Enquanto decorria a lenta votação dos congressistas em Fátima, o gabinete do primeiro-ministro José Sócrates estava em contacto com um colaborador presente do Centro Pastoral Paulo VI para decidir se o chefe do governo comparecia ou não na cerimónia de encerramento do IV Congresso da CNIS. O acaso que forneceu esta informação foi inspirador para esta crónica. O líder do executivo fazia depender a deslocação de três factores: da hora a que terminaria o processo de escolha da equipa directiva da CNIS; do número de pessoas que ficariam para assistir à cerimónia; e da comparência da comunicação social.
A decisão foi tomada pelo curso dos acontecimentos. Um atraso de mais de duas horas face ao previsto e anunciado é incomportável com a agenda de um importante político, por mais flexível que ela seja. Sem a mesma liberdade, o ministro do trabalho e da solidariedade e o secretário de estado preencheram o buraco negro da agenda com o relato radiofónico do Benfica-Rio Ave, no receptor do carro oficial.
Tendo como certo que um Congresso, de uma qualquer grande organização como a CNIS, é um momento de dois sentidos simultâneos: um interno outro externo. Para dentro é importante o encontro, o convívio, a partilha, a formação, a informação, a pugna eleitoral, a estratégia e a motivação dos associados. Para fora o importante é a visibilidade, a notoriedade, a imagem, a força e a mensagem.
O desejável é que os dois sentidos sejam as faixas de rodagem de uma auto-estrada que permitem velocidades diferentes, mas levam ao mesmo destino. No IV Congresso da CNIS não foi isso que aconteceu. No foro interno, depois de um arranque promissor, com o Presidente da República a escolher o enclave da CNIS para enunciar, num discurso feito à medida, um conjunto de críticas ao governo pela forma como projecta o edifício legislativo, sobretudo na área da família, o Congresso perdeu ritmo e ensimesmou-se. Os trabalhos foram profícuos para os dirigentes das instituições presentes, mas a comunicação social abalou para outros acontecimentos.
Depois do jantar, por ocasião do frente a frente entra as duas listas candidatas, a composição da sala revelava algumas clareiras, deixando no ar a sensação de que o formato poderá ser melhorado. O verdadeiro confronto e exposição de propostas e críticas acabou por ser feito no sábado de manhã, subvertendo as temáticas dos painéis e obrigando os dois líderes das listas a uma intervenção de apelo ao bom senso. O pior foi, sem dúvida, o penoso processo de votação. Arrastou-se infindavelmente pela tarde para desespero dos congressistas ansiosos por regressarem a casa mesmo sem saberem os resultados. A bem da transparência e da legalidade, mas fatal para a transmissão da mensagem.
O primeiro-ministro não apareceu. Muitos delegados não ficaram até ao fim. A comunicação social que resistiu para ouvir os discursos de encerramento era escassa.
Se o congresso apenas durasse um dia para potenciar a participação dos representantes das IPSS; se a votação pudesse decorrer sem interromper os trabalhos; se as cerimónias de abertura e encerramento ocorressem num tempo mediático compatível; se a animação da magna assembleia, respeitando os interesses da CNIS, coincidisse com os critérios noticiosos, então era certo que o Congresso da confederação projectaria externamente a sua importância social.
Resta saber se, para a CNIS, os dois sentidos são compatíveis sem que haja excesso de velocidade. O mais importante é chegar bem!
Data de introdução: 2009-02-13