Portugal tem cerca de uma centena de associações de doentes, metade das quais tem "actividade regular, intensa" e com "intervenção importante" no plano político, disse à Lusa o sociólogo João Arriscado Nunes. O sociólogo está a desenvolver o projecto "Associações Europeias de Doentes na Sociedade do Conhecimento", apoiado pela Comissão Europeia.
Ao contrário de outros países europeus, como França, em que existe uma lei de constituição de associações e que é divulgada a lista destas entidades, Portugal não tem esse registo.
Um dos trabalhos do projecto foi criar uma base de dados sobre o número de associações de doentes em Portugal, através de pesquisas na Internet, listas telefónicas, imprensa e contactos com associações. "Estimamos que exista uma centena de associações de doentes em Portugal. Cerca de metade tem uma actividade regular, intensa e publicamente visível", disse o sociólogo.
O papel destas associações tem vindo a crescer em Portugal e, segundo Arriscado Nunes, estão a "ser dados passos no sentido de reconhecer, de maneira formal, as associações como parceiros importantes, como acontece noutros países". "Começam a ser cada vez mais interlocutores importantes dos médicos, investigadores e do Estado", disse, acrescentando: "Tentam dialogar com o Ministério da Saúde para assegurar certos tipos de direitos para os seus membros".
Nalguns casos, adiantou, desempenham "um conjunto de novas práticas e novas funções que não existiam dentro do Serviço Nacional de Saúde" devido a um "conhecimento mais directo e mais íntimo" da doença. "Isto não quer dizer que os serviços de saúde sejam ineficazes, significa que há certas funções que não têm condições para desenvolver. Por isso, é muito importante esta colaboração", adiantou. As associações de doentes são normalmente constituídas por doentes, familiares ou cuidadores e têm várias missões como garantir a circulação de informação sobre a doença entre os seus membros. "Podem ser organizações de entreajuda e terem algum tipo de envolvimento com investigação biomédica, como contribuir para o financiamento da investigação ou os seus membros serem voluntários para ensaios clínicos", explicou.
Permitem ainda disponibilizar recursos aos doentes. Relativamente à relação destas associações com a indústria farmacêutica, o sociólogo adiantou que, em Portugal, como nos noutros países, é "muito variada".
Há associações que fazem parcerias com a indústria sem correrem o risco de ficarem reféns das empresas: "É uma situação que não é fácil de gerir, exige muita negociação e uma certa capacidade para manter os termos da parceria", admitiu.
Existem outros casos em que as associações recusam qualquer tipo de relação com os laboratórios e outro em que as associações foram promovidas pela indústria, "mas não é o grosso das associações", acrescentou.
Data de introdução: 2010-06-09