O número de adopções quase duplicou desde 2003, mas ainda é grande o desfasamento entre as crianças adoptáveis e as que são desejadas pelos putativos pais. Em Espanha, todos os candidatos têm 25 horas de aulas e exercícios
O maior entrave à adopção das crianças e jovens que estão em centros de acolhimento tutelados pelo Estado reside no facto dos candidatos desejarem adoptar menores cujo perfil não coincide com a maioria dos adoptáveis.
Um desacerto que prolonga o internamento das crianças e o tempo de espera dos futuros pais adoptivos - como o exemplo do casal que, em 2005 estava em espera já há cinco anos, pois pretendia uma menina, até aos três meses de idade e de olhos azuis.
Ontem, a abrir I Congresso Internacional da Adopção, o ministro da tutela, Vieira da Silva frisou que o número de adopções em Portugal quase que duplicou desde 2003 (ler caixa ao lado), mas também alertou para a incompatibilidade de requisitos que condena centenas de crianças a passar a infância, a adolescência e a juventude em instituições.
"A realidade da compatibilização de perfis/pretensões não será tão linear como parece e, por isso, estamos empenhados em fazer esforços para ir alterando este paradigma, gerador de angústias, especialmente para as crianças, mas também para os candidatos".
Esta mudança passa por acções de formação aos candidatos - que estão previstas começar em 2009 - para que reflectam no perfil que solicitaram - raça, idade, saúde, sem irmãos - e se preparem para as fases do processo: dos anos de espera passando pelos seis meses da pré-adopção, em que a criança já vive com os adoptantes, até à adopção decretada pelo tribunal.
Em Espanha, é apresentado aos candidatos um questionário em que se pergunta se aceitariam crianças com problemas graves de saúde (HIV, hepatite ou autista); negra ou de outra raça que não caucasiana; com mais de 10 anos; cujos pais tenham dependências de álcool ou de drogas.
"Ao perguntarmos se estão dispostos a adoptar estes tipos de crianças, estamos a dizer-lhes que são estas que precisam de uma família", explicou à tarde o catedrático em Psicologia Evolutiva e da Educação da Universidade de Sevilha, Jésus Palacios.
Na sua intervenção: "Modelo: necessidades/capacidades", o orador convidado falou das carências dos menores e o que lhes deve ser proporcionado e das capacidades que os adultos devem ter para serem adoptantes de sucesso.
Ao congresso, Palacios explicou em que consiste o programa de preparação para adopção, que existe há 10 anos e foi testado pela primeira vez na Andaluzia.
Os candidatos recebem entre 20/25 horas de formação com dois técnicos, em grupos de 15 pessoas, em sessões "muito participativas e com pouco de palestra".
Nas sessões, os formandos - que têm previamente acesso ao manual da adopção nacional ou internacional - assistem a testemunhos gravados em vídeo de pais adoptivos e de adoptados.
Aos presentes na Fundação Gulbenkian, Palacios detalhou que na primeira sessão são apresentados os perfis típicos das crianças adoptáveis e ouvidas histórias reais de adopção, sendo a segunda sessão dedicada à preparação da chegada do menor.
Na terceira sessão, debatem-se os problemas educativos, na seguinte a comunicação/revelação sobre as origens da criança e na última são analisadas as formas de lidar com menores mais velhos, com deficiência ou com desvios comportamentais.
20.11.2008 Fonte: Jornal de Notícias
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