Para terem um envelhecimento activo, os idosos não devem abdicar da capacidade de decisão e, para isso, a institucionalização não é o melhor caminho, alerta a investigadora Constança Paúl.
"É fundamental que as pessoas não abdiquem do seu direito decidir. Fazer tudo pelos idosos é extremamente negativo, porque estamos a colocá-los numa posição de passividade e desuso das suas capacidades, incentivando o declínio", afirmou à Lusa a especialista em envelhecimento activo, a propósito do Dia Mundial da Terceira Idade, que se assinala quarta-feira.
Quando os idosos são colocados em lares, deixam de ter opinião sobre as mais diversas matérias (da ementa das refeições à forma como ocupam o tempo) e isso "impede que se mantenham activos", esclarece a coordenadora da Unidade de Investigação e Formação sobre Adultos e Idosos.
Não é que a institucionalização seja um erro (e nem sequer são muitos os idosos em lares - a investigadora diz que não devem ultrapassar os quatro por cento). O problema é que os lares deviam ser "uma solução de último recurso, para níveis de incapacidade muito elevados".
"A política devia ser claramente incentivar a autonomia e a manutenção das pessoas no domicílio", sugere a professora do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto.
No entanto, fazer obras na casa de um idoso não é coisa que dê "visibilidade política ou social".
"Se uma pessoa está numa casa com más condições, para lá ficar é preciso fazer obras. Arranjar a casa de banho do sr. Francisco não dá votos a ninguém. Eu acho que era um dinheiro optimamente gasto. Mas a solução é: se não tem condições, institucionaliza-se", refere.
Existe ainda outro problema: o desgaste dos cuidadores informais. "Uma ideia que se está a tentar implementar é a das institucionalizações de alívio. Se um familiar está a cuidar de um idoso a tempo inteiro, necessita de umas férias de vez em quando. Se puder institucionalizar o idoso apenas durante o descanso, evitamos a institucionalização definitiva, porque a pessoa aguenta, aguenta, e a dada altura não aguenta mais", sublinha a professora.
Para além disso, devia existir "muito mais e muito melhor apoio domiciliário", que, actualmente, é "demasiado assistencialista e leve".
A professora admite que Portugal ainda não tem a "cobertura necessária dos serviços básicos", mas considera que está na altura de o país dar um salto qualitativo. A sugestão é avançar "numa perspectiva de optimização das condições de envelhecimento", com "trabalhos de intervenção comunitária ao nível do bem-estar e do ânimo".
Ao deixar que os outros decidam por si, os idosos vão ficando alheados do mundo - a tese de doutoramento de Constança Paúl, feita há 20 anos, comprovou isso mesmo, ao comparar idosos institucionalizados e a viver na comunidade.
"Ao entrar para as instituições, as pessoas deixavam de ter de pagar o pão, perdiam a capacidade de gerir o dinheiro e fazer trocos. Para elas, deixa de ser relevante o Governo que está no poder ou o preço da pensão, porque, no fundo, isso já não interfere directamente na sua vida", descreve.
Pelo contrário, as outras "refilam contra o Governo e o preço do pão, e estão activas".
Mesmo em relação às famílias, "há tendência para infantilizar e retirar poder de decisão aos idosos", mas "é absolutamente central não permitir que os outros tomem decisões por nós", afirma.
Fonte: Jornal de Notícias
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