A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) vai criar uma bolsa de famílias de acolhimento para cuidar provisoriamente de crianças em risco que são retiradas do seu contexto familiar. O objectivo é dar um ambiente de segurança e tranquilidade aos menores que estão em sofrimento emocional por terem sido vítimas de negligência, maus tratos ou abandono. Nesse período, e sem nunca perder o contacto com o filho, a família biológica é ajudada a organizar-se para poder recebê-lo de volta.
Os candidatos, que podem ser solteiros ou casados e ter entre 25 e 65 anos, são seleccionados e formados pelos técnicos da Misericórdia. As suas motivações e estrutura emocional são avaliadas, bem como a sua capacidade para cuidar e dar afecto à criança que virão a receber. Um requisito fundamental é que os potenciais acolhedores não sejam candidatos à adopção, para que não haja a expectativa de ficarem com a guarda definitiva da criança.
"Esta medida de protecção que pode ser decretada pelos tribunais pressupõe que os pais biológicos continuem com a tutela dos filhos. A família de acolhimento tem de estar bem consciencializada de que é uma medida transitória e que a criança vai regressar à sua família", explicou ao DN Rosa Macedo, responsável do Departamento de Acolhimento, Juventude e Infância da SCML.
E os pais a quem é retirado temporariamente o filho têm de estar disponíveis para trabalhar intensamente de forma a garantir condições de estabilidade para que este regresse a casa, acrescenta. Problemas como alcoolismo, maus tratos ou negligência têm, por isso, de ser "removíveis".
"Esta medida exige uma quadratura complexa e uma gestão de equilíbrios muito grande entre a criança, a família biológica, a de acolhimento e os técnicos sociais", explica Rosa Macedo.
Por isso, os pressupostos são claros: a família em que foi detectada a disfuncionalidade parental tem de ter capacidade de reconstrução, quem acolhe tem de estar preparado para receber, mas também para se separar da criança, e entre as duas famílias tem de haver uma interacção forte.
Esta última condição nem sempre é bem compreendida por quem se disponibiliza para ser família de acolhimento, sublinha a responsável da Misericórdia de Lisboa, que lembra que no ano passado também foi feita uma campanha de sensibilização, mas só um casal chegou ao fim do processo, podendo a qualquer momento receber um menor em sua casa. "A criança tem de visitar os pais e de manter o contacto regular com a sua família", explica Rosa Macedo, acrescentando que todas as regras ficam acordadas entre as partes e que é preciso estar preparado para "reacções adversas".
"O objectivo é que, durante este tempo, ao viver com estas pessoas, as crianças se reabilitem num novo contexto familiar, sejam saudáveis e felizes. Mas também que a família de acolhimento seja modelo de interacção com a família biológica", acrescenta, salientando, contudo, que cada caso é um caso e que todas as variáveis têm de ser bem ponderadas.
Outra exigência para ser candidato a família de acolhimento é ter uma situação económica sólida. O serviço prestado é retribuído com 330 euros mensais, e pretende-se evitar que as famílias tirem daqui uma forma de rendimento.
Fonte: Diário de Notícias
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