IV CONGRESSO NACIONAL DA CNIS

Padre Lino Maia reeleito por mais três anos

O padre Lino Maia foi reeleito para mais um mandato de três anos (2009-2011) à frente da principal organização de instituições de solidariedade social do país. A lista A obteve 369 votos, 63,5 por cento do total, contra 207 da lista B encabeçada pelo padre Carlos Gonçalves. Dos 581 votos, um foi considerado nulo e quatro brancos. A eleição aconteceu a 31 de Janeiro, em Fátima, no último dia do IV Congresso Nacional da CNIS.

Momentos após o anúncio dos resultados ambos os sacerdotes concorrentes abraçaram-se, em cima do palco, em sinal de reconciliação para os próximos tempos. Lino Maia afirmou que a vitória pertenceu à equipa que com ele tem trabalhado, que se mantém quase na íntegra. “Podemos firmar a esperança, podemos confirmar a solidariedade”, assegurou.

Falando na necessidade de “mais emprego, mais justiça, mais inclusão”, o presidente reeleito disse que “os tempos são de crise, mas nada que seja superior à nossa determinação”. “A educação é a via, diria única, para o crescimento adequado e harmónico desenvolvimento”, com todos e “nunca contra ninguém”, referiu ainda. A contratação colectiva, o reforço da coesão interna e da autonomia, a cativação para o voluntariado foram apresentadas como algumas das bandeiras de luta durante os próximos três anos. A qualificação dos agentes das instituições particulares de solidariedade social é outra das propostas, pois Lino Maia considera que “a qualidade será, no curto prazo, o elemento diferenciador mais importante para a escolha” destes serviços. No seu programa eleitoral consta ainda a concretização do Observatório do Sector Solidário, “que possa ir além das estatísticas públicas”.

Num balanço aos dois dias de reunião nacional, o presidente da CNIS destacou uma ideia: a esperança. “Há gerações a vir que precisam de um futuro melhor. É importante que haja a promoção de um envolvimento geral, temos que dar as mãos para resolver a crise. Os pobres, os marginalizados, os desempregados vão aumentar este ano e esperam muito de nós”, referiu.

O sacerdote admitiu também que houve “momentos difíceis” durante o congresso e que nem sempre o debate de ideias “teve como preocupação a solidariedade”, o que a seu ver é “compreensível”. “Eu gosto imenso da pluralidade e da diversidade”, referiu.
Por sua vez, Carlos Gonçalves reforçou a ideia de que daqui para a frente todos têm que ajudar a CNIS a defender os interesses das IPSS. O candidato derrotado manifestou igualmente o “apreço pela disputa de ideias” e felicitou os dirigentes eleitos. “As ideias que a lista A apresentou são as que servem à CNIS”, disse, encerrando assim o clima de disputa eleitoral.

CNIS quer criar fundo solidário

A CNIS pretende criar a curto prazo um fundo solidário de apoio aos casos mais dramáticos resultantes da crise económica. A moção com esta proposta foi aprovada em congresso pelos delegados, por larga maioria. Segundo explicou o padre Lino Maia, o fundo será criado depois de um levantamento exaustivo pelas instituições das situações mais graves de carências e terá duas características fundamentais: transparência e celeridade. O objectivo é angariar verbas, recorrendo a parcerias com o Estado, através do mecenato, apoio empresarial ou de particulares. “Será uma conta aberta e vamos envolver os nossos dirigentes para que procurem, pelas maneiras que acharem mais oportunas, engrossar esta cadeia de solidariedade”, disse o dirigente.

O ministro do Trabalho e da Solidariedade, Vieira da Silva, garantiu a disponibilidade do Governo para discutir com a CNIS a ideia da criação de um fundo de solidariedade. Presente no encerramento do Congresso no Centro Paulo VI, o governante lembrou, no entanto, que a Segurança Social tem os seus próprios fundos de emergência social que são aplicados em situações de crise mas, frisou, “se a ideia for viável e concretizável, será possível, através da cooperação que existe, trabalhar nessa área”.

Vieira da Silva referiu também que os acordos com as instituições de solidariedade vão atingir, no ano de 2009, 150 milhões de euros, apenas para manter os equipamentos sociais. O ministro anunciou, ainda, no âmbito do apoio ao emprego, a possibilidade das organizações não governamentais serem apoiadas pelo Estado para terem, ao seu serviço, trabalhadores em situação de desemprego. Em declarações aos jornalistas após a sessão de encerramento, Vieira da Silva afirmou que vai ser dada às “entidades não lucrativas, às organizações não governamentais, onde se incluem as instituições de solidariedade, a oportunidade de poderem ter o apoio do Estado para terem ao seu serviço, durante um período de tempo, trabalhadores que estejam em situação de desemprego”. Lino Maia diz que as IPSS vão cooperar com essa medida, com “o esforço de que cada desempregado que é integrado no mercado de trabalho é menos uma vítima da crise”.

No seu discurso, o titular da pasta do Trabalho e da Solidariedade sublinhou “a dimensão e a importância social que a CNIS tem nos nossos dias”, agregando um “vastíssimo conjunto de instituições” no trabalho pela solidariedade e a coesão social. O ministro relembrou a “independência” da confederação, o que lhe permite trabalhar em diversos sectores com “autonomia”, num constante “crescimento” e com perspectivas de futuro. Realçando o papel “imprescindível” do sector social, Vieira da Silva manifestou, em nome do Executivo que representa a “vontade de alargar e reforçar essa parceria”, destacando o trabalho feito no apoio às famílias “em situação de exclusão social”.
A CNIS representa mais de 2 500 instituições particulares de solidariedade social que significam, em conjunto, 70,3 por cento das respostas sociais em Portugal asseguradas pelo chamado sector da economia social solidária.

Congressistas globalmente satisfeitos com temáticas abordadas

Num balanço ao congresso, as opiniões dos delegados transmitem um saldo positivo, apesar de ser da opinião geral que existiram vários aspectos a necessitar de um reajustamento. “Apesar de alguma confusão que se gerou no decorrer dos trabalhos, penso que globalmente foram levantados problemas e questões importantes, nomeadamente, as dificuldades que as instituições estão a passar”, referiu Manuel Almeida, da Casa de Nossa Senhora da Conceição de Portimão. “Independentemente da lista vencedora, penso que além do trabalho de casa que cada uma das listas trazia, ficaram algumas pistas no ar vinda de outros participantes que tiveram oportunidade de intervir e considero que este congresso foi uma jornada de trabalho gratificante e produtiva”, disse o dirigente.

Francisco Ervas, dirigente de uma IPSS em na cidade de Lisboa, defende que a estrutura dos trabalhos “podia mudar alguns aspectos”. Realça, no entanto, que “cada vez mais há a sensibilidade de unir forças e ultrapassar divergências que sempre existiram na metodologia de como conseguir os objectivos da CNIS”.
O congressista Florival Cardoso, da instituição “Os Sonhos”, de Setúbal, tece críticas à organização, pois “o modelo escolhido de contagem dos votos e de votação foi um modelo muito pouco conseguido, terminado três horas depois ao que estava agendado”. Sugere que também que próximos eventos semelhantes se realizem apenas ao fim-de-semana, para permitir uma maior participação. O congressista realçou de forma positiva a oportunidade para “nos reunirmos todos e falarmos de assuntos que nos interessam a todos de forma produtiva”.

 

Data de introdução: 2009-02-10




















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