A quantidade de informações que nos chegam de todo lado a respeito da forma como multidões de pessoas humanas são tratadas na sua dignidade, vendo-se escorraçadas, maltratadas, substituídas por máquinas que não fazem greves nem reivindicam regalias sociais, recomenda que nos interroguemos sobre esta progressiva “desumanização do Mundo”!
Estão ainda nas nossa retinas, como fenómeno mais recente, as centenas de ciganos escorraçados da França, começando já a ouvirem-se vozes de outros países de sangue “puro” espalhados por esta Europa fora a aconselhar iguais medidas de expulsão de muita gente que, enquanto emigrante foi sendo útil, mas agora deverá ser devolvida à procedência, qual mercadoria que já não interessa!
É assustador verificar que a Europa, apesar de abalada por sucessivas crises financeiras, ainda queira manter a fachada de grande Império que se quer dar ao luxo de se organizar em regime de “condomínio fechado”, rodeando-se de arame farpado e protegendo-se com cães de raça para não se sentir incomodada por quem não tem “bom aspecto”!
A ordem económica e social vigente, no mundo laboral, vai escorraçando milhares de cidadãos para o desemprego!
Muitas das políticas aplicadas, por razões de eficácia económica e gestão financeira, vão, nuns casos, escorraçando as pessoas com menos possibilidades do interior das cidades para as periferias urbanas e, noutros, a gente do interior, à medida que vai sendo espoliada de serviços públicos de educação, saúde, oportunidades de trabalho, respostas sociais capazes de garantir condições mínimas de uma elementar cidadania, acaba por decidir um abandono progressivo a caminho de novas paragens, num desenraizamento humano doloroso que inevitavelmente deixará marcas de mágoa e sofrimento!
Há gente que começa a chamar a atenção para um “pequeno” pormenor: à medida que o homem vai abandonando, por decisão própria ou por se sentir escorraçado, as suas terras e as suas casas, os incêndios vão tomando conta do que o homem abandonou!
A falta de condições de vida em muitas cidades, que leva as pessoas a deixar de sair à rua, por insegurança e inexistência de animação cultural e de espaços de lazer e convivência, leva a que os “chamados marginais” vão ocupando, progressivamente, os locais que o homem abandona…
A gente sabe que a coisa não é assim tão fácil como se pensa e que há outras coordenadas no meio disto tudo que sustentam determinadas políticas…porém, feitas as contas, o saldo de políticas que escorraçam o Homem dos lugares a que tem direito, como cidadão do Mundo, é e será cada vez mais negativo!
Pe. José Maia
Data de introdução: 2010-09-08