Com 60 mil habitantes, a freguesia de Rio de Mouro, concelho de Sintra, é considerada ainda um dormitório da Grande Lisboa. Prédios altos escondem realidades sociais diversas, com crescentes focos de pobreza, principalmente na população imigrada. Em 1984, os números eram outros, mas os problemas sociais também abundavam numa comunidade caracterizada pela presença dos habitantes das ex-colónias. Os hotéis de retornados, como eram conhecidos na altura, albergavam muita gente sem qualquer tipo de qualificação profissional, o que agravava os problemas de exclusão.
Na altura, chegou à paróquia o padre Alberto Neto que tentou mobilizar a comunidade para a resolução desses problemas. “O grande mérito do padre Alberto foi o de conseguir mobilizar as pessoas e formar vários grupos na comunidade: para apoio aos pobres, outro para ajuda aos doentes, aos idosos, dinamizou grupos de jovens e mobilizou os escuteiros”, relembra Alice Silva, actual vice-presidente da instituição.
Em parceria com a Cáritas e com o Instituto de Emprego e Forma
ção Profissional, o pároco com algumas voluntárias promoveu cursos para de aprendizagem de “ofícios”, que permitissem à população que os frequentava arranjar trabalho. “As senhoras ensinaram cursos de tapeçaria de Arraiolos, rendas de Bilros, corte e costura e para isso foi necessário arranjar instalações”.
Estava assim lançado o embrião do Centro Comunitário que se veio a formalizar enquanto instituição particular de solidariedade social em 1986. De início, o trabalho social era desenvolvido no lugar da Rinchoa, numa loja emprestada para o efeito. “Era preciso arranjar 1500 contos para comprarmos o espaço. Na altura, para ajudar a angariar a quantia, fez-se uma colcha de lã aos quadrados e foi muito interessante ver as senhoras a fazer crochet nos comboios, no jardins, nas salas de espera dos consultórios para ver quem entregava mais quadrados”, recorda a dirigente. Depois de pronta, a colcha pesava 300 quilos.
A instituição foi crescendo e abriu um ATL para os filhos das senhoras que frequentavam os cursos. Num terreno, propriedade da paróquia, iniciou-se a construção das actuais instalações do centro comunitário e da própria igreja, inauguradas em 1992, por D. António Ribeiro, Cardeal Patriarca de Lisboa. “A obra continuou sob a égide do padre Delmar e com instalações suficientes nasceram a creche, o jardim-de-infância e o centro de dia para idosos”, explica Alice Silva.
Actualmente, o centro também presta serviço ao domicílio a 45 utentes da freguesia e gere um espaço municipal, onde implantou as mesmas valências que possui na casa mãe. Ao todo, a instituição, com 60 funcionários, apoia mais de 300 utentes, sendo que 75 por cento são oriundos de famílias carenciadas. Para ajudar a contornar o problema, o Centro recebe apoio do Banco Alimentar.
Na comemoração dos 25 anos, além de recordar o passado, os olhos estavam essencialmente voltados para o futuro. “Actualmente estamos num processo de certificação de qualidade e preparamo-nos para ser uma entidade formadora devidamente certificada”, afirma a dirigente social. Mas as ideias para o futuro não se ficam por aí e o sonho a concretizar é o da criação da valência de lar. “Muitos dos nossos idosos são muito dependentes e muitos deles não têm mais ninguém a não ser a instituição, por isso gostávamos de implementar a valência de lar”, refere Alice Silva.
Sem data para concretizar, fica apenas a promessa de continuar a desenvolver um trabalho de “qualidade” e sempre ao serviço de quem mais precisa”.
Texto e fotos: Milene Câmara
Data de introdução: 2010-08-05