CNIS

Treze mil idosos à espera de um lar

Portugal tem 13 mil idosos em lista de espera para os lares apoiados pelo Estado. O número foi avançado ontem pelo padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIS), após admitir a possibilidade de algumas destas valências receberem donativos de particulares em troca de vagas.

"O Estado paga menos de 330,25 euros por cabeça, independentemente das necessidades de cada um; a maioria dos utentes comparticipa com muito pouco porque as reformas são baixas; e os custos por cada pessoa são superiores a estas duas parcelas. Estas instituições ponderam constantemente a sua subsistência", justificou. Por outro lado," são milhares os que esperam por um lugar num lar", disse, salvaguardando, porém, que "seria conveniente que situações destas [o donativo em troca de uma vaga] não acontecessem".

O presidente da CNIS reitera que as IPSS's fazem um esforço de sustentabilidade muito grande, sendo que há dois anos foi prometido pelo Governo a renegociação do modelo de cooperação, visando uma maior participação estatal. "Em Julho de 2006 surge a proposta para estudar-se um novo modelo, que pretendia ponderar os custos reais e diversificar a comparticipação [em função das necessidades dos utentes]. Acontece que, desde então, não voltou a haver diálogo sobre o assunto", contextualizou.

O Governo não avança com um modelo actualizado de cooperação, leia-se comparticipação, e as IPSS's vêem-se a braços com a sua sustentabilidade. "Os idosos ficam mais tempo nos lares e cada vez mais dependentes, o que implica maiores custos; e o Estado dá menos de 350 euros por cada um. O montante é uniforme e ignora necessidades específicas. Por outro lado, as pessoas têm reformas muito baixas, participando com pouco", especificou o padre Lino Maia.

Estratégias de gestão

Neste frágil equilíbrio de contas - onde aquilo que o Governo dá e aquilo com que o utente comparticipa não chegam para cobrir os custos - o recurso aos donativos é uma das estratégias de subsistência. "Não podemos aceitar só os pobrezinhos, senão não sobreviveríamos". A tradução, em parcas palavras, é do cónego Francisco Crespo, do Centro Social e Paroquial de S. Vicente de Paulo, em Lisboa, e ilustra a generalidade das opiniões recolhidas pelo JN. Já sobre o facto de os donativos poderem ser o passe de entrada de alguns idosos, passando à frente de quem há mais tempo estava em lista de espera, todos dizem "Não senhor". "Podem dar o donativo depois de entrarem, mas não como moeda de troca".

É que a moeda de troca, garantiu anteriormente Edmundo Martinho, presidente do Instituto da Segurança Social, "é ilegal e constitui crime de burla".


O Centro Social e Paroquial do Padrão da Légua, em Matosinhos, têm uma lista de espera para a valência de lar que contabiliza 150 pessoas. O responsável por aquela IPSS's, o padre Mário Andrade, esclarece que muitas pessoas se registam em vários lares, pelo que há repetição de registos. Ou seja, em números reais a lista contabilizará cerca de 100 pessoas. O lar tem 103 utentes e cada uma comparticipa, em média, com 300 euros. A este montante acresce os 330 euros concedidos pelo Estado. "Sucede, porém, que cada utente custará, em média, cerca de 800 ", avançou, acrescentando que a instituição "vai vivendo com milagres". "Claro que aceitamos donativos", afirma, recordadando um utente que "já depois de entrar, ofereceu a sua casa".


No Centro Social e Paroquial de Alfena, os utentes do lar da 3ª idade custam, em média, por mês, mais de mil euros. Cada utente comparticipa com cerca de 300 euros, recebendo do Estado 330. A contabilidade equilibra-se com os contributos dos familiares dos utentes, esclarece o padre Carneiro Dias, responsável por aquela IPSS. "As famílias têm que se responsabilizar pelos seus idosos", argumentou. Sobre os donativos, o padre Carneiro Dias é peremptório"Não se pedem, não se exigem e jamais são um pretexto para a entrada no lar, mas se depois de o utente ter entrado - e entra se se verificarem as devidas condições - quiser dar um donativo, pois concerteza que é aceite". De qualquer forma, esclarece, os donativos são uma prática que tem decrescido.


O Centro Social e Paroquial de S. Vicente de Paulo, em Lisboa, tem um lar de 3ª idade com 120 utentes. Garante o cónego Francisco Pereira Crespo que ultrapassa o milhar o número de pessoas em lista de espera. "Se me desse dez lares iguais a este, eu lotava-os em muito pouco tempo". Cada utente, entre o montante da sua reforma e o que a família pode conceder, não dá mais do que 500 euros. E o Estado não comparticipa com os mesmos 330 euros por cabeça. As contas equilibram-se "com donativos, que são aceites, concerteza; e com a ajuda do Banco Alimentar", exemplifica. Ainda em relação aos donativos argumenta que, "se a pessoa quiser doar alguma coisa, já depois de ter entrado no lar, pois claro que é muito bem recebido".


Para o lar Mansão de S. José, em Beja, que recebe comparticipação do Estado, há 60 pessoas à espera de uma vaga. Ali, garante José Quirino, o vice-presidente, "a entrada é prioritária para quem não tem ninguém que tome conta delas ou que estejam em situação de muita dependência". Sobre a gestão, o discurso é similar a todos os outros responsáveis por IPSS's. "A ginástica é muita. Cada utente comparticipa com muito pouco, até porque as pessoas que chegam do meio rural têm reformas muito pequenas. Acresce a isto o facto de as pessoas terem que ficar com o suficiente para medicamentos, o que nem sempre acontece". Sobre os donativos, garante José Quirino "são aceites depois de a entrada ter sido concedida e não como moeda de troca".

22.04.2008 Fonte: Jornal de Notícias

 

Data de introdução: 2008-04-22



















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