CRESCERSER

Investimento e responsabilidade social

Perante uma plateia atenta, mas pouco interventiva, o workshop que ontem decorreu na Quinta da Bonjóia, no Porto, subordinado ao tema «Apoiar com Criatividade? Ajudar é um investimento», levantou um pouco do véu sobre a relação dos que actuam sem fins lucrativos e dos que têm no lucro o objectivo primeiro. O que é? Como pode ser? Como deve ser essa relação? A reflexão foi suscitada por uma breve e bastante elucidativa apresentação de Raquel Campos Franco, da Universidade Católica e directora da novíssima revista «Impulso Positivo» (“que pretende dar visibilidade ao Terceiro Sector”, como se pode ler no editorial de apresentação).

O encontro, promovido pela CrescerSer, uma IPSS que acolhe, cuida e (tenta) reintegra(r) crianças e jovens em risco, apoiando ainda as famílias, tinha como propósito, como explicou ao SOLIDARIEDADE, o presidente da CrescerSer - Associação Portuguesa para o Direito dos Menores e da Família, Armando Leandro, “dar um conhecimento adequado, realista e verdadeiro” da instituição que dirige e, por outro lado, provocar o diálogo e a reflexão entre instituições sem fins lucrativos e empresas, “que estão sensibilizadas para os problemas sociais” e que, “com sentido de solidariedade e responsabilidade social, os compreendam e os integrem nos seus objectivos e na actuação apoiem os projectos das instituições” e, assim, juntos procurem as melhores formas de “desenvolvimento social, cultural, ético e familiar das famílias e da sociedade”.

Lançados alguns dados para cima da mesa por Raquel Campos Franco, o primeiro painel de convidados, sob o lema, «Apoios e parcerias da CrescerSer», teve como oradores Sónia Rocha, (em representação da Santa Casa da Misericórdia do Porto), Raquel Castello Branco (Fundação Porto Social), Rui Leite Castro (Banco Alimentar do Porto) e Carlos Azevedo (UDIPSS), que deram o testemunho sobre as realidades das suas instituições e de que forma se relacionam com a instituição promotora do evento, que dos sete centros de acolhimento pelo País tem dois na Invicta para jovens dos 12 aos 18 anos.
Após um breve intervalo, o tema em reflexão já era «Formas inovadoras de responsabilidade social», no qual Rui Moreira (Associação Comercial do Porto), José Sá Machado (AICCOPN) fizeram uma intervenção mais teórica sobre responsabilidade social, enquanto Luís Vasconcelos (Acembex/RAR) e Isabel Borgas (Sonaecom) explanaram que tipo de intervenção solidária as respectivas empresas têm na comunidade e de que forma apoiam o Terceiro Sector.

No final da sessão, Laborinho Lúcio, presidente da Mesa da Assembleia da CrescerSer, comentou as intervenções, numa espécie de balanço dos, como o próprio designou, “conceitos de uns e preconceitos de outros”.
“As instituições ainda olham as empresas de certa forma de uma posição de inferioridade”, explicou, acrescentando: “E as empresas assumindo-se, dando mesmo um passo em frente, ainda se sentem inferiorizadas com a questão do lucro”.
De facto, «sem fins lucrativos» e «missão: lucro!» parecem dois conceitos paradoxais, mas muitas situações da realidade desmentem-no e demonstram que juntos o futuro pode ser melhor… para todos.
Falou-se de filantropia estratégica, um conceito que as empresas parecem estar a (querer) abraçar, e não apenas as grandes, algo que Laborinho Lúcio considerou ser “fazer caminho, que ainda é curto, mas adequado”.

Dizendo sair daquele encontro “animado” por tudo o que ouviu, o antigo ministro da Justiça trouxe à discussão os alvos de toda a reflexão, diálogo e acção dos presentes: os pobres, os excluídos, os idosos, as crianças e os jovens em risco, ou seja, os mais desfavorecidos.
“Falou-se de responsabilidade e de solidariedade, mas temos também que falar de dignidade”, realçou, continuando: “Estamos aqui por uma questão de dignidade social. Não é a satisfação das necessidades que devem canalizar os nossos esforços, mas o reconhecimento do outro enquanto sujeito. É o desafio da igualdade”.

A fechar, antes de o presidente da CrescerSer, Armando Leandro, encerrar os trabalhos, Laborinho Lúcio ainda deixou um derradeiro desafio: “Há uma responsabilidade que cabe a cada um de nós e agora há que sensibilizar os outros. Não estamos aqui para proteger os necessitados, mas para respeitar os nossos concidadãos e garantir os seus direitos”.

Logo na abertura, Raquel Campos Franco abordou alguns exemplos de solidariedade e de filantropia que ocorreram ao longo da história e exibiu algumas frases lapidares… que fazem pensar. O SOLIDARIEDADE escolhe a de Andrew Carnegie (1835-1919), um homem que no seu tempo foi um dos mais ricos do Mundo: “Quem morre rico, morre em desgraça”.

P.V.O.

 

Data de introdução: 2011-02-17



















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