-se um projecto recente, o número zero saiu no primeiro trimestre do corrente ano. Eng. Vítor Requena - Presidente da UDIPSS de Castelo Branco
Estamos satisfeitos pela concretização desse projecto, mas deixe-me que lhe faça aqui um lamento: é muito difícil conseguir colaborações para a revista. Há muita gente a prometer e pouca que depois cumpre com o envio de artigos ou notícias. Se me permite, faço daqui um apelo a todos aqueles que gostem dos prazeres da escrita, e aos dirigentes das IPSS, para que nos enviem notícias das actividades que vão realizando, e tantas são. Quem não aparece, esquece, e a divulgação das nossas iniciativas é muito importante.

Solidariedade - Que solicitações recebe a União a que preside, isto por parte das IPSS filiadas?
Vítor Rechena
- Pedem-nos muito apoio no sector da legislação, da contabilidade e também de questões laborais. No interior do distrito há muitas instituições com sede em aldeias. Algumas delas têm direcções sem grandes habilitações, com notória falta de preparação, não só a nível da direcção como também dos técnicos. Não quero dizer com isto que não prestem um bom trabalho, serviços relevantes para a comunidade, nada disso. Só que hoje os tempos são outros, é imperioso admitir técnicos devidamente habilitados. No século XXI já poucos se compadecem com amadorismos. Quem não se actualizar, quem não acompanhar os novos tempos vai ficar para trás.

Solidariedade - Quanto à criação de parcerias, como têm funcionado as coisas no distrito?
Vítor Rechena
- Considero-a uma vertente fundamental para os próximo anos, e uma batalha que tem que ser vencida. Cada vez é mais necessária a criação de parcerias, o funcionamento em rede é fundamental, não tenhamos quaisquer dúvidas em relação a isso. Só que não se tem avançado, ou os avanços são mínimos. São as próprias direcções das instituições que não se sentem motivadas. Prestam bons serviços mas muitas delas estão enquistadas. Ainda funciona muito a mentalidade para a minha casa puxo eu, cada um preocupado com os seus problemas, esquecendo as virtualidades, as vantagens que se podem conseguir através da cooperação, do funcionamento em rede. Por vezes reparamos que se podia ter conseguido o mesmo ou até melhor com custos muito menores para o Estado, se alguns dos projectos tivessem sido concebidos para servir quatro ou cinco instituições em vez de uma só. Há duplicações desnecessárias, é um facto.

Solidariedade - A União é distrital, mas a sede não está na capital do distrito. Porque razão?
Vítor Rechena
- Convencionámos que a sede se localizaria no concelho de residência do Presidente, apenas isso. Por outro lado, o facto de ainda não termos sede própria, e de a Casa do Menino Jesus nos ter facultado instalações também é muito importante.

Solidariedade - Esse "ainda" quer dizer sede própria daqui a algum tempo?
Vítor Rechena
- É uma das nossas metas, e aí, em princípio, será construída em Castelo Branco. Não tanto pelo facto de ser a capital do distrito, mas por se encontrar efectivamente numa zona central do distrito, central tanto em relação à zona raiana, como à zona do Pinhal.

Solidariedade - Para construir uma sede é preciso dinheiro…
Vítor Rechena
- É verdade, e nós temos tão pouco. Vivemos praticamente das quotas das filiadas, com valores bastante exíguos. Para que se faça uma ideia, temos pelo menos uma instituição cuja quota anual é de nove euros. Estamos a pensar subir o valor das quotas, já falei até com o Presidente da Assembleia Geral para inscrever esse assunto no próximo plenário. E estamos também à espera de uma decisão da Segurança Social, quanto a um pedido que em tempos fizemos e do qual, até ao momento, só recebemos resposta verbal. Não directamente para apoiar a construção da sede, mas para cobrir, em parte, as despesas que façamos com iniciativas e projectos a levar a cabo. A nossa interpretação da lei diz-nos que tal é possível, vamos aguardar mais alguns dias. Fizemos um compasso de espera porque se meteram as férias, mas contamos voltar à carga ainda durante este mês de Setembro. É um assunto para o qual a própria CNIS também poderia dar uma ajuda, reforçando a nota. Uma clarificação sobre a possibilidade do apoio directo da Segurança Social às Uniões, até 70% do orçamento destas, beneficiar-nos-ia a todos, e não apenas à UDIPSS de Castelo Branco.

Solidariedade - Que flagelo ode ordem social mais apoquenta a vossa região?
Vítor Rechena
- Destaco um, que não costuma beneficiar da atenção de muita gente, da própria comunicação social também, mas que é terrível. Eng. Vítor Requena - Presidente da UDIPSS de Castelo BrancoRefiro-me ao alcoolismo. É, como sabemos, causador de muitas situações de violência doméstica, desestrutura uma família por completo, coloca em perigo o futuro dos filhos. Apesar disto, não temos nenhuma instituição filiada a trabalhar nessa área. Há uma instituição não-filiada que se tem dedicado a este problema. No entanto, não tem conseguido apoios por parte do Estado, tudo a ver, segundo sei, por questões relacionadas com a sua legalização. Mas no terreno posso comprovar que o Centro de Alcoólicos Recuperados da Cova da Beira fazia um bom trabalho, um trabalho válido, com apoio de médicos, de enfermeiros e de mais pessoal especializado. Dispunham de instalações para se proceder à recuperação dos pacientes, que antes tinham que se deslocara a Coimbra. A União chegou a apoiá-los. Ao que julgo saber o problema com a Segurança Social persiste, e é pena.

Solidariedade - O vosso relacionamento com as autarquias é bom?
Vítor Rechena
- Não noto que haja problemas, mas noto, isso é verdade, uma grande apetência dos municípios para criarem instituições, serviços no campo social. É uma tendência que, como sabemos, não é exclusiva de Castelo Branco, sente-se um pouco por todo o país. Causa algum receio, porque a seguir à municipalização vem a partidarização.

 

Data de introdução: 2004-10-21



















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