Desemprego, salários em atraso e cessação do pagamento de horas extraordinárias são os principais motivos que explicam o aumento das famílias que recorrem actualmente à DECO, segundo a coordenadora do Gabinete de Apoio ao Sobrendividado (GAS). "Aquilo que temos verificado é o aumento do número de famílias que nos pedem ajuda", disse Natália Nunes à Lusa, sublinhando que muitos portugueses "estão a ser confrontados com a questão do desemprego", a que se juntam ainda factores como o não pagamento de comissões e horas extraordinárias, "além dos salários em atraso".
Desde o início do ano, o GAS contabilizou já 502 pedidos de ajuda por parte das famílias portuguesas, sendo que mais metade desse número - 275 - refere-se a Fevereiro passado, quando se registou um aumento de 0,2 por cento do número de inscritos nos Centros de Emprego e Formação Profissionais em Portugal.
Ainda segundo os dados daquele gabinete da associação portuguesa de defesa do consumidor, dos 275 pedidos de ajuda registados no passado mês, 104 são oriundos da zona de Lisboa, 94 solicitações do Norte e 27 de Coimbra.
Os dados da DECO indicam igualmente que, em Fevereiro passado, 36,4 por cento dos pedidos de ajuda que entraram no GAS se devem a situações de desemprego.
No segundo lugar da lista das causas dos pedidos estão as situações de doença (19,5 por cento), seguidas da deterioração das condições de laborais, com 17,5 por cento.
O agravamento do custo de crédito está quase no fim da lista dos motivos dos pedidos de ajuda, com 5,5 por cento, uma situação que a coordenadora do GAS justifica com a descida das taxas Euribor e a consequente queda das prestações do crédito à habitação.
"Mesmo antes de surgirem todas estas dificuldades, decorrentes da situação económica de Portugal, a verdade é que as famílias portuguesas tinham já taxas de esforço elevadas, com endividamento além do recomendado", declarou Natália Nunes, sublinhando que o recurso sistemático a créditos pessoais é outra das causas que explicam o endividamento das famílias portuguesas.
"Quando cá chegam, mais de 90 por cento das pessoas estão em situação de incumprimento, sobretudo devido às más decisões que tomaram", acrescentou, referindo-se ao recurso a créditos pessoais para pagar dívidas contraídas anteriormente, também estas com recurso a empréstimos bancários.
Natália Nunes adiantou à Lusa que as famílias que recorrem ao GAS da DECO têm, "em regra", mais de cinco créditos, verificando-se que no topo da lista de prioridades destes portugueses está o pagamento da habitação.
"Primeiro deixam de pagar os cartões de crédito e os créditos pessoais. Só depois é que deixam de pagar a habitação", sublinhou. "As pessoas tomam decisões erradas. Perante as dificuldades, recorrem ao crédito pessoal e depois agravam a sua situação", concluiu.
Além dos processos que deram entrada neste gabinete da DECO, foram ainda registados 1010 contactos na sede e nas delegações distribuídas pelo país. Só em Fevereiro houve 438 contactos presenciais, 373 telefónicos e 199 por escrito.
Data de introdução: 2010-03-22