Os mais velhos, as famílias desestruturadas, as pessoas menos qualificadas e as mais endividadas estão entre as que mais facilmente empobrecem, conclui o I Relatório do Observatório de Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa. O documento explica que o risco de pobreza é mais acentuado também nas populações vulneráveis (crianças, jovens dos bairros mais periféricos e mulheres isoladas com enormes responsabilidades familiares), nos que vêem as suas ocupações e qualificações tornar-se obsoletas e ficam obrigados a fechar os seus negócios, "vendo degradar-se, muitas vezes em idades já avançadas, as suas condições económicas, de habitação e saúde".
"Importa ainda ter em consideração que tais condições se concentram muitas vezes nas mesmas pessoas ou agregados familiares", assinala o relatório. Ainda de acordo com o documento, "estas situações tendem a concentrar-se nos bairros mais antigos das grandes cidades", ou seja, "nos centros históricos que não são renovados e que, frequentemente, são 'invadidos' por uma indústria e um comércio ligados ao turismo", que chamam sobretudo "pessoas vindas de fora de Lisboa".
O estudo alerta igualmente para o facto de existir na capital portuguesa "uma pobreza difusa, não concentrada, que permanece escondida e que, por vezes não expressa as suas necessidades e carências (idosos, pobreza "envergonhada", deficiência...)", bem como "novas formas de empobrecimento e exclusão (endividamento, toxicodependência, destruição das estruturas familiares tradicionais...)".
Existe ainda "uma pobreza extrema com tendência a ser cada vez mais crónica e muito visível", resultante do facto de "as mesmas pessoas concentrem em si diferentes problemas (não possuírem emprego nem grandes qualificações, estarem sem-abrigo, sofrerem de diferentes dependências e encontrarem-se envolvidas nas formas mais subterrâneas de economia informal)".
O relatório destaca igualmente a existência de "uma população que se encontra em risco de pobreza e que, devido a circunstâncias que as ultrapassam e que não podem minimamente controlar (doença prolongada, perda de emprego, viuvez, catástrofes naturais, etc.), podem cair em situações de grave carência e, no limite, numa situação de pobreza extrema".
O documento adianta outros dados, revelando que, em 2006, Lisboa tinha 16.302 pessoas a receber o subsídio de desemprego e 4.332 titulares do Rendimento Social de Inserção. Refira-se igualmente que, em 2005, havia cerca de 136.300 beneficiários da pensão de velhice em Lisboa (recebendo em média cerca de 486,25 euros mensais), enquanto ao nível da pensão por invalidez foram contabilizados, nesse mesmo ano, 23.961 beneficiários, que auferiam em média 315,15 euros mensais.
A análise realizada pelo Observatório de Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa conclui ainda que a heterogeneidade que caracteriza muitas freguesias de Lisboa (onde existem pessoas em situação de grande pobreza e outras a viver medianamente) dificulta a aplicação de soluções de combate à pobreza.
Segundo o documento, verifica-se um desajustamento entre as respostas dadas pelo organismos públicos e as necessidades das populações pois, apesar da lista de planos, programas e medidas que actuam na capital ser "enorme", apenas 10,9 por cento mostram ter "objectivos directos no combate à pobreza".
26.02.2008
Data de introdução: 2008-02-26