A primeira escola para crianças autistas abre dia 29 em Almada com o objectivo de melhorar a autonomia destes meninos e prepará-los para a reintegração nas escolas regulares através de uma metodologia de tratamento reconhecida nos Estados Unidos. A ABC Real Portuguesa nasceu da vontade de um grupo de pais em criar uma escola para ajudar as crianças com o diagnóstico de autismo, disse à agência Lusa Sérgio Baptista, médico, pai de uma criança autista e um dos impulsionadores do projecto.
Para concretizar o sonho de abrir uma escola em Portugal, Sérgio Baptista, Carlos França, Albertina Marçal e uma equipa de técnicos portugueses visitaram a sede da ABC Real - uma escola fundada em 1987 para prestar serviços de Análise Comportamental Aplicada a pessoas com necessidades especiais - na Califórnia, Estados Unidos.
"A qualidade da metodologia utilizada e os resultados apresentados criaram a vontade de implementar um projecto semelhante em Portugal", refere o "site" da ABC Real Portugal.
Segundo Sérgio Baptista, a academia americana de pediatria reconhece que esta é a metodologia de intervenção mais eficaz em crianças e jovens autistas que conta vários anos de aplicação nos EUA, entre outros países, com óptimos resultados.
"Existem dados que indicam que 40 por cento das crianças que iniciaram este tratamento antes dos sete anos, ao final de dois ou três anos de intervenção são considerados com parâmetros normais", sublinhou o médico.
Segundo Sérgio Baptista, o tratamento consiste numa "intervenção intensiva, tão precoce quanto possível, com o objectivo de reintegrar estas crianças no ensino regular".
"Em Portugal já há algum trabalho feito neste área, mas este centro faz um tipo de intervenção diferente, uma intervenção comportamental", explicou à Lusa.
Os meninos ficam na escola um a dois anos, cada um é acompanhado por um técnico entre 25 a 40 horas semanais.
"O objectivo é recuperar as crianças e integrá-las nas escolas normais. Quanto mais precocemente for a intervenção melhor será os resultados", acrescentou.
Sérgio Baptista afirma que o "senão" desta intervenção é ser considerada "cara", porque o rácio é uma criança por técnico, mas os resultados compensam.
"No Estado do Texas foi feito um estudo que refere que se o Estado pagasse durante dois anos este tipo de intervenção precoce iria poupar 200 mil dólares por criança na educação", exemplificou o médico, considerando que é "um investimento porque vamos tornar úteis crianças que vão ganhar competências".
O médico alertou ainda para o aumento da incidência do autismo, avançando, citando dados norte-americanos, que em cada 160 crianças que nascem uma sofre de um espectro de autismo.
"Neste momento é mais frequente que a epilepsia, a diabetes e as neoplasias", adiantou, acrescentando que as causas para este aumento da incidência ainda não estão esclarecidas.
A primeira turma piloto será constituída por 10 crianças, cada uma acompanhada por um técnico, e irá funcionar no Colégio Campo de Flores, em Lazarim, Almada.
A instituição não tem fins lucrativos e os pais é que vão suportar os encargos com os técnicos.
A abertura da primeira Escola ABA em Portugal será assinalada simbolicamente quinta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian com uma palestra de Joseph E. Morrow, presidente da Escola ABC Real, em Sacramento, Califórnia, onde falará sobre a intervenção ABA no Autismo.
17.02.2009
Data de introdução: 2008-09-18