As linhas de orientação sobre suspensão e abstenção de tratamento em doentes terminais, apresentadas no Porto, vão ser enviadas nos próximos dias à Comissão Parlamentar de Saúde, para que seja possível legislar nesta matéria ainda na actual sessão da AR. O director do Serviço de Bioética e Ética Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Rui Nunes, ressalvou que estas normas de orientação, com fundamento clínico e ético, "nada têm a ver com eutanásia".
"Permitem, isso sim, sublinhou Rui Nunes que também preside à Associação Portuguesa de Bioética, que os médicos e os enfermeiros saibam quando devem parar no caso de doentes realmente terminais, no que se refere à concretização de manobras extraordinárias (cirurgias, quimioterapia ou reanimação cardiopulmonar)".
Rui Nunes sustentou que "é fundamental fazer chegar à população a diferença ética fundamental entre suspender um tratamento, que não está a cumprir um objectivo e vai causar mais dor e sofrimento ao doente, e eutanásia que tem a ver com a decisão de uma pessoa que entende que a sua vida chegou ao fim e não quer viver mais".
Na prática, segundo disse, os médicos e os enfermeiros irão ter ao seu dispor normas de orientação que lhes permitam tomar decisões sem receio da acusação de negligência médica e dos tribunais. "É importante, por isso, que existam linhas de orientação bem firmes que digam que perante determinada situação é legitimo parar. Isto não é eutanásia, é boa prática médica", frisou o responsável.
Rui Nunes garantiu que nestas "guidelines" a vontade do doente é "um pilar central", uma vez que a sua vontade será sempre respeitada nos termos da ética e da lei. "Creio que será um excelente contributo para que, no futuro, em todos os hospitais portugueses, os médicos e os enfermeiros saibam o que fazer em determinadas circunstâncias, em doentes terminais", acrescentou.
Frisou ainda que "metodologicamente está-se a abrir a discussão à sociedade civil, refinando as linhas de orientação do manual". "Depois vamos endereçá-lo a Comissão Parlamentar de Saúde e às ordens profissionais (médicos e enfermeiros)", disse à Lusa Rui Nunes. O objectivo, frisou, é que as ordens incorporem este manual como "boa prática clínica" e que a Assembleia da República, possa, eventualmente, "verter na letra da lei estas linhas de orientação".
"A Comissão Parlamentar de Saúde está particularmente interessada nesta temática onde existe um consenso tremendo entre os profissionais e na sociedade civil. Não é fonte de clivagem, nem social, nem político-partidária", salientou.
11.01.2008
Data de introdução: 2008-01-12