ASSOCIAÇÃO CULTURAL E RECREATIVA DE FORNELOS, FAFE

A infância como missão

Fornelos é uma das freguesias do anel que envolve a cidade de Fafe, no distrito de Braga, com cerca de 1500 habitantes, segundos os censos de 2001. Conhecida pelo pão-de-ló, a freguesia tem uma vida cultural e associativa dinâmica, com escuteiros, grupo desportivo, grupo coral e a Associação Cultural e Recreativa (ACR Fornelos), considerada por muitos como uma sala de visitas da região.

Fundada em 1990 pelas mãos da actual presidente, Rosa Pinheiro, em colaboração com outros benfeitores, iniciou a actividade com a abertura de uma creche num edifício adaptado e cedido gratuitamente para o efeito. O objectivo principal era dar resposta às muitas mães que trabalhavam na indústria têxtil e que não tinham onde deixar os filhos durante o dia. “A ideia nasceu de um projecto para uma candidatura política à Junta de freguesia local, um desafio que me foi lançado pelo doutor Luís Marques Mendes, em que eu disse que avançava com uma lista independente – explica Rosa Pinheiro – e nesse âmbito comprometi-me a fazer uma creche. Na altura, este era um meio com muitas operárias. De manhã eu via-as com as crianças ao colo embrulhadas em cobertores de um lado para o outro para irem levá-las a um familiar, ou a um amigo, porque não existia nenhum sítio onde as pudessem deixar”.

A creche começou com 25 crianças, mas a procura foi tanta que, em 1993, a instituição mudou-se para um edifício de raiz, abrindo também a valência de pré-escolar. “Comprámos este terreno onde estamos agora, ou melhor apenas quatro mil metros quadrados e fomos pagando aos poucos”, explica a presidente. Entretanto, a instituição candidatou-se a um projecto no âmbito do programa Iniciativa Local de Emprego (ILE), promovido pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional e que contemplava iniciativas de pequena dimensão que potenciassem a criação de postos de trabalho, cuja aprovação permitiu o crescimento das infra-estruturas sempre na área da infância.

A associação emprega actualmente 87 pessoas, entre elas uma equipa técnica especializada constituída por um médico, um psicólogo, um nutricionista e enfermeiros. A direcção, à semelhança do que acontece nas IPSS, não aufere qualquer rendimento pelo contributo que presta. “Às vezes não tenho horas de vir cá, seja meia-noite, seis da manhã, venho à hora que for preciso. Durante o dia estou cá e quando trabalhava tinha a permissão de poder vir quando fosse preciso”, explica a presidente, que é reformada da função pública. “Ninguém da direcção aufere um cêntimo. É preciso reunir e nós reunimos, não importa hora ou dia. Todos trabalhamos gratuitamente para um bem que é de todos e que está à vista de quem quiser ver”.
As instalações estão divididas por valências e por cinco edifícios, numa área de cerca de 30 mil metros quadrados, onde as cores dominantes são o verde-alface e o azul-marinho, cores escolhidas para o uniforme dos meninos que frequentam o colégio particular do primeiro e segundo ciclos. Abertos respectivamente em 2005 e 2007 vieram dar resposta aos muitos pedidos dos pais que queriam que os filhos continuassem na instituição após o ensino pré-escolar. “Os meninos chegavam à idade de entrar para o primeiro ciclo e tinham que mudar de escola e os pais pediram para que continuássemos e nós fomos fazendo – diz Rosa Pinheiro - É uma obra que está muito organizada e à qual a DREN (Direcção Regional de Educação do Norte) dá os parabéns, pelo que me sinto feliz”.

Ana Pinheiro, directora pedagógica da instituição, explica que o carácter diferenciador está essencialmente na “qualidade dos serviços prestados às crianças”. “Para ter uma ideia, neste momento temos educadores e professores a mais no quadro de pessoal para que quando haja uma falha de alguém, esta possa ser de imediato substituída, além disso, esses docentes dão apoio aos alunos com necessidades educativas”, explica a técnica.

