OPINIÃO

As potencialidades e realidade

Há poucos dias, teve lugar, em Itália, mais um congresso subordinado ao tema “África de pé”. Políticos, jornalistas e missionários participaram nos trabalhos deste encontro internacional que já vai na oitava edição.
Uma conhecida e prestigiada revista missionária portuguesa deu relevo a mais esta jornada dedicada ao continente africano. Por ela, ficámos a saber que, ao contrário do que geralmente acontece quando se fala de África, o congresso optou por uma abordagem positiva na análise da realidade africana, como se depreende do seu próprio lema, “Africa de pé”. “É um grosseiro erro histórico, cultural e civil, considerar que a África é o continente das necessidades”, como acontece na maioria das imagens veiculadas para a opinião pública internacional. “A África é um país de pé e não da miséria”, defenderam, não sabemos se com toda a convicção, os participantes no encontro.

Proposta significativa apresentada ao congresso foi a que dizia respeito à atribuição às mulheres africanas do Prémio Nobel da Paz, em 2010. A distinção “atestaria o reconhecimento do protagonismo das mulheres africanas, e valorizaria o papel, tão significativo quanto esquecido, do protagonismo das mulheres em geral, mas, sobretudo das mulheres africanas na sociedade.”

Em África, a presença das mulheres na vida política é praticamente nula, se exceptuarmos o nome de Helen Sirlreaf, eleita para a presidência da Libéria em 2005. Já no que toca ao Nobel da Paz, o continente está representado com a queniana Maathai, que recebeu o Prémio em 2004.. Desde que a atribuição do galardão deixou de ter como motivação, única ou primária, os esforços realizados e conseguidos na resolução de conflitos, nacionais ou internacionais, então parece totalmente justificada a proposta saída do congresso “África de pé”. As mulheres, em geral e, sobretudo, as mulheres africanas, bem merecem essa distinção. Seria uma homenagem justificada ao espírito de sacrifício, de trabalho e de coragem que elas manifestam todos os dias. Se a proposta tivesse eco em Estocolmo seria, por certo, uma notícia extremamente positiva para a imagem de uma África que se quer de pé.

Mas este lema só se justificará plenamente, quando deixarmos de ler, repetidamente, títulos como este e que a própria revista colocou na mesma página: “Africanos fogem para a Ásia pelo mar”. Enquanto os africanos tiverem de fugir para sobreviver, seja para a Europa ou para a Ásia, a África não estará de pé
Por enquanto, o que se poderá dizer de África é que se trata de uma terra de enormes potencialidades, mas a realidade ainda justifica a imagem tradicional que a define como terra de necessidades. As suas potencialidades estão ainda longe de um aproveitamento suficiente. E não é só por culpa do colonialismo…


Por António José da Silva

 

Data de introdução: 2009-12-11



















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