Quis o destino que me cruzasse com um programa televisivo da RTPN, precisamente no dia 1 deste Ano Internacional do Voluntariado, sobre a temática dos sem-abrigo e, no qual, entre outros protagonistas de uma longa reportagem sobre a matéria, apareceu o Dr. Edmundo Martinho, Presidente do Instituo de Segurança Social, pessoa altamente bem colocada para falar sobre “problemáticas sociais”, dadas as funções que exerce, ao mais alto nível do Ministério da Segurança Social!
Foi precisamente o desabafo deste alto dirigente da nossa Administração Pública que me sugeriu esta crónica!
Que disse então ele? Confrontado com o drama dos sem-abrigo, sobretudo nas nossas cidades, confessou-se diante das câmaras televisões, afirmando, mais ou menos isto: “não compreendo como, existindo há tantos anos este problema social, sendo conhecido e enfrentado por tantos voluntários e Instituições Públicas e Privadas…não sejamos capazes de o resolver”!
Voltando ao inspirador desta crónica, o Dr. Edmundo Martinho: a sua mensagem para se ultrapassar este impasse foi esta: maior partilha de informação, mis articulação na acção!
Certamente que uma melhor articulação entre todos os que trabalham com os mesmos destinatários é uma questão prévia, um acto de elementar inteligência e bom senso que, efectivamente, nem sempre acontecem!
Porém…esta reflexão talvez aconselhe a levarmos mais longe e a analisarmos numa outra perspectiva todas as POLÍTICAS SOCIAIS e a filosofia de intervenção política que as tem sustentado!
Quanto mais nos debruçamos sobre um conjunto de questões sociais que, apesar do muito dinheiro que sobre elas se vai espalhando mas, em muitos casos, não se traduz num retorno proporcional ao investimento feito, fica-nos, muitas vezes, na boca, um sabor amargo pela nossa impotência em ver repercutidas em resultados de mudança as avultadas quantias financeiras e recursos humanos investidos! Acontece a todos…e, por isso, talvez tenha chegado o momento de repensarmos muitas das nossas políticas sociais, valorizando muito mais, e de forma inteligente, corajosa e consistente, o que está a montante de muitos destes problemas, ou seja: desmontar o modelo de desenvolvimento económico e social em que assenta o nosso chamado Estado Social, buscando, por um lado, uma fórmula mágica que possa atenuar drasticamente as desigualdades sociais que são geradoras de pobreza e exclusões sociais e, por outro, desistindo da” tentação permanente do centralismo” na condução das políticas sociais, apostando mais na PROXIMIDADE e num VOLUNTARIADO que não se sinta permanentemente atrofiado por sofisticadas formas de controle estatal que desmotivam quem se quer sentir livre no exercício da sua cidadania!
Pe. José Maia
Data de introdução: 2011-01-16