VIOLÊNCIA

152 avós agredidos em cinco anos

Maria foi bater à porta da sede da APAV, em Lisboa, há cerca de um ano. "Quero que ajudem o meu neto. Ele não está bem, mas eu não quero apresentar queixa na polícia". A idosa, de 71 anos, tinha hematomas no pescoço e nos braços. Dias antes, Maria tinha sido agredida pelo neto, de 19 anos, quando este lhe tentava extorquir dinheiro. João era toxicodependente e era através da avó que tentava arranjar dinheiro para sustentar o vício.

No ano de 2009, a APAV recebeu 22 queixas de agressões de netos a avós. No total - de 2004 a 2009 -, foram 152 as denúncias recebidas pela associação de apoio à vítima. Sendo que foi no ano de 2007 que se registou um "pico" na estatística, com 27 casos conhecidos. "Mas estes números ficam muito aquém da realidade", explica Daniel Cotrim, da APAV, em declarações ao DN. "Estes idosos têm medo de ficar sozinhos e também de prejudicar os familiares, e, por isso, a larga maioria não diz nada." As denúncias, essas, partem de vizinhos e de familiares mais afastados, e que não vivem com as vítimas nem com os agressores.

Na maioria dos casos, estamos a falar de vítimas com mais de 65 anos, em que os netos agressores são homens com mais de 18 anos. Uma realidade que é "transversal" a todo o País e que também já conhece alguns casos cujas famílias são da classe média alta ou mesmo da alta.

Como o caso de Maria, filha de professores, na zona de Lisboa, sem quaisquer problemas financeiros e que vive sozinha há uns anos, desde que ficou viúva. "Chegamos a sugerir para a senhora mudar a fechadura para o neto não ter acesso à sua casa, mas ela não quis", explica Daniel Cotrim.

Da APAV, Maria queria, sobretudo, que dessem apoio psicológico ao neto e falassem com os seus filhos, que "ignoravam o problema do filho adolescente e muitas vezes se sentiam aliviados porque, ao menos, não eram eles o alvo das agressões de João", explica Daniel Cotrim. "Estas vítimas são muito vulneráveis, estão isoladas, e muitas vezes desculpam os agressores porque estão dependentes deles".

Em muitos casos, estes idosos são tratados como " animais de cativeiro" e são agredidos, na maioria das vezes, "por pura negligência, falta de paciência ou mesmo por interesses materiais dos futuros sucessores", explica o técnico da APAV.

"Os filhos e netos querem apropriar-se dos bens dos idosos e, por isso, exercem força sobre eles porque são mais fortes e menos vulneráveis", conclui Daniel Cotrim. As agressões passam por pontapés, estaladas e apertos no pescoço.

Fonte: Diário de Notícias

 

Data de introdução: 2010-08-25



















editorial

VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE, AFETOS E RELAÇÕES DE INTIMIDADE

As questões da sexualidade e das relações de intimidade das pessoas mais velhas nas instituições são complexas, multidimensionais e apresentam desafios para os utentes, para as instituições, para os trabalhadores e para as...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Orçamento Geral do Estado – Alguns pressupostos morais
Na agenda política do nosso país, nas últimas semanas, para além dos problemas com acesso a cuidados urgentes de saúde, muito se tem falado da elaboração do...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

O estatuto de cuidador informal necessita de ser revisto
Os cuidadores informais com estatuto reconhecido eram menos de 15 000 em julho, segundo os dados do Instituto de Segurança Social[1]. Destes, 61% eram considerados cuidadores principais e apenas 58%...