As escolas deviam dar aulas de gerontologia aos jovens para explicar lhes que "ser idoso não tem de ser um fardo" e educá-los para uma velhice activa, defende uma especialista em políticas sociais, lembrando que já existem 112 idosos por cada 100 jovens.
Num país em que a esperança de vida à nascença é cada vez maior e os idosos representam 17,2 por cento da população, os mais velhos são considerados "um fardo e um custo em toda a ordem em termos de equipamentos sociais e dos hospitais", disse Stella António, investigadora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade da Universidade Técnica de Lisboa (ISCSP/UTL). "O Envelhecimento e Políticas Sociais" e a "Solidariedade Geracional e Sustentabilidade da Segurança Social" foram alguns dos temas em debate na "Conferência: Demografia e Políticas Sociais", organizada pelo Centro de Administração e Políticas Sociais do ISCSP/UTL e Associação Portuguesa de Demografia (APD).
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos a 2006, indicam que o Alentejo é a região do país mais envelhecida, com 102.042 jovens (até aos 14 anos) contra 175.061 idosos (22,9 por cento do total da população).
No lado oposto estão as regiões autónomas, onde há mais jovens que idosos: nos Açores existem 46.904 jovens e 30.198 idosos (12,4 por cento da população) e na Madeira há 44.283 crianças até aos 14 anos e 32.274 pessoas com mais de 65 anos, que perfazem 13,1 por cento do total da população madeirense.
Stella António explicou que a causa principal do envelhecimento não é tanto o aumento da esperança média de vida, mas sim a quebra da baixa da natalidade. "Se tivéssemos muitas crianças a nascer compensava os nossos idosos", afirmou a investigadora. Citando as projecções do Instituto Nacional de Estatística (INE), Stella António alertou que em 2050 existirão 238 idosos por cada 100 jovens se nada for feito. "Nós não estamos a arranjar respostas positivas para estes idosos", frisou, defendendo que é preciso "pensar e educar para a idade da reforma". "A idade da reforma tem de ser pensada hoje", advertiu, sublinhando que as pessoas têm de começar a pensar que "o velho que eu serei amanhã terei de começar a pensá-lo hoje".
Esse ensinamento deve começar nas escolas, considerou a investigadora, que tem vindo a estudar as representações sociais e concluiu que muitos jovens têm "uma imagem negativa dos idosos, considerando que eles são um custo para a sociedade". "É preciso cada vez mais nas escolas e universidades começar com conhecimentos de gerontologia [estudo do envelhecimento] para que os jovens, e não só, tenham a noção de que ser idoso não tem de ser necessariamente um custo", sustentou.
Esta visão "negativa e negra" deve-se ao facto de haver "uma população idosa cada vez maior, não haver sustentabilidade e propor-se o aumento de impostos para os poder sustentar. "A população activa é que vai sustentar a idosa e cria perspectivas negativas face aos jovens que vão entrar no mercado de trabalho", acrescentou.
Para inverter esta situação, a docente defende a "solidariedade geracional" e "políticas a pensar envelhecimento activo", nomeadamente de habitação e família. "A nossa sociedade não comporta que as pessoas saiam cada vez mais cedo do mercado de trabalho porque a esperança de vida é cada vez maior", frisou.
O presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Mário Leston Bandeira, defendeu, por seu turno, que "os poderes públicos devem fazer todos os esforços para não haver descriminação no país, nomeadamente dos imigrantes e idosos, que têm rendimentos muito baixos". "Ser velho em Portugal significa ser pobre", sublinhou Mário Leston Bandeira.
Sobre as projecções do INE, o responsável afirmou que "nada garante que até lá as coisas não venham a ser alteradas".
Mário Leston Bandeira salientou que já começaram a ser dados alguns passos, com o Governo a chamar a atenção para a natalidade. "Mas [a inversão da natalidade] não vai lá apenas com subsídios. É preciso grandes alterações para inverter a tendência da natalidade", sublinhou,
lembrando que as mulheres portuguesas são das mais activas da Europa, são descriminadas quando estão grávidas e têm pouca flexibilidade no trabalho.
27.05.2008
Data de introdução: 2008-05-31