O lugar da Adémia está inserido na freguesia de Trouxemil, limítrofe à zona urbana da cidade de Coimbra. Com cerca de 3 centenas de habitantes é o lugar mais povoado da freguesia e tem uma população que se dedica essencialmente aos serviços e também à agricultura, embora em menor escala. Em Trouxemil é possível encontrar ainda algumas pequenas indústrias de fabrico de candeeiros, tapeçarias, moagens, óleos e azeites alimentares, para além de vinhos.
É neste contexto sócio-económico que um grupo de reformados começa a pensar na criação de um lar para idosos. Em 1992 nasce o Centro de Solidariedade Social da Adémia, apenas constituído IPSS em Julho de 1998. “A intenção era fundar um lar para idosos, mas na altura a Segurança Social considerou que não faria muito sentido e então optou-se por um centro de dia”, explica Rogério Gomes, actual presidente da instituição.
O Centro nasce numa cave alugada, onde é montado um pequeno bar, uma cozinha e um escritório. O trabalho social inicia-se com apoio domiciliário a 8 pessoas e com um ATL para 20 crianças que funcionava numa sala da escola do primeiro ciclo da zona. “As pessoas que estiveram no início da instituição eram pessoas com muita fé e com muito crédito na comunidade, pois nem estatutos tínhamos e já havia pessoas a apoiar-nos monetariamente e isso não é fácil de se conseguir”, explica o presidente e acrescenta que foi essa “boa-vontade” que ajudou a instituição a crescer.
Para crescer precisavam de casa própria e o objectivo concretiza-se em 2005 com a construção da actual sede. A infra-estrutura foi construída no âmbito do PIDDAC e foi inaugurado em Setembro de 2006, tendo a instituição centralizado todos os serviços neste equipamento. “Pagámos 30 por cento do edifício e contámos com o apoio da população, quer particulares, quer empresas da zona, pelo que não tivemos que contrair qualquer empréstimo”, refere o dirigente. Rogério Gomes lembra que foram organizados diversos eventos para a angariação de fundos, desde passeios a festas. Actualmente continuam a realizar diversas actividades, mas com outros objectivos. “Hoje continuamos a fazer esse tipo de eventos, mas o objectivo é proporcionar à população meios para se divertirem e conviverem, pois as pessoas convivem cada vez menos”, diz.
O Centro vive voltado para a comunidade onde está inserido e no plano de actividades constam diversas iniciativas para a população em geral. “A nossa função não é só prestar serviços aos utentes, mas também fazer a ligação à população e preocuparmo-nos com a qualidade de vida do meio envolvente”. A aposta na formação é uma das iniciativas abertas à comunidade, com a oferta de cursos no âmbito do programa “Novas Oportunidades”, bem como formação financiada a nível europeu nas mais diversas áreas. Anualmente, o Centro também organiza passeios e excursões abertas a toda a gente. “ Queremos dinamizar a freguesia e aproximar as pessoas, fazer com que se vejam mais vezes e convivam mais. As pessoas estão cada vez mais fechadas. Saem de manhã e regressam à noite e praticamente só convivem com o seu núcleo familiar e é preciso contrariar essa situação”, explica Rogério Gomes.
A instituição preocupa-se igualmente com o fomento de actividades para os seus utentes, em especial os idosos em centro de dia. Sandra Almeida é animadora sócio-cultural na instituição há 4 anos e acredita que as utentes, no feminino porque actualmente são só mulheres, dão muito valor às actividades que lhes são proporcionadas. “É interessante desenvolver actividades para estas pessoas, pois a maioria nunca teve oportunidade de trabalhar com pincéis, com tintas, por exemplo, e dão muito mais valor do que qualquer outra faixa etária”, explica. A ginástica e a natação fazem parte do quotidiano de actividades planeadas, bem como caminhadas diárias, essas por iniciativa das próprias utentes. “Muitas delas moram sozinhas e as que moram com os filhos passavam o dia sozinhas, porque os filhos vão trabalhar, pelo que dão muito valor à frequência do centro”, refere a técnica.
Com 5 valências (creche, jardim de infância, ATL, centro de dia e apoio domiciliário), 180 utentes de cerca de 3 dezenas de funcionários, o Centro de Solidariedade vive financeiramente dos acordos de cooperação com a Segurança Social e das quotas com os associados. Mas a vontade de continuar a crescer e apostar em novos serviços mantém-se. “Ainda não perdemos a fé de construir o lar, porque não há nenhum na freguesia e faz falta”, revela o presidente da instituição. Rogério Gomes revela que a direcção aguarda o desfecho de um processo da possível implementação de um lar por uma IPSS vizinha para decidir se vão avançar com o projecto. “Não podemos desbaratar meios, se eles não avançarem, avançamos nós. Claro que gostaríamos de ter outras coisas, como uma piscina, para se poder praticar natação aqui, mas esse não é um projecto prioritário. A prioridade é o lar”, conclui o dirigente.
Texto e fotos: Milene Câmara
Data de introdução: 2010-02-13