Com nove salas de ensino pré-escolar (creche e jardim-de-infância) sendo uma delas particular, primeiro e segundo ciclos de ensino, a ACR Fornelos tem ao seu cuidado 523 crianças e para o próximo ano lectivo vai avançar com o terceiro ciclo do ensino básico. “É uma instituição que todo o dinheiro que tem, vai gerindo e investindo de modo a aumentar a qualidade dos serviços que presta. O terceiro ciclo é novamente um pedido dos pais”, explica Ana Pinheiro. “Temos o cuidado de querermos que todos os alunos, sejam tratados da mesma forma e não é por demorarem mais a chegar àquela capacidade pretendida que os vamos deixar de lado, pelo contrário, vamos trabalhando individualmente até que sejam atingidos os objectivos pretendidos”, explica a directora pedagógica. A convivência com o sector público, por vezes, não tem sido fácil, uma vez em que a instituição é encarada como concorrente das escolas do Estado. “Não vejo grandes problemas em termos de creche e jardim-de-infância, mas a nível de ensino particular sim, pois o nosso trabalho está constantemente a ser posto em causa, uma vez que somos encarados como concorrência do público, quando não é assim”, diz a técnica. “O serviço que prestamos é diferente, pois aqui ensina-se outros valores às crianças, para além do saber ler, escrever e contar, com um apoio diferenciador”. A técnica explica que as crianças são acompanhadas durante o tempo todo que passam na escola por professores ou educadores, mesmo nas horas de refeição ou nos intervalos e que estes participam das actividades dos miúdos. “Se houver um horário de intervalo, vê-nos junto deles, a brincar com eles e é isso é que deixa uma criança feliz, ou seja, saber que o adulto está ali, junto dele, para tudo”, diz Ana Pinheiro. A presidente da instituição acrescenta que apesar de algumas divergências que possam surgir com as escolas do sector público,”o carinho demonstrado pelos pais e o agradecimento que nos fazem dá-nos muita força para continuar, além de que qualquer sugestão feita pela DREN é levada em conta e procedemos de imediato às alterações necessárias para a seguir”.

A única valência da instituição fora do âmbito da infância é o lar de idosos, aberto em 2000 e que actualmente tem 44 utentes, 32 protocolados com o Instituto de Segurança Social. “A ideia do lar foi um repto lançado pela Segurança Social, atendendo às carências existentes na zona e nós abraçamos o projecto, mas a nossa vocação é a infância”, explica a presidente. O intercâmbio entre as crianças e os idosos é incentivado pela instituição com o desenvolvimento de diversas actividades em conjunto. “Quando há festas, dias especiais de calendário faz-se actividades em conjunto. Por exemplo, nós temos cá catequese e as crianças cantam na missa dos idosos, na nossa capela”. A cor é usada para dar mais vida ao espaço, com predominância de cores alegres e bonitas e uma decoração muito minuciosa. “O lar entristece-me muito, porque recebemos os idosos com vida e depois saem em quatro tábuas, como se costuma dizer, além de que à noite, por exemplo, as crianças vão para o pai e para a mãe e têm o carinho da família, mas os idosos não, apenas nos têm a nós”.

A remodelação ou reparação constante do espaço é usada como forma de manter sempre viva e actual a instituição e garantir padrões de qualidade sempre elevados. “Todos os anos, sem excepção, fazemos uma remodelação geral: pinturas, limpezas, brinquedos novos. Falece-nos um utente e o quarto é pintado. Não entra outro com o marasmo da mesma cor, renovamos tudo, nem que seja através da cor de forma a proporcionarmos sempre mais e melhor a cada ano que passa”, diz Rosa Pinheiro.

A instituição está actualmente a trabalhar para a certificação de todas as valências, através do programa Equalidade, desenvolvido por um grupo de instituições do concelho de Famalicão. “Pretendemos certificar todas as valências e neste momento, todas estão em pé de igualdade, incluindo o colégio particular”, explica a directora pedagógica. “Já tivemos auditorias internas, no âmbito do Equalidade e os nossos colaboradores estão a receber formação nesse âmbito”. Apesar da burocracia inicial, Ana Pinheiro salienta a importância da certificação para assegurar aspectos que passam despercebidos no dia-a-dia de trabalho. “No início é complicado, há muito papel, muita burocracia., mas das experiências que conheço, depois dos procedimentos estarem enraizados, as pessoas já os fazem com naturalidade e o serviço é agilizado”, diz.
Com um orçamento gerido ao cêntimo, a instituição padece do mal geral da falta de verbas, no entanto, a presidente faz questão de salientar que essa carência se deve ao facto do dinheiro estar investido em equipamentos e bens. “Eu não precisava de falar em falta de dinheiro se não investisse tanto, mas isso demonstra a boa gestão e os resultados estão à vista, pois aqui só temos o que é bom”. Com a abertura do terceiro ciclo de ensino prevista já para 2009 faz parte dos projectos da associação a curto prazo a construção de um polidesportivo. “O que temos já não tem capacidade para as crianças e com este aumento é preciso garantir todas as condições, pois recebemos meninos de todo o concelho e temos lista de espera, mesmo no privado”, explica Rosa Pinheiro.

 

Data de introdução: 2008-11-14



















editorial

VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE, AFETOS E RELAÇÕES DE INTIMIDADE (O caso das pessoas com deficiência apoiadas pelas IPSS)

Como todas as outras, a pessoa com deficiência deve poder aceder, querendo, a uma expressão e vivência da sexualidade que contribua para a sua saúde física e psicológica e para o seu sentido de realização pessoal. A CNIS...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Que as IPSS celebrem a sério o Natal
Já as avenidas e ruas das nossas cidades, vilas e aldeias se adornaram com lâmpadas de várias cores que desenham figuras alusivas à época natalícia, tornando as...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Adolf Ratzka, a poliomielite e a vida independente
Os mais novos não conhecerão, e por isso não temerão, a poliomelite, mas os da minha geração conhecem-na. Tivemos vizinhos, conhecidos e amigos que viveram toda a